Após ter ganhado o Oscar, o Bafta e o Goya, neste domingo foi a indústria ibero-americana de cinema que premiou Roma, do mexicano Alfonso Cuarón, com cinco Platinos, incluindo o de melhor filme e melhor diretor. Roma era o grande favorito da VI edição do Prêmio, realizada na Riviera Maya, no México.
O filme levou também o Platino de melhor roteiro, melhor direção de fotografia e melhor direção de som.
Embora Cuarón não tenha participado da festa, o produtor Nicolás Celis agradeceu o prêmio de melhor filme em seu nome e declarou: "Viva o cinema, vivo o México e muito mais cinema de qualidade para todos".
Roma, filme autobiográfico de Cuarón, retrata a vida de uma família de classe média do México da década de 1970 e a relação que tem com sua empregada doméstica, Cleo, uma indígena interpretada pela aclamada Yalitza Aparicio.
A produção de Cuarón ganhou este ano o Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor fotografia e melhor direção, consolidando o reconhecimento e o sucesso dos diretores mexicanos no maior prêmio do cinema mundial.
Além disso, fez história ao ser indicado pela academia de Hollywood tanto a melhor filme como a melhor filme estrangeiro, e abriu um forte debate sobre o papel dos indígenas na sociedade mexicana graças à interpretação magistral de Yalitza.
No entanto, nem Yalitza nem Marina de Tavira, ambas indicadas a melhor atriz por Roma, levaram a estatueta, que foi para a paraguaia Ana Brun, por sua participação em As Herdeiras.
Brun, que estava retirada dos palcos, ganhou por este filme o Urso de Prata de melhor atriz na Berlinale e isto representou para ela um salto ao estrelato, após uma trajetória centrada sobretudo no teatro.
Este filme dirigido por Marcelo Martinessi relata a história de duas mulheres descendentes de famílias ricas que começam a perder a sua fortuna e se veem envolvidas em uma fraude.
Ao receber a estatueta, a paraguaia dedicou o prêmio aos atores e produtores do seu país que trabalham "com poucos recursos, mas com muito talento".
A Espanha também deixou uma marca profunda nesta edição do Platino com o prêmio de melhor ator para Antonio de la Torre, protagonista do O Reino, e o de melhor série de televisão, que foi para Arde Madrid, de Paco León e Anna R. Costa.
"É a terceira vez que venho ao México, espero que haja mais e que seja para trabalhar", disse De La Torre ao receber a estatueta.
Antes, no tapete vermelho, o ator espanhol explicou à Efe que Uma Noite de 12 Anos, que também protagoniza e aborda a repressão sofrida por Pepe Mujica durante a ditadura uruguaia, é "uma história universal, porque fala de coisas profundas do ser humano".
Arde Madrid, que narra a vida da atriz Ava Gardner durante a sua residência em Madri nos anos 60, bateu um grande rival, a bem-sucedida comédia mexicana A Casa das Flores.
"Este projeto foi difícil e intenso, mas também gratificante. Obrigado à Movistar+, isto demonstra que há vida depois da Netflix", disse Paco León, codiretor da série, ao receber a estatueta.
O México levou as estatuetas de melhores interpretações de série de televisão, que foram para Diego Luna, de Narcos: México, e para Cecilia Suárez, de A Casa das Flores, que também era a apresentadora da festa junto com o espanhol Santiago Segura.
Campeões, prêmio Goya de melhor filme deste ano, levou o Platino educação em valores por abordar as incapacidades intelectuais, enquanto o melhor documentário foi para a também espanhol O Silêncio dos Outros, sobre a luta pela justiça das vítimas do franquismo.
O prêmio de melhor filme de animação foi dado ao espanhol Un Día más con Vida, dirigido por Raúl de la Fuente, enquanto os prêmios de melhor trilha sonora e direção de montagem foram para os também espanhóis Yuli e O Reino.
Um dos momentos mais emocionantes da noite foi quando o ator mexicano Tenoch Huerta emocionou Yalitza Aparicio ao oferecer-lhe uma dália como mostra da sua admiração.
Em seguida, ambos os atores pediram que as pessoas presentes dessem as mãos e as levantassem como símbolo de companheirismo entre os homens e as mulheres envolvidas no mundo do cinema.
Mas o tom habitual da festa foi o humor, com brincadeiras do espanhol Santiago Segura para um evento que se manteve mais afastado das manifestações políticas do que em vezes anteriores.
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