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Artistas respondem o que pensam sobre o fim da diferenciação de gênero em premiações

Os indicados ao Screen Actors Guild Awards em Los Angeles no domingo, 26, foram divididos em combinar as categorias de melhor ator e melhor atriz

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Por Sarah Bahr
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - No tapete vermelho antes do Screen Actors Guild Awards que ocorreu no Fairmont Century Plaza em Los Angeles no domingo, 26, as estrelas responderam às perguntas de sempre. Elas estavam animadas por estar aqui? Sim. Como foi ser reconhecido? Incrível. Em que série de TV elas gostariam de atuar? The White Lotus.

Mas uma pergunta que fizemos fez com que quase todas as pessoas parassem, ponderassem por vários segundos e depois dessem uma resposta pensativa, muitas vezes com uma ressalva ou uma mudança de opinião no meio:

“As principais premiações devem eliminar categorias de atuação separadas para homens e mulheres?” nós perguntamos.

Elenco e equipe de 'Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo' no SAG Awards. Foto: Jordan Strauss/Invision/AP

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O debate em andamento sobre prêmios de atuação neutros em termos de gênero, o que também pode significar menos indicações para todos, faz parte da conversa novamente nesta temporada de premiações. Em 2021, o Gotham Awards, que premia filmes independentes, vetou categorias de atuação separadas para homens e mulheres. No ano passado, o Brit Awards, o equivalente britânico do Grammy, fundiu suas categorias de melhor artista masculino e melhor artista feminino do ano em um prêmio principal neutro em termos de gênero. E este ano, o evento enfrentou críticas por não indicar nenhuma mulher para o prêmio. O Grammy Awards eliminou muitas categorias de gênero desde a cerimônia de 2012.

Atores não binários como Emma Corrin, que muitas vezes são forçados a escolher uma categoria para serem considerados, pediram categorias de prêmios neutras em termos de gênero. O intérprete não binário trans Justin David Sullivan do musical da Broadway & Juliet retirou seu nome de consideração quando as decisões de elegibilidade do Tony Awards foram anunciadas no início deste mês, colocando pressão pública sobre os prêmios. (Tanto a Academy of Motion Picture Arts and Sciences, que distribui o Oscar, quanto a Television Academy, que administra o Emmy Awards, estão analisando categorias sem gênero, de acordo com o Los Angeles Times. Os indicados já podem solicitar uma redação neutra em termos de gênero em seus prêmios em ambos os eventos.)

A resposta imediata de muitos participantes do SAG Awards foi o desejo de que os prêmios fossem mais inclusivos.

“Acho que é uma coisa positiva”, disse Will Sharpe, que interpreta Ethan Spiller, o nerd workaholic casado com Harper na segunda temporada de The White Lotus, que ganhou o prêmio principal da TV para uma série dramática na noite de domingo, observando que ele acreditava que isso “nivelaria o campo de jogo”.

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“Por que não?” disse Michael Imperioli, que interpreta o produtor mulherengo de Hollywood Dominic Di Grasso em The White Lotus, sobre juntar as categorias de atuação. “É tudo uma grande sopa de atuação.”

Em sua passagem pelo tapete vermelho do SAG Awards, Michael Imperioli apoiou. Foto: Jordan Strauss/Invision/AP

Melhor para não binários

Outros indicados abordaram o benefício potencial para atores não binários.

“Existem pessoas que não querem ser definidas por gênero, e eu quero ajudar a tornar os prêmios mais inclusivos para elas”, disse Rhea Seehorn, que interpreta a advogada Kim Wexler em Better Call Saul, que foi indicada por Melhor Performance de Elenco em uma série dramática em sua temporada final.

Mas então ela fez uma pausa.

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“Ao mesmo tempo”, ela acrescentou, até que mulheres e artistas não binários tenham “tanto tempo na tela quanto os homens, não é muito justo comparar as performances”.

Os principais prêmios costumam ir para os atores que passam mais tempo na tela, e um estudo recente descobriu que, em 2021, nos 100 filmes de maior bilheteria, os personagens masculinos superavam os femininos em quase 2 para 1.

Jamie Lee Curtis, que ganhou a estatueta de atriz coadjuvante por seu papel em Tudo em todo lugar ao mesmo tempo e venceu a ganhadora do Globo de Ouro Angela Bassett (Pantera Negra: Wakanda Para Sempre) e a vencedora do BAFTA Kerry Condon (Os Banshees de Inisherin), ecoou a indecisão de Seehorn.

