Nunca é bom quando o drama por trás das câmeras é maior do que aquele na tela. E é o que está acontecendo com Não se Preocupe, Querida, o segundo longa-metragem como diretora da também atriz Olivia Wilde, que fez sua estreia mundial no 79º Festival de Veneza. O filme fala de Alice (Florence Pugh), que vive o casamento perfeito com Jack (Harry Styles), em uma comunidade aparentemente perfeita também.
Primeiro Wilde disse que tinha demitido Shia LaBeouf do projeto para proteger a produção e o elenco, pois o processo do ator não se encaixava em seu método. Florence Pugh não se sentiria segura com ele. Na versão de LaBeouf, ele saiu pela falta de disponibilidade para ensaios. O ator vazou mensagens trocadas com Wilde, em que a diretora pedia que ele reconsiderasse sua saída. Depois, surgiram boatos de que havia um mal-estar entre Pugh e a diretora, que começou a namorar Styles durante a filmagem.
Indagada sobre o assunto na coletiva de imprensa, à qual Florence Pugh não compareceu, Wilde não quis falar. “A Florence é uma força, e somos muito gratos que ela seja capaz de estar aqui na gala, estando em produção com Duna. Sei como diretora como é disruptivo não ter um ator mesmo que por um dia. Sou muito grata a ela e a Denis Villeneuve por nos ajudar e estou feliz de poder celebrar seu trabalho na noite de hoje. Não posso destacar o bastante quanto estou grata por ela ser nossa protagonista. Ela está incrível no filme”, disse Wilde na entrevista no início da tarde. “Em relação à fofoca de tabloide e ruído infinitos por aí, a internet se alimenta, não vejo necessidade de contribuir para isso. Acho que está suficientemente bem alimentado.” Pouco depois, a mediadora da coletiva cortou uma pergunta sobre a saída de LaBeouf do filme. Pugh caminhou no tapete vermelho do Palazzo del Festival à noite.
No tapete vermelho, Styles enfrentou uma multidão de fãs poucas vezes vista em Veneza. Ele disse que era novo no mundo do cinema, mas estava feliz com a recepção. Na coletiva, ele agradeceu aos fãs. “Eles sempre me deixaram ser eu mesmo, pudesse me expressar, fizesse a música que queria. Sei que isso se deve a seu apoio e o ambiente que criaram para mim. Gostaria de esperar poder dar a eles esse mesmo espaço.”
Ao filme
Não se Preocupe, Querida é uma espécie de distopia ensolarada, em que a imagem de perfeição vem da estética dos anos 1950 e 1960. Alice e Jack são um jovem casal que vive em uma comunidade ideal, criada para funcionários do misterioso Projeto Victory. Qualquer semelhança com o Projeto Manhattan, de criação da bomba nuclear, não é mera coincidência. Logo percebemos algo estranho está acontecendo por ali. Por exemplo, todas as mulheres de envolvidos no projeto frequentam a mesma aula de balé. Mas ninguém parece notar, a não ser Alice. Wilde começou a trabalhar no projeto, junto com a roteirista Katie Silberman, durante o governo Trump, questionando o slogan do ex-presidente: Faça a América Grande Novamente (Make America Great Again). Esse “novamente” em geral se refere a esses Estados Unidos da década de 1950 e 1960, que muitos têm como o período ideal, mas era, talvez, só para algumas pessoas - em geral, homens brancos heterossexuais. Não se Preocupe, Querida, porém, é atual, falando de autonomia dos corpos e cumplicidade de algumas mulheres com as formas de opressão contra elas.
O filme é bonito de ver, mas cai em alguns clichês, inclusive visuais. Não cansa, mas se apoia mesmo na atuação forte de Florence Pugh. Harry Styles não pode fazer muito frente a ela, o que não chega a atrapalhar por fazer algum sentido no filme.
Não se Preocupe, Querida tem estreia prevista para 22 de setembro no Brasil.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.