Animação ‘Meu Amigo Robô’ emociona com fábula sobre cachorro deprimido em Nova York

Cineasta espanhol Pablo Berger conversou com o ‘Estadão’ sobre a experiência de produzir seu primeiro filme animado; ele diz que a emoção é o principal ‘gênero’ do longa, inspirado em HQ de sucesso

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Foto do author Matheus Mans

Chorei muito quando os créditos de Meu Amigo Robô subiram na tela. O longa-metragem de animação espanhol, que estreou no dia 18 de janeiro, é um espetáculo: ao falar sobre a relação de um robô com um cachorro em Nova York, sem qualquer diálogo, o filme discute temas profundos, como amizade, solidão, romances idealizados e afins.

Essa foi, também, a reação do diretor Pablo Berger quando terminou de ler os quadrinhos de Sara Varon, nos quais o filme é inspirado. Ele comprou a HQ há muitos anos, quando estava montando uma coleção de livros sem palavras para sua filha.

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“Eu li a HQ em 2010 e fiquei entusiasmado. Os desenhos eram originais, surpreendentes e divertidos, mas não emocionantes”, diz ao Estadão. Durante um tempo, o livro ficou escondido na estante, até que Berger o encontrou novamente. Mergulhou na trama e, no final, estava chorando – pensando em sua própria vida e história.

“Um dia, estava aqui tomando café, peguei o livro de novo e, desta vez, ao chegar ao final, me comoveu. Não é que eu só gostei, mas me comoveu de verdade. Foi aí que percebi que havia visualizado o filme, que tinha visto o filme enquanto lia o livro. Percebi ali que existia um longa fantástico”, conta.

Uma nova fase de Pablo Berger

A partir daí, Berger começou a se desconstruir. Até então, havia apenas dirigido filmes com atores reais, em carne e osso – o tal live action. Ele, que nunca havia feito sequer um curta-metragem de animação, mergulhou de cabeça em um longa complexo.

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De início, ficou apreensivo. Mas, aos poucos, foi usando isso como gás nesse novo formato e linguagem de seu cinema. “Honestamente, eu encarei o projeto com medo, muito medo, mas, para mim, isso é bom. Diretores precisam sair da zona de conforto”, conta ele.

Pensava que seria mais diferente do mundo do live-action para a animação e, no final, acabou que tinha muito mais coisas em comum do que diferenças.

Pablo Berger

Segundo o cineasta, ele precisou fazer “substituições” para filmar uma animação. “Os diretores de fotografia e de arte, figurinista e maquiador em um filme de animação são um único departamento, que é o de arte”, explica.

“Já os atores, que dão a cara [para um live-action] e que são o elemento mais importante em um filme, são substituídos por animadores. E eu, como não venho do mundo da animação, me comunicava com os animadores como se fossem atores em busca de interpretações verdadeiras, emocionantes e sinceras”, completa.

'Meu Amigo Robô' é a primeira animação do cineasta espanhol Pablo Berger. Foto: Imovision/Divulgação

Uma história nossa

Nesse processo, ao adaptar a história de outra pessoa, ele conta que tomou muito da história para si. “É meu filme mais pessoal”, diz o espanhol, que antes dirigiu outros bons longas, como Branca de Neve (2012) e Da Cama Para a Fama (2003).

Varon, autora da HQ, não participou do processo do longa-metragem e fez aquilo que qualquer cineasta sonha: deu aval para que Berger fizesse uma adaptação para os cinemas do jeito que preferisse. A principal mudança foi colocar o filme ambientado em Nova York, cidade em que Berger viveu.

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“Vivi dez anos lá e fui aquele cachorro solitário. Encontrei o amor, tive o coração partido, me apaixonei de novo, fiz amigos, perdi amigos. Por isso, eu entendo perfeitamente o cachorro, porque há muito dele em mim”, explica.

“Aliás, uma das principais razões que me fizeram fazer este filme foi a possibilidade de usar Nova York como protagonista”, comenta ele, que conheceu sua esposa, Yuko Harami, na cidade. “Esta é a nossa carta de amor a Nova York”.

Cena de 'Meu Amigo Robô', que se passa em Nova York. Foto: Imovision/Divulgação

Nessa montanha de emoções que Pablo Berger passou para a tela, depois de sua interpretação do que é Meu Amigo Robô nos desenhos de Sara Vernon, encontramos esse filme que fala muito sobre a vida do cineasta – e, imaginamos, da quadrinista – e que se comunica bastante com o público do outro lado, fazendo qualquer um derramar lágrimas. Nova York pode ser São Paulo, o cachorro pode ser você e o robô seu amor idealizado.

O robô do filme é uma metáfora de um amigo, companheiro, parceiro ideal; alguém que é totalmente generoso sem pedir nada em troca. É como o companheiro dos sonhos

Pablo Berger

Será que é uma pessoa que existe? Ou será que é apenas um ser que vive no mundo das ideias, onde preenchemos nosso vazio com essas ideações impossíveis? Não sabemos como responder a essas perguntas que o filme traz, apenas sentir a mensagem. Berger, no final, ainda junta isso tudo com uma explosão de emoções e distintos gêneros cinematográficos, como é de praxe em seu cinema.

“Acredito que Meu Amigo Robô é uma boneca russa de gêneros. Há um gênero dentro de um gênero dentro de outro gênero”, explica. “O tragicômico está lá, assim como o drama, a comédia, o musical e até temos cenas de ação dignas de um filme de James Bond. São muitos gêneros, mas a verdade é que a emoção é o que está mais presente. Do início ao fim”.

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