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Análise: Cinebiografia 'Elvis' é um assombro de brilho incomparável

Austin Butler e Tom Hanks têm interpretações dignas de Oscar no longa do novo 'garoto encantado' de Bar Luhrmann

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No ano 2001, quando apresentou Moulin Rouge em Cannes, Baz Luhrmann anunciou que estava terminando sua trilogia da cortina vermelha, que começou com Vem Dançar Comigo, de 1992, e prosseguiu com Romeu + Julieta, 1996. A história de Satine no cabaré parisiense virou uma obra emblemática. Entre realidade e artifício, Luhrmann construiu um filme divisor de águas. Excessivo, Moulin Rouge foi amado e odiado com intensidade. No centro da narrativa, “There was a boy/A very strange enchanted boy.”  Ewan McGregor fazia Christian, o Nature Boy, apaixonado por Satine/Nicole Kidman. Foram necessários 21 anos para que Luhrmann contasse a história de outro Nature Boy e reabrisse sua trilogia, que, afinal, virou uma tetralogia. Elvis! Sua cinebiografia de Elvis Presley é um assombro. 

Elvis Presley em foto de 1956, em frente ao quintal de sua casa em Memphis, no Tennessee Foto: The Elvis Presley Estate/Handout via Reuters

Elvis é o novo garoto estranho, encantado de Luhrmann. Toda a primeira parte do filme possui um brilho incomparável. E é ousada. O garoto encantado é visto pelo olhar do vilão da trama, o “Coronel” Tom Parker, o homem que construiu o mito de Elvis, e numa relação abusiva talvez o tenha destruído. Esse homem vem do mundo das aberrações e do artifício do circo. Luhrmann incorpora Guillermo Del Toro e o big carnival, O Beco do Pesadelo.  O garoto Elvis pertence a uma família de brancos que habita o bairro negro de Memphis. O pai esteve preso. O menino tem amigos pretos. Descobre, muito cedo, o rhythm and blues. Espia o cabaré dos negros e corre para a tenda em que o reverendo também utiliza a música – o rhythm – para provocar o êxtase dos fiéis. Essa construção do espaço é essencial. O cabaré e a igreja, e o espaço intermediário, que é o de Elvis. Ele é o garoto branco que canta a música dos negros e frequenta a Rua Beale. James Baldwin – Se a Rua Beale Falasse, que virou grande filme de Barry Jenkins. Luhrmann faz agora a Rua Beale falar. A história de Elvis também é uma história do racismo na América.  O segregacionismo, o empoderamento dos negros, os assassinatos de John Kennedy, Martin Luther King e Bobby Kennedy atravessam a narrativa. O Coronel, que não é coronel, nem se chama Tom Parker, usa Elvis como uma máquina de fazer dinheiro. Tom Hanks é quem faz o papel. Uma interpretação de Oscar. 

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Mas a alma do filme é Austin Butler, o próprio Elvis. Há quatro anos, Rami Malek ganhou o Oscar por Bohemian Rhapsody. Tomamos por qualidade o que eram seus defeitos de interpretação, que ele tem levado aos limites do insuportável nos filmes seguintes. O xis da questão é que a Academia de Hollywood, desde então, não premiou Taron Egerton, glorioso como Elton John em Rocketman. Pode ser prematuro, um exercício de futurologia – premiará Austin Butler, o Elvis? 

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Elvis irrompeu como um furacão na música norte-americana. Seu rebolado era considerado obsceno, um risco para a família. Luhrmann dirige sua câmera para aquele lugar. As garotas enlouqueciam, ele era um Nature Boy devotado à mãe. Não é mera coincidência que o nome dela seja uma variação de Satine. Para a mãe, Elvis constrói Graceland. A presença feminina no filme prossegue com Priscilla. O tema do amor, tão caro a Luhrmann. O restante do filme é uma história de abuso, de frustração. Elvis não chega a ser, como queria, o novo James Dean. O Coronel o entope de drogas. A figura paterna é essencial. É a fraqueza do pai, interpretado pelo mesmo Richard Roxburgh que mata Satine em Moulin Rouge, que lança Elvis nas garras do Coronel. A família desaba, na despedida Elvis balbucia para Priscilla – “Eu te amo”. E voa para a eternidade. É um grande filme.

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