Após dias de "fritura", o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quarta-feira, 20, a demissão da atriz Regina Duarte do cargo de secretária de Cultura. Segundo postagem nas redes sociais, ela vai assumir o comando da Cinemateca Brasileira, que fica em São Paulo. O nome do substituto ainda não foi confirmado. A expectativa é que o ator Mário Frias, apoiador de Bolsonaro, fique com o cargo.
"Regina Duarte relatou que sente falta de sua família, mas para que ela possa continuar contribuindo com o Governo e a Cultura Brasileira assumirá, em alguns dias, a Cinemateca em SP. Nos próximos dias, durante a transição, será mostrado o trabalho já realizado nos últimos 60 dias", postou Bolsonaro.
A ida de Regina para a Cinemateca foi costurada no Palácio do Planalto para ser uma “saída honrosa” da atriz da Secretaria de Cultura. Regina foi comunicada pelo presidente de sua demissão do cargo em um café da manhã no Alvorada.Os dois juntos gravaram um vídeo justificando que a saída dela da Secretaria de Cultura não era por “fritura”, mas por que ela queria ficar com a família.
“Olha, pessoal, eu vim aqui perguntar para o presidente se ele realmente está me fritando, que eu estou lendo na imprensa que eu não acredito mais. De qualquer forma, eu queria que ele me dissesse pessoalmente. O senhor está fritando, presidente?”, perguntou a atriz.
O presidente, por sua vez, acusou a imprensa de que querer desestabilizar o governo. “Regina, toda semana tem um ou dois ministros que, segundo a mídia, estão sendo fritados. O objetivo é sempre desestabilizar a gente e tentar jogar o governo no chão. Não vão conseguir. Jamais eu fritar você.” Ao anunciar a mudança, pouco mais de dois meses após assumir a secretaria de Cultura, Regina diz que assumir a Cinemateca é um "sonho de qualquer pessoa de comunicação, audiovisual, cinema e teatro".Na prática, ela assumirá um posto em que será subordinada ao seu substituto na secretaria.
"Ficar ali secretariando o governo dentro da Cultura na Cinemateca. Tem presente melhor que esse? Pode ter um presente melhor que esse? Obrigado presidente", diz a atriz. O presidente afirma que quer o bem da atriz e que ela “vai ser mais feliz e produzir mais” trabalhando na Cinemateca perto de seu apartamento em São Paulo”. Ele diz ainda no vídeo querer que a agora ex-secretária o acompanhe em todas suas idas à capital paulista. “Então é um presente duplo. É a Cinemateca e estar próximo da minha família que algo que estou desejando muito”, disse Regina que termina o vídeo abraça a Bolsonaro.
O anúncio desta quarta-feira, 20, ocorreu um dia após o presidente compartilhar nas redes sociais um vídeo em que o ator Mário Frias fala sobre a possibilidade de assumir o cargo da colega de profissão.
O vídeo publicado nesta terça pelo presidenteé uma entrevista de Frias à emissora CNN Brasil, exibida no dia 6 de maio, em que o ator diz torcer por Regina Duarte, mas que está à disposição de Bolsonaro. “Para o Jair, o que ele precisar estou aqui”, afirma o ator.
Na gravação, publicada com cortes, Frias defende o presidente e diz que Bolsonaro é “preocupado com o povo” e “defende os três Poderes”.
A entrevista com o ator ocorreu no mesmo dia em que Regina havia se reunido com Bolsonaro no Palácio do Planalto. Na ocasião, o presidente havia demonstrado insatisfação pública com a atuação da secretária e renomeado o maestro Dante Mantoavani no comando da Funarte. O maestro havia sido afastado do cargo logo após a posse da nova secretária. No fim do dia, a nomeação foi suspensa, mas o gesto foi visto no governo como um processo de “fritura” de Regina.
Depois do encontro, em outro gesto considerado como parte do processo de "fritura", o número 2 da pasta, o secretário especial adjunto, Pedro José Vilar Godoy Horta, foi exonerado do cargo. A demissão, publicada em edição extra do Diário Oficial de sexta-feira, 15, levou a assinatura do ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto.
Como revelou o Estadão, Bolsonaro estava incomodado com a ausência de Regina em Brasília e acredita que a secretária é suscetível ao setor “todo de esquerda”. Já a secretária se sente desprestigiada e pressionada pela “ala ideológica” do governo.
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