‘Batalhão 6888’: a história real por trás do filme

Longa de Tyler Perry é inspirado em história real de batalhão de mulheres que ajudou a entregar mais de 17 milhões de cartas durante a Segunda Guerra Mundial

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Por Nico Garófalo

Novo filme de Tyler Perry, Batalhão 6888 conta a história do primeiro batalhão feminino negro a ser mandado para a Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Inspirado em fatos, o filme está disponível na Netflix desde o começo de dezembro e é estrelado por Kerry Washington (Django Livre).

A história real por trás do Batalhão 6888

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Enviado à Inglaterra em 1945, as 855 soldados do 6888º Batalhão do Diretório Postal Central ficaram encarregadas de desestagnar o fluxo de cartas enviadas e recebidas pelos oficiais lutando no front. Ao todo, eram mais de 17 milhões de cartas paradas em diversos hangares da base militar localizada em Birmingham.

A decisão de enviar o batalhão da Corporação Feminina do Exército (WAP) aconteceu apenas após pressão de grupos negros da instituição que pediam para que as soldados negras pudessem se juntar às oficiais brancas já em ação na Europa. “O comando já sabia desde o começo que a presença [do 6888º] significava mais do que aliviar o fluxo de correspondência”, disse a coronel aposentada do exército dos Estados Unidos Edna Cummings, em entrevista à Associated Press em 2021. “Elas representavam uma oportunidade para suas irmãs de armas nos Estados Unidos, que estavam tendo dificuldade em lidar com o racismo e o sexismo dentro das fileiras.”

Kerry Washington estrela 'Batalhão 6888', nova produção da Netflix Foto: Netflix/Divulgação

A missão de organizar os pacotes que deveriam ser distribuídos entre tropas, agentes do governo e membros da Cruz Vermelha, era ingrata. As correspondências foram amarrotadas em hangares infestados de ratos, mas isso não impediu o 6888º de superar as expectativas de seus superiores. “Esperavam que nós fossemos ficar lá por dois ou três meses organizando tudo. Acho que em um mês, um mês e meio, já tínhamos tudo organizado”, afirmou a Major Fannie Griffin McClendon, que integrou o batalhão, em 2021.

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Além dos desafios de separar cerca de 65 mil encomendas por turno, o 6888º também viu de perto o perigo durante a Segunda Guerra, sendo atacado ainda no mar quando ia ao Reino Unido, e precisando fugir às pressas do porto de Glasgow, na Escócia, que estava sob ataque.

Chegando a Birmingham, o pelotão também enfrentou questionamentos daqueles que não viam com bons olhos a integração de soldados negros ao exército americano. As 855 do batalhão precisaram instalar seu próprio posto de operações e ficavam em ambientes segregados. Em certo momento, um comandante do Exército teria, inclusive, ameaçado tirar a liderança do 6888º da Major Charity Adams, interpretada por Kerry Washington no longa.

Em três meses, o 6888º recuperou e distribuiu 17 milhões de correspondências, metade do tempo previsto pelos comandantes do Exército. Antes de voltar aos EUA, as soldados ainda passaram pelo front francês. Seus feitos, no entanto, demoraram a ser reconhecidos pelo governo norte-americano.

“Elas voltaram para os EUA sob as leis Jim Crow”, pontua Cummings, lembrando das leis de segregação que minaram os direitos de pessoas negras no país por anos. “Não só o 6888º, mas muitos dos nossos soldados integrantes de minorias raciais que voltaram da guerra só foram reconhecidos décadas depois.”

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Com o passar dos anos, os feitos do 6888º começaram a ser reconhecidos mais seriamente pelo povo americano. Em 2018, um monumento em homenagem ao batalhão foi erguido no Kansas, enquanto uma agência dos correios em Buffalo, Nova York, foi rebatizado com o nome de Indiana Hunt-Martin, uma das integrantes do pelotão.

Em 2021, o Congresso dos EUA aprovou uma lei que condecorou o 6888º com a Medalha de Ouro do Congresso, uma das honrarias mais altas do país.

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