Após bilheterias milionárias, a maré está prestes a mudar para os cinemas nos EUA

Escassez de blockbusters para os próximos meses, fechamento de salas e streaming obrigam setor a buscar novos caminhos

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Por Brooks Barnes
Atualização:

The New York Times - As boas novas não param de surgir. Mas não para os cinemas, apesar de eles precisarem delas.

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Forças indesejáveis – Netflix, TVs de 50 polegadas, a pandemia de covid-19 – prejudicam os cinemas há anos. Agora, dívidas inacreditáveis e uma grave escassez de sucessos de bilheteria para exibir nos próximos meses colocam em risco as redes multiplex mais uma vez.

Nos últimos meses, a situação não parecia tão grave. Os cinemas estavam se sentindo otimistas outra vez, em grande parte porque Top Gun: Maverick e vários outros blockbusters mostraram que as pessoas ainda querem ir ao cinema. A sequência de Top Gun arrecadou o surpreendente valor de US$ 1,5 bilhão em todo o mundo, e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura superou o antecessor da franquia de 2016 em 41%.

“Aproveitem os tempos bons”, disse Adam Aron, CEO da AMC Entertainment, durante uma divulgação de resultados no mês passado.

Sala da Cinepolis em Pico Rivera, na Califórnia Foto: Mike Blake/Reuters

No entanto, por trás dessa perspectiva cor-de-rosa, a instabilidade estava à espreita. As vendas de ingressos durante o verão do hemisfério norte ainda ficaram consideravelmente atrás dos níveis pré-pandemia. Alguns estúdios continuam a lançar filmes em serviços de streaming e nos cinemas ao mesmo tempo, ou ignoram completamente os cinemas, e os custos para manter um cinema funcionando aumentam cada vez mais.

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Quase todo mundo concorda que a atividade de exibição de filmes de 117 anos não pode continuar assim. Mas quase ninguém chega a um acordo sobre qual seria o melhor caminho a se seguir.

O futuro das salas de cinema

Segundo os analistas, uma medida óbvia, embora drástica, é o fechamento das milhares de salas com desempenho fraco pelas maiores redes de cinemas. Existem 40.700 salas de cinema nos Estados Unidos e no Canadá, e até mesmo alguns executivos do setor admitem que não deveria haver mais de 35 mil. Outros pensam que 25 mil é uma meta mais saudável.

Cerca de 500 delas fecharam desde o início da pandemia, de acordo com a Associação Nacional dos Proprietários de Cinemas. Mais fechamentos são esperados neste segundo semestre. A Cineworld, que administra a rede Regal Cinemas, o segundo maior circuito nos EUA, ficando atrás da AMC, está se preparando para entrar com um pedido de falência. A empresa com sede em Londres registrou US$ 8,9 bilhões em dívida líquida, incluindo US$ 4 bilhões em passivos de arrendamento. Recorrer ao Capítulo 11 da lei de falências americana permitiria à Cineworld dar fim a algumas dessas dívidas.

“Cerca de 20% das salas – cada vez mais, aquelas com experiências como o IMAX que as tornam especiais e vantajosas – geram 80% dos lucros do negócio”, disse Richard L. Gelfond, CEO da IMAX, que licencia sua tecnologia para os cinemas. “Com exceção de casos específicos, ninguém precisa mais de um cinema com 20 salas. Ponto final. Exclamação.”

Mais cinemas, menos espectadores

A presença de espectadores nos cinemas americanos e canadenses atingiu o pico em 2002, quando cerca de 1,6 bilhão de ingressos foram vendidos, de acordo com a Motion Picture Association. Os grandes estúdios e suas subsidiárias de filmes especializados lançaram pelo menos 140 filmes nos cinemas naquele ano, com um drama original (Sinais) e uma comédia (Casamento Grego) entre os cinco melhores desempenhos. Este ano, a expectativa é que a venda de ingressos fique abaixo de 800 milhões, em parte por causa da queda na produção dos maiores estúdios, que lançarão cerca de 73 filmes nos cinemas, com as sequências de grande orçamento sendo responsáveis pelas maiores bilheterias.

