O tão esperado 50 Tons de Cinza é um blefe. Mas é possível que seu tom anódino não decepcione quem espera com ansiedade essa adaptação da série best-seller de E.L. James. Os três livros (50 Tons de Cinza, 50 Tons Mais Escuros, 50 Tons de Liberdade) venderam 100 milhões de cópias no mundo todo. Sua autora é fascinada pela série Crepúsculo e deu a tacada de mestre investindo na sexualidade soft com um verniz de transgressão. O filme da diretora Sam Taylor-Johnson é um fiel decalque dessa opção da autora. E não teria por que inventar, segundo aquele preceito que não se mexe em time vencedor. De modo que temos em cena o relacionamento entre Anastasia Steele (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Dorman). Ela, uma jovem estudante de literatura inglesa, de 21 anos. Ele, um poderoso empresário, um dono do mundo. Eles se conhecem quando ela substitui uma colega na entrevista a ser feita com o milionário para o jornal da faculdade. Nasce daí o relacionamento, que deveria ser tortuoso, mas que o filme se preocupa em manter sempre nos eixos, em território seguro e confortável.
A tática é sempre acenar com uma aventura sexual transgressora, porque sadomasoquista, mas manter sempre limites seguros para não afastar o público. Este se sente como se participasse de uma aventura que produza frisson mas nenhum perigo real. Algo como andar na montanha-russa de um parque de diversões.
Não por acaso, o filme tem sido chamado nos Estados Unidos de mommy porn - pornô para mamães bem-comportadas. Isso envolve a escolha de imagens de "bom gosto", em ambientes fashion, passeios de helicóptero e em carrões milionários, apartamentos de sonhos e hotéis de alto luxo. As cenas são acompanhadas invariavelmente de música de elevador, aquela que se pode escutar sem de fato ouvir. Há preocupação na elegância dos movimentos de câmera, sem falar, claro, na beleza neutra dos protagonistas. Alguns diálogos são inacreditáveis - no pior sentido do termo. Transforma-se em comédia involuntária. Com esse sabor de picolé de chuchu,
50 Tons de Cinza
parece, desde já, forte candidato a pior filme do ano - e ainda estamos longe de terminar o primeiro semestre.
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