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Opinião|‘A Liga’, filme em alta na Netflix, é só um genérico de ‘Missão Impossível’? Vale a pena assistir?

Halle Berry e Mark Wahlberg protagonizam este filme de ação que combina elementos da franquia de Tom Cruise e conceito bobo que bem poderia ter sido criado por inteligência artificial

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Por Ben Kenigsberg (The New York Times)

A série Missão: Impossível desapareceu em ação este ano, mas isso não é motivo para você se contentar com A Liga, da Netflix, uma deprimente ilustração daquele dito popular: às vezes é melhor não comprar – nem assistir a – genéricos. O filme combina um catálogo de elementos da franquia de Tom Cruise (agentes supersecretos, locais exóticos, acrobacias) com um conceito tão bobo que poderia muito bem ter sido criado por inteligência artificial: e se – olha só – os protagonistas fossem ex-namorados de colégio?

A Liga, dirigido por Julian Farino, começa em Trieste, na Itália, com uma flagrante recauchutagem do primeiro episódio de M:I: os agentes estão em missão para pegar um traidor com um HD roubado. De repente, a violência irrompe e quase toda a equipe é morta. Uma sobrevivente do grupo, Roxanne (Halle Berry), fala com seu chefe, Tom (J.K. Simmons), sobre a quem podem recorrer: “Se ele ainda for parecido com o cara de que eu me lembro”, ela diz, “é exatamente o que precisamos”.

Halle Berry estrela 'A Liga', da Netflix Foto: Divulgação: Netflix; Laura Radford/AP

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“Ele”, no caso, é seu ex-namorado de escola, Mike (Mark Wahlberg), agora trabalhador da construção civil em Nova Jersey que está saindo com a antiga professora de inglês da sétima série (Dana Delany). Roxanne não o vê há 25 anos quando se aproxima dele num bar. Suas credenciais são que ele é, nas palavras de Roxanne, “um zé-ninguém”: devido à natureza das informações de inteligência roubadas, ela e Tom precisam de alguém que não tenha deixado praticamente nenhum rastro cívico.

Além disso, a equipe de espionagem deles, a Liga – tão secreta que metade da comunidade de inteligência não sabe que ela existe, e a outra metade se arrepende de ter descoberto, Roxanne diz, como se estivesse recitando um slogan – prefere homens da classe operária a executivos formados nas melhores universidades do país. Eles são, na teoria, muito mais divertidos do que a CIA (Stephen Campbell Moore aparece como um agente engomadinho). Mike era uma estrela do esporte e está acostumado a passar o dia inteiro trabalhando em prédios altos. Com esse histórico, uma montagem de treinamento de três minutos e meio deve ser suficiente, certo?

Os outros membros da Liga são definidos basicamente por suas especialidades: força física (Adewale Akinnuoye-Agbaje), psicologia (Alice Lee), computação (Jackie Earle Haley). E o filme faz algumas tentativas fracas de humor tipo peixe fora d’água. (Mike nunca saiu da sua cidade, mas será que ele realmente não sabe que os britânicos dirigem do outro lado da pista?)

O lance é que A Liga, além de ser um filme de ação, também quer ser uma espécie de comédia sobre reencontro de Roxanne e Mike. Só que os roteiristas, Joe Barton e David Guggenheim, não trouxeram muita leveza ao relacionamento. Tampouco aplicaram muita engenhosidade aos grandes momentos. Invadir uma casa cheia de mercenários do Leste Europeu para roubar... um celular? E, durante uma cena de confronto no meio de uma praça na Croácia, os cineastas mal reconhecem a presença de transeuntes. Isso diz algo sobre a falta de imaginação do filme.

Há uma boa cena de ação em que Mike tem a oportunidade de demonstrar suas habilidades de andar pela viga de um prédio em construção, e o responsável pelos carros do filme combinou bem as cores dos veículos na perseguição do clímax (roxo, laranja, azul), de modo que é fácil saber quem está onde. Difícil mesmo é se importar com o que está acontecendo. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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Opinião por Ben Kenigsberg
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