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Ao longo desse mesmo período, o número de salas aumentou 14%, conforme os cinemas multiplex surgiam nos subúrbios distantes e os cinemas construídos durante um boom na década de 1990 continuam na ativa com dificuldade. Em um relatório divulgado em 23 de agosto, Robert Fishman, analista sênior da MoffettNathanson, empresa de pesquisa, descreveu a atividade de exibição de filmes como “em extrema necessidade de reestruturação”, observando que muitos cinemas estão “instalados em shoppings zumbis”.

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Por mais que as bilheterias tenham sido satisfatórias durante o verão, os cinemas venderam apenas 17% dos ingressos disponíveis nos EUA, de acordo com a EntTelligence, empresa de pesquisa. (Reforçando o ponto de vista de Gelfond: salas com telas extragrandes, entre elas as com tecnologia IMAX, conseguem esgotar os ingressos em fins de semana para as sessões entre 18h e 21h.)

Programa de fidelidade, promoção e bebida alcóolica

Para vender mais ingressos, os cinemas estão se tornando mais agressivos no marketing. Eles criaram programas de fidelidade que oferecem descontos para visitas repetidas. Pela primeira vez em seus 102 anos de história, a AMC montou uma campanha publicitária nacional, contratando Nicole Kidman para defender as “imagens deslumbrantes em uma enorme tela prateada”. (A AMC está trabalhando em uma segunda campanha.) Em um sábado recente, a maioria das redes de cinema dos EUA ofereceu ingressos a US$ 3 para todas as sessões como parte do primeiro dia nacional do cinema.

Os cinemas também passaram a oferecer pedidos de comida pelo celular, expandiram as vendas de bebidas alcoólicas, investiram em melhores projetores, disponibilizaram as salas para serem alugadas para sessões privadas e transmitiram shows e torneios de videogames. Na última década, as redes de cinema removeram milhares de assentos tradicionais e instalaram poltronas reclináveis mais espaçosas, reduzindo a capacidade das salas. E quanto aos assentos que permanecem vazios? Elas dizem que eles são necessários para sucessos de bilheteria como Vingadores: Ultimato, que arrecadou US$ 357 milhões durante seu fim de semana de estreia em 2019.

A temporada de verão de Hollywood, que vai do início de maio ao começo de setembro, historicamente é responsável por 40% das vendas anuais de ingressos. Neste verão, o sucesso de público para uma série de filmes, entre eles Jurassic World: Domínio, Minions 2: A Origem de Gru e Thor: Amor e Trovão, provou que os cinemas ainda são negócios viáveis – que assistir imagens em movimento no escuro com estranhos não havia chegado à extinção, como muitos temiam no início da pandemia.

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‘Minions 2: A Origem de Gru’ estreou em 2022 Foto: Illumination Entertainment/AP

Elvis emocionou os espectadores mais velhos, arrecadando US$ 278 milhões em todo o mundo. Um Lugar Bem Longe Daqui, uma adaptação de livro, e Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, um indie fora do comum, tiveram audiências em escalas menores.

Mas conforme o verão foi passando, os espectadores sumiram. A demanda reprimida da pandemia foi saciada, e sequências e spin-offs de grande orçamento se tornaram menos presentes nas salas onde os filmes com roteiros originais ganharam uma chance.

Não! Não Olhe!, de Jordan Peele, teve cerca de 40% menos espectadores que seu filme anterior, Nós, lançado em 2019. Trem-bala, uma comédia de ação estrelada por Brad Pitt e que contou com um marketing pesado, apresentou resultados medianos. Easter Sunday, A Queda, Vengeance, Mack & Rita e Era uma vez um Gênio estrearam sem qualquer expectativa de sucesso.

“Alguns filmes funcionam muito bem nos cinemas, mas não é o caso de todos”, disse Richard Greenfield, fundador da empresa de pesquisa LightShed Partners.

O filme com maior bilheteria recentemente na América do Norte era Convite Maldito, um filme de terror de baixo orçamento que arrecadou US$ 6,8 milhões, o menor valor para a maior bilheteria em um primeiro fim de semana desde 2000, desconsiderando o período durante a pandemia, quando muitos cinemas foram fechados, de acordo com a Comscore. (Foi o menor valor já registrado ao levar em consideração a inflação.)

