Bomba de Hiroshima: tragédia gerou diversas obras de forte sentido crítico

Há 75 anos, a primeira bomba atômica americana explodiu no Japão. Confira como artistas de todas as áreas e de todos os países refletiram sobre o acontecimento

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Foto do author Ubiratan Brasil
Cena do filme 'Os Filhos de Hiroshima' (1952), de Kaneto Shindo. Foto: Kindai Eiga Kyokai

No dia 6 de agosto de 1945, uma segunda-feira, exatamente às 8h15 da manhã, hora do Japão, uma bomba atômica lançada pelos americanos explodiu na cidade de Hiroshima. Era a primeira vez na história da humanidade que se utilizava uma arma tão letal, matando instantaneamente por volta de 80 mil pessoas. Ao final daquele ano, ferimentos e a radiação causaram um total de 90 a 140 mil vítimas. Aproximadamente 69% das construções da cidade foram completamente destruídas e cerca de 7%, severamente danificadas.

Ao longo dos anos, artistas de todas as áreas e de todos os países refletiram sobre a tragédia, criando obras de forte sentido crítico. Veja aqui cinco exemplos significativos:

Capa do disco 'Secos & Molhados', de 1973. Foto: Warner

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Rosa de Hiroshima

Vinicius de Moraes compôs o poema Rosa de Hiroshima, em 1954, que logo se tornou um clássico. O título faz uma referência metafórica à nuvem de fumaça que se formou logo depois da explosão da bomba nuclear na cidade japonesa. O poema foi musicado por Gerson Conrad e lançado como faixa do primeiro disco da banda Secos & Molhados, em 1973, grande sucesso na voz de Ney Matogrosso

Os Filhos de Hiroshima

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O cineasta japonês Kaneto Shindo alcançou sucesso mundial com seu terceiro filme, Os Filhos de Hiroshima, dirigido em 1952. Ali, ele ousou ao traduzir em imagens o horror da explosão da primeira bomba atômica no mundo. O cineasta não explora a catástrofe, mas prefere se concentrar nos personagens. Assim, a jovem professora Takakao (Nobuko Otowa) é testemunha do que restou de Hiroshima. Mesmo em processo de reconstrução (a bomba explodira sete anos antes), a cidade já é uma entidade fantasma aos olhos da mulher, que se encontra com um cego hibakusha (sobrevivente do holocausto nuclear). Uma cena tornou-se particularmente chocante - a que registra o olhar preocupado da professora para o céu, quando passa um avião. 

Os Sete Afluentes do Rio Ota

Caco Ciocler e Marjorie Estiano na cena 'Madame Butterflay', na nova montagem da peça 'Os Sete Afluentes do Rio Ota', de Robert Lepage e direção de Monique Gardenberg. Foto: Michele Mifano

A peça Os Sete Afluentes do Rio Ota é um épico teatral - ao longo de 5h50 de duração, o espetáculo apresenta uma jornada iniciada no final da 2.ª Guerra, quando Luke, um soldado americano, retorna a Hiroshima, em 1945, para fazer algumas fotos dos sobreviventes. Tais imagens comporão um álbum que fará uma viagem no tempo, até chegar ao ano 2000, quando será um importante objeto durante uma trágica cena familiar. A peça nasceu a partir de um espanto de seu criador, o canadense Robert Lepage, em sua primeira viagem àquela cidade japonesa: ele esperava encontrar muitos vestígios de destruição provocada pela bomba atômica. Mas, em vez de se deparar com uma comunidade marcada pela dor, surpreendeu-se com um lugar marcado pelo renascimento. Para dar conta desse momento de vitalidade da história humana, Lepage decidiu criar um espetáculo marcado pela produção colaborativa, ou seja, uniu diversos gêneros artísticos para montar uma saga que viajasse no tempo e no espaço. Assim, o espectador é brindado com uma narrativa que utiliza recursos dos teatros de sombra e nô, da dança, do canto lírico e do popular, além de imagens cinematográficas. Além disso, há uma profusão de idiomas, com os atores falando, além do português, em francês, alemão e japonês, o que necessita o uso de legendas em algumas cenas. Lepage iniciou os ensaios em janeiro de 1994, no Canadá, e a peça só foi estrear mundialmente dois anos depois, em Nova York. O sucesso foi estrondoso. No Brasil, foi montada duas vezes por Monique Gardenberg: em 2002 e em 2019

Capa do livro 'Hiroshima'(Companhia das Letras), de John Hersey. Foto: Companhia das Letras

Hiroshima

O livro Hiroshima (Companhia das Letras), de John Hersey, é uma das mais importantes reportagens da século 20 - um retrato de seis sobreviventes da bomba atômica escrito um ano depois do ataque, quando Hersey visitou Hiroshima. O autor reconstitui por meio dos depoimentos a explosão. Quarenta anos depois, Hersey voltou a Hiroshima e escreveu o último capítulo da história dos atingidos pelos efeitos da bomba, os hibakushas. O texto ainda hoje incomoda - direto, seco, concentrado nos relatos e nas observações visuais do autor, reconstituiu com dolorosa perfeição a tragédia sofrida pela população. Sua cobertura ocupou uma edição inteira da revista The New Yorker e os acontecimentos ganharam uma nova amplitude depois da publicação da narrativa.

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Cena do filme 'Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais, com Emmanuelle Riva, Eiji Okada, Bernard Fresson. Foto: Zeta Filmes

Hiroshima, Meu Amor

Em 1959, o cineasta francês Alain Resnais convidou a escritora Marguerite Duras para escrever o roteiro do filme Hiroshima, Meu Amor. Duras queria fazer cinema. Resnais incentiva-a a fazer literatura. O longa é um marco da tendência que pode ser chamada de cinema literário. O resultado é uma obra clássica que rememora os traumas da 2ª Guerra por meio da história de um casal de amantes, ela francesa, ele japonês.