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“Sou totalmente a favor da inclusão, que é o mais importante”, ela disse, “mas, ao mesmo tempo, quero garantir que o máximo de oportunidades esteja disponível para as pessoas. Eu sei que muitas pessoas acreditam na educação isolada de gênero. Há muitas mulheres jovens que ficam muito quietas quando os meninos falam muito alto.”

As mulheres indicadas, em particular, expressaram preocupação de que a ideia de um único prêmio colocaria os homens em uma vantagem distinta por causa dos papéis mais ricos e numerosos disponíveis para eles.

Igualdade

“Ainda há muitos papéis masculinos”, disse Patricia Arquette, que interpreta Harmony Cobel, a chefe dominadora de Mark, em Ruptura, que foi indicada para Melhor Performance de Elenco em Série Dramática. “Não sei se isso seria justo.”

“Até que haja uma oportunidade de 50-50, ainda precisamos ter nossas próprias categorias”, disse Olivia Williams, que interpreta Camilla Parker Bowles na 5ª temporada de The Crown, que também foi indicada por Melhor Performance de Elenco em uma série dramática.

Sarah Polley, roteirista e diretora do filme feminino Women Talking, que aborda o abuso sexual em uma comunidade religiosa, disse que o potencial de paridade em consideração deve ser pesado contra as realidades das indústrias de cinema e televisão.

“O que nenhum de nós quer ver é uma categoria geral de atuação em que acabam sendo indicados apenas homens”, ela disse, “acho que esse é o medo - e é um medo genuíno”.

Mas, ela acrescentou, também havia considerações importantes a serem ponderadas que se estendem além da justiça para a questão da identidade fundamental.

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“Temos um ator não binário em nosso elenco”, ela disse, referindo-se a August Winter, que interpreta Melvin, um personagem que vive como um homem abertamente trans em uma sociedade patriarcal. “E teria que haver uma escolha entre masculino e feminino, nenhum dos dois seria adequado.”

“Não tenho certeza sobre a solução”, ela acrescentou, “mas certamente não pode ficar do jeito que está, porque está excluindo as pessoas de serem reconhecidas”.

Winter, que usa pronomes de gênero neutro, disse que apoia categorias de gênero neutro porque “honram a pessoa que está fazendo a arte”.

“Agora, você precisa escolher”, disse, referindo-se aos prêmios que separam categorias para homens e mulheres. “E não acho que as pessoas devam ser colocadas nessa posição.”

'Sou totalmente a favor da inclusão, (...) mas, quero garantir que o máximo de oportunidades esteja disponível para as pessoas', opinou Jamie Lee Curtis. Foto: Chris Pizzello/Invision/AP

Menos reconhecimento

Outros indicados observaram, no entanto, que estavam preocupados que as categorias reunidas levassem a menos performances sendo reconhecidas.

Bassett disse que o colapso das categorias pode levar a menos chances de reconhecimento. “Eu não gosto disso”, ela disse. “Oportunidades insuficientes.”

Jon Gries, que interpreta Greg Hunt, o marido intrigante da personagem de Jennifer Coolidge, Tanya, em The White Lotus, ecoou essa preocupação. “Quando você tem melhor ator, melhor atriz, você tem mais prêmios”, ele disse. (“Gostamos de mais prêmios”, disse Sabrina Impacciatore, que interpreta a tensa gerente de hotel da série, enquanto se aproximava e colocava a mão no ombro dele.)

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Sally Field, que recebeu um prêmio pelo conjunto de sua obra por suas quase seis décadas de carreira na TV e no cinema na noite de domingo, expressou uma frustração geral com a natureza competitiva dos prêmios. “É difícil comparar atores, sejam homens ou mulheres, porque os papéis são muito diferentes”, ela disse. Portanto, a ideia de uma mudança de regra que reconheceria ainda menos performances era confusa para ela.

“Por que você faria isso?” ela disse, como se alguém tivesse acabado de sugerir que ela rolasse na lama em seu vestido de gala. “Quero dizer, já nem dá para comparar Cate Blanchett e Viola Davis. Ambas são inacreditáveis”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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