‘Avatar’: Entenda por que indígenas estão criticando (novamente) o filme de James Cameron

Eles defendem que ‘Avatar: O Caminho da Água’ ainda romantiza a colonização e é racista

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Por Samantha Chery

Washington Post - O lançamento de Avatar: O Caminho da Água colocou os criadores da série sob fogo novamente, já que indígenas criticam o que chamam de glamorização do colonialismo e representação racista das pessoas e cultura nativas pelo filme.

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Quando o Avatar original foi lançado em 2009, os robustos efeitos 3D e as incríveis imagens do filme de fantasia de ficção científica o levaram a se tornar o filme mais lucrativo de todos os tempos. Depois de 13 anos e um orçamento estimado de US$ 250 milhões, os fãs da série tinham altas expectativas para a segunda parte do diretor James Cameron, que estreou na sexta-feira.

Mas críticos indígenas dizem que as armadilhas problemáticas do primeiro filme Avatar reaparecem na sequência, especialmente na representação dos Na’vi, a espécie alienígena do filme inspirada em várias tribos nativas de todo o mundo. O clã oceânico Na’vi, que é central para o segundo filme, foi influenciado fortemente pelos Maori, o povo indígena polinésio da Nova Zelândia.

Cheney Poole, de 27 anos, de Christchurch, Nova Zelândia - conhecida como Otautahi, Aotearoa, na língua Maori - chama a representação do filme de “mais um exemplo da mesma romantização muito clara e visível da colonização”.

“Ele romantiza muito a ideia do que não só os Maori estão passando, mas muitas culturas indígenas ao redor do mundo e quase minimiza o sofrimento”, tanto passado quanto presente, disse Poole.

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O cineasta James Cameron lançou a sequência de 'Avatar' 13 anos depois do primeiro filme Foto: Jeon Heon-Kyun

Cameron, que não pôde ser contatado para comentar, chamou Avatar em 2012 de “uma releitura de ficção científica da história da América do Norte e do Sul no início do período colonial”. Ele disse em uma entrevista recente ao Unilad que estava ouvindo grupos marginalizados e procurava fazer melhorias com o segundo filme.

“As pessoas que foram vítimas historicamente estão sempre certas. Não cabe a mim, falando de uma perspectiva do privilégio branco, dizer que estão erradas”, disse Cameron.

A trama do primeiro filme, no qual o forasteiro branco Jake Sully se infiltra entre os Na’vi para salvá-los de uma corporação que tenta explorar os recursos ambientais de sua terra em Pandora, gerou preocupação entre os grupos indígenas. Cameron disse ao Unilad que acredita que o novo filme conseguiu se “desviar” do tema do “salvador branco”.

Lailatul Fitriyah, que pesquisa decolonialidade como professora assistente na Claremont School of Theology, disse que não tinha interesse em assistir à sequência de Avatar, depois de ter visto o primeiro filme pela primeira vez recentemente. Fitriyah disse que ficou chocada por Jake se tornar um Na’vi no filme, reproduzindo o que ela chamou de um tema colonialista de que um estrangeiro pode facilmente “se tornar nativo” apenas se parecendo com eles e aprendendo o que é considerado uma cultura primitiva.

O segundo filme também não foi muito melhor, na opinião de Mana Tyne, de 19 anos, de Queensland, Austrália, que é Maori. Nele, Jake agora é um líder de clã Na’vi e Tyne se ofendeu com a forma como o filme reduz o ta moko, um tipo de tatuagem que é culturalmente significativo e legível para as pessoas Maori, a “formas abstratas e sem sentido” que “serviram mais como estética” nos rostos e corpos dos personagens no filme.

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Kate Winslet, como Ronal, e Cliff Curtis, como Tonowari, em 'Avatar: O Caminho da Água' Foto: 20th Century Studios

“Eu adoraria ver mais pessoas Maori e sua cultura representadas na tela do cinema, mas quero ver pessoas Maori interpretando-as”, disse Tyne. “Não quero ter que sacrificar o significado de nossas práticas que já perderam tanto através do colonialismo”.

Crítica e bilheteria

Críticos de cinema deram a Avatar: O Caminho da Água críticas mistas e positivas e o público compareceu, embora menos do que o esperado. O filme arrecadou US$ 134 milhões na América do Norte no final de semana, empatando com Batman como o quarto maior lançamento doméstico do ano e arrecadou mais US$ 300 milhões de dólares.

Mas a simples visibilidade de personagens nativos, segundo Poole, especialmente quando criados com estereótipos, não ajuda a abordar o trauma que as pessoas nativas reais sofreram da mesma forma que uma representação autêntica de pessoas nativas o faria.

“Ainda temos anciãos em nossa comunidade que têm cicatrizes por terem sido espancados na escola por falar sua língua nativa”, disse Poole.

Estereótipos

Autumn Asher BlackDeer, professora assistente na Graduate School of Social Work da Universidade de Denver, disse que os filmes Avatar também contribuem para a representação monolítica dos povos indígenas comumente usada na mídia. Os Na’vi são nobres selvagens místicos e solenes, ela disse, com ossos faciais angularmente estereotipados e cabelo longo em tranças. Eles também têm uma característica física pela qual a tribo de BlackDeer, os Cheyenne do sul, é conhecida - narizes protuberantes.

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Ela disse que, como os filmes se inspiram em múltiplas tribos indígenas, isso pode sugerir que todos os povos indígenas são os mesmos. É um estereótipo prejudicial que tem sido reforçado por “Fingíndios”, pessoas não indígenas que podem usar roupas ou acessórios indígenas genéricos para parecer indígenas, disse BlackDeer.

“Estou tão cansada de ouvir histórias indígenas de uma perspectiva branca”, ela disse. “Não precisamos de filmes de grande orçamento de Hollywood. Poderíamos contar nossas próprias histórias”.

Johnnie Jae, que faz parte das tribos Otoe-Missouria e Choctaw, chamou de racista e prejudicial para os cineastas de Avatar o fato de glorificarem o colonialismo e venderem temas indígenas como entretenimento enquanto os povos indígenas em todo o mundo têm protegido a terra, a água e a biodiversidade, muito antes de seus colegas brancos se juntarem à luta pela justiça climática.

Mas Jae, de 42 anos, também observou que, porque os povos indígenas e as perspectivas são diversos, nem todos compartilharão de sua aversão aos filmes, os quais aumentaram um pouco a visibilidade dos povos indígenas e suas questões.

“É difícil reconhecer todas essas nuances sem difamar um ao outro ou jogar um contra o outro”, disse Jae. “Temos de reconhecer a representação problemática. Mas do mesmo modo, podemos possivelmente reconhecer o que foi bem feito, porque é assim que progredimos para que esses meios melhorem”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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