Os primeiros 20 minutos de A Maldição de Cinderela, em cartaz nos cinemas desde quinta, 20, dão a sensação de que as coisas vão correr quase que normalmente: Cinderela (Kelly Rian Sanson) está indefesa, na casa da madrasta, e vê uma oportunidade de mudar de vida ao ser elogiada pelo príncipe (Sam Barrett, divertidíssimo) que está passando por ali. Será?
Logo a diretora Louisa Warren, com roteiro de Harry Boxley e Charles Perrault, mostra que as coisas não são bem assim. Bebendo da fonte de Ursinho Pooh: Sangue e Mel, o longa-metragem coloca essa personagem infantil em um mundo cheio de violência, sangue e tripas. O príncipe mente para Cinderela – ele quer, na verdade, transformá-la em chacota.
O sapatinho de cristal vira uma arma fatal. As filhas da madrasta se tornam o verdadeiro saco de pancada aqui, enquanto a Fada Madrinha, a melhor coisa do filme, é um ser bizarro com um vestido azul roto. É um filme trash, de baixíssimo orçamento, que ri de si próprio.
“A empresa para a qual eu trabalho estava explorando histórias de domínio público. Eu já havia dirigido muitos filmes para essa empresa e, basicamente, recebi uma ligação onde me perguntaram se eu gostaria de dirigir um filme da Cinderela com uma reviravolta na história original. E eu disse sim, isso é incrível”, diz a diretora, ao Estadão, com poucas palavras. Ela e Kelly Rian Sanson vieram ao Brasil para divulgar o filme.
Do lado de Kelly, o filme é a realização de um sonho em interpretar a personagem, geralmente tão lembrada pelo filme da Disney – que, vale lembrar, não está em domínio público, tendo que manter a inspiração para o filme apenas no conto de origem. “Estou honrada por interpretar um personagem tão icônico”, conta a atriz. “Fiquei muito animada em interpretá-la e ser uma personagem tão desequilibrada. Foi muito divertido.”
O cinema trash de Cinderela
Nos tons sangrentos do filme, é difícil não traçar alguns paralelos. Cinderela deixa de ser a gata borralheira de sempre para ter um tom mais forte de vingança – é quase Carrie, a Estranha, querendo sanar a vergonha com mortes. Ainda tem algo muito evidente de Hellraiser, com criaturas deformadas que perseguem aqueles que o invocam pro lado de cá.
“Me inspirei em Carrie, obviamente. É um filme que adoro assistir, com todas aquelas mortes criativas. Evil Dead tem o livro e as criaturas demoníacas, que são bem parecidas com o que temos no nosso filme. Eu também adoro Jogos Mortais, com todo aquele gore e os recursos extremos que eles têm em seus orçamentos”, continua a diretora.
No final, A Maldição de Cinderela é apenas a ponta do iceberg, com um número cada vez maior de filmes que brincam com o terror a partir do domínio público – antes da sessão para imprensa do novo longa-metragem, deu para sentir um déjà vu com o anúncio de outro filme sobre a princesa, chamado A Vingança de Cinderela. Será que tem um fim? “Espero que não”, diz a diretora, aos risos, que já tem cinco filmes sobre a Fada do Dente no currículo. “Acho que podemos esperar novos filmes de terror sobre princesas muito em breve”.
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