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Quanto mais comédias menos famosas, dramas, documentários e filmes de arte fracassarem, maiores são as chances de os estúdios se voltarem para os serviços de streaming, acabando com a necessidade de tantas salas de cinema.

Negócios alternativos

“Vamos ver salas de cinemas menores, que não pertencem a grandes redes começarem a desaparecer em maior número”, disse Eric Wold, analista sênior da B. Riley Securities. “Na verdade, isso é bom para as redes que sobreviverem.”

Cerca de metade das salas na América do Norte são controladas por AMC, Cineworld e Cinemark Holdings. Todas elas perderam dinheiro no último trimestre.

Entre o início de abril e o final de junho, a AMC registrou receita de US$ 1,2 bilhão e uma perda de US$ 122 milhões. A AMC tem mais de US$ 5 bilhões em dívidas, uma quantia colossal para uma empresa que estava gerando cerca de US$ 5,5 bilhões em receita anual antes da pandemia.

Pipoca de cinema, agora em supermercado Foto: Mario Anzuoni/Reuters

Para recuperar o equilíbrio, a AMC atraiu investidores amadores de “ações de meme”, anunciou planos de vender pipoca de micro-ondas da marca AMC em supermercados e até mesmo adquiriu uma participação de uma mina de ouro em Nevada. A AMC fechou 98 cinemas desde o início da pandemia, e inaugurou 45, em grande parte assumindo lugares antes ocupados por redes menores que fecharam as portas durante os lockdowns.

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Aron, CEO da AMC, disse recentemente aos acionistas que, ao contrário da Cineworld, sua empresa conseguiria suportar um período de bilheteria fraca. “Estamos bastante otimistas e confiantes em nosso futuro”, tuitou em 18 de agosto. Em um comunicado à imprensa, a AMC observou que tinha em torno de US$ 1 bilhão em liquidez.

Cinema mais caro e escassez de filmes

A inflação representa um desafio aos cinemas. Quase todos eles estão aumentando os preços, embora muitos consumidores já vejam uma ida ao cinema como algo muito caro. Neste verão, os ingressos custavam em média US$ 12, ante US$ 11,16 no ano passado, de acordo com a EntTelligence.

A escassez de filmes representa um problema ainda maior. Apenas um filme, a comédia indie Honk for Jesus Save Your Soul, estava programado para estrear no fim de semana do feriado do Labor Day, no início deste mês, e ele foi disponibilizado simultaneamente no Peacock, serviço de streaming, limitando as vendas de ingressos de quatro dias a bilheteria estimada de US$ 1,5 milhão. No ano passado, Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis arrecadou US$ 94,7 milhões no mesmo período.

Os donos de cinemas estavam contando com Halloween Ends para outubro, mas a Universal Pictures decidiu disponibilizá-lo de forma simultânea no Peacock também.

Executivos do setor dizem que veem apenas duas chances de sucesso no horizonte: Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, com estreia prevista para 11 de novembro, e Avatar 2, previsto para 16 de dezembro.

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Lançamentos no streaming

Em alguns casos, os filmes nem chegam aos cinemas, mas vão direto para as plataformas de streaming. Os assinantes do Disney + terão acesso exclusivo a Abracadabra 2 e Pinóquio, estrelado por Tom Hanks, este mês. Entre Facas e Segredos arrecadou US $311 milhões em todo o mundo em 2019; uma sequência chega à Netflix em dezembro.

Os estúdios também atrasaram as estreias nos cinemas por causa dos transtornos provocados pela pandemia nas etapas de produção. Aquaman and the Lost Kingdom, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, Creed III e Super Mario Bros foram todos adiados para 2023.

A programação dos cinemas para o próximo ano continua sem muitas expectativas. Atualmente, os grandes estúdios têm cerca de 75 filmes programados para lançamento. Fishman, o analista, previu aproximadamente US$ 8,5 bilhões em vendas de ingressos para 2023, uma queda de 26% em relação a 2019. Já para as vendas em todo o mundo, ele está mais otimista, prevendo uma redução de 7%. / TRADUÇÃO ROMINA CÁCIA

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