Opinião | ‘Abigail’ segue uma receita simples para se tornar um banho de sangue divertidamente óbvio

Novo filme de terror se ancora em clichês e obviedades, mas mantém o ritmo para fazer você aguentar os 109 minutos

PUBLICIDADE

Por Manohla Dargis (The New York Times)

O novo filme de terror Abigail segue uma receita simples e testada pelo tempo que exige uma quantidade mínima de ingredientes para se tornar banho de sangue divertidamente óbvio.

Tempo total: 109 minutos. Pegue uma criança misteriosa, um agente de segurança discreto e seis criminosos com dificuldades de raciocínio lógico. Coloque-os em uma panela extra grande com alguns ratos, tábuas do assoalho que rangem e sombras sinistras. Mexa. Cozinhe em fogo brando e continue mexendo, deixando o ensopado quase ferver. Depois de uma hora, aumente o fogo até que parte da carne caia do osso e toda a mistura fique vermelha. E aproveite!

Cena do filme Abgail, com Alisha Weir Foto: Universal

PUBLICIDADE

Isso resume razoavelmente o filme, uma produção de terror que é suficientemente competente para fazer você ocasionalmente dar uma risadinha ou estremecer, mas também é tão pouco ambicioso que não parece valer a pena reclamar dele.

O filme é centrado no sequestro da personagem-título (a ótima Alisha Weir), uma bailarina de 12 anos, aparentemente dona de si capturada uma noite por meia dúzia de estereótipos distintos. Este grupo diversificado de personagens do submundo (interpretados por Dan Stevens, entre outros), que parecem ter saído de um episódio de Scooby-Doo, tem habilidades, histórias e prazos de validade diferentes. E, principalmente, têm a obrigação de preencher uma história absurdamente rasa e morrer de forma terrível.

Publicidade

Os cineastas - o filme foi escrito por Stephen Shields e Guy Busick, e dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett - forneceram à história os elementos habituais. A maioria do filme se desenrola em uma mansão labiríntica que parece ter sido imaginada por um designer de parque de diversões que escaneou alguns filmes de terror antigos enquanto folheava livros ilustrados sobre a história da aristocracia europeia. Há armaduras na porta da frente, um tapete de pele de urso no chão, um caixão vazio escondido em um canto e, estranhamente, dadas as circunstâncias do gênero, um pouco de alho fresco em uma cozinha abandonada.

Há algumas partes interessantes, incluindo Giancarlo Esposito, que entra, dá algumas ordens e logo deixa os sequestradores sozinhos com Abigail na mansão enquanto esperam que o pai dela pague o resgate em 24 horas. Assim que esse cronômetro narrativo começa, os membros da equipe - que também incluem Melissa Barrera, Kathryn Newton, Will Catlett, um divertido Kevin Durand e Angus Cloud (que morreu em 2023) - brincam e fazem poses, caretas e gritam, conseguindo ser levemente atraentes e totalmente descartáveis. Em um determinado momento, os cineastas acenam para uma de suas influências com uma cena do romance de mistério de Agatha Christie de 1939, E Não Sobrou Nenhum, sobre um grupo de pessoas enigmaticamente mortas.

Abigail foi descrito como uma versão de A Filha de Drácula (1936), um dos filmes de terror no cofre da Universal, alguns dos quais foram ressuscitados de alguma forma. As críticas publicadas pela imprensa a respeito de Abigail citam alguns títulos de vampiros, mas A Filha não está entre eles, e por um bom motivo por haver pouca ligação entre os dois. Isso é uma pena, pois o filme anterior é uma verdadeira surpresa.

Ele é estrelado por Gloria Holden como uma condessa que se alimenta de homens e mulheres e implora a um médico que a ajude com sua condição “horrível”. Com suas conotações lésbicas, o filme é um texto vexatório e saboroso - os censores pediram ao estúdio que evitasse sugestões de “desejo sexual perverso” - e a condessa é uma vilã complexa em um filme que vale muito a pena conferir.

Publicidade

Opinião por Manohla Dargis

Crítica de cinema do 'New York Times'.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.