Batman é mais que um personagem: sem ele, não haveria o gênero dos super-heróis

O homem morcego, homenageado hoje no Batman Day, é um dos seus pilares dos quadrinhos

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Foto do author Pedro Cirne

Quando Bruce Wayne surgiu, em 1939, vestido de homem-morcego pelas ruas de Nova York (Gotham City só seria criada no ano seguinte), os fundamentos dos super-heróis ainda estavam sendo criados. Conceitos eram testados e nem tudo fazia sucesso. E foram Superman, inventado no ano anterior, e Batman aqueles que estabeleceram os caminhos que guiam até hoje o gênero dos super-heróis, seja nos quadrinhos, onde surgiram, ou em outras mídias, como o Universo Marvel que tem brilhado no cinema e na televisão.

Batman e Superman são normalmente descritos “opostos que se complementam”. O kryptoniano é otimista, espirituoso e representa a “esperança” enquanto voa pela ensolarada Metrópolis. O homem-morcego, por sua vez, é retratado como carrancudo, quase paranoico (ele tem planos secretos para derrotar seus colegas da Liga da Justiça, caso sejam hipnotizados por vilões) e representa “vingança” enquanto se balança pelas ruas da sombria e suja Gotham City. Opostos? Eles têm mais em comum do que parece, e essas características, na estética e no conteúdo, moldam até hoje as histórias de super-heróis.

Cena do filme Batman Vs Superman, a Origem da Justica, com Ben Affleck e Henry Cavill. Foto Warner Bros. Foto: Warner Bros.

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Ambos usam uniformes espalhafatosos, têm identidades secretas, atuam ao arrepio da lei (embora isso seja contornado quando se diz que são parceiros extra-oficiais da polícia de suas cidades), enfrentam “supervilões” e, claro, têm superpoderes. Epa! Os fãs do Morcego de Gotham torcem o nariz aqui. Bruce Wayne não tem poderes, é verdade. Mas, na prática, suas habilidades, tanto física quanto intelectual, são tão acima da média que é como se os tivesse.

Superman foi, em essência, sempre o mesmo: o primeiro e mais poderoso dos super-heróis. Batman, por sua vez, teve uma trajetória mais errática, com fases distintas. No início, nos anos 30 e 40, era um vigilante urbano que combatia o crime cometido por vilões fantasiados - ou nem isso. Não se via, em suas histórias, gente voando ou poderes mágicos. Professor Hugo Strange, Mulher-Gato, Cara de Barro, Espantalho e o Coringa (claro!) eram humanos que cometiam crimes simplórios. Batman e seu parceiro-mirim, Robin, precisavam apenas de inteligência e conhecimentos de artes marciais para os combater.

Este cenário começou a mudar por volta dos anos 50, quando os elementos de fantasia ficaram mais presentes nas suas histórias. Em 1952, Batman e Superman atuaram juntos pela primeira vez, o que passou a se repetir com frequência. As histórias dos anos 50 e 60 foram mais inocentes e engraçadinhas, com o surgimento de personagens como Ás, o Batcachorro (que usava máscara de morcego); Mogo, o Batgorila (que usava não só máscara, como capa); e até o Batmirim, um duende caricato de outra dimensão que possui poderes divinos e se veste como seu maior ídolo, o próprio Batman. Foi deste ambiente de humor e inocência que surgiu o seriado televisivo estrelado por Adam West e Burt Ward, marcado por histórias divertidas, efeitos sonoros e onomatopeias nada sutis, vilões com planos mirabolantes e, claro, o herói vencendo no final.

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Os atores Burt Ward e Adam West, no seriado. Foto Warner Bros. Foto: Warner Bros.

Os anos 70 e 80 foram marcados por uma nova guinada. O elemento “fantástico” praticamente desapareceu (exceto pelos poderes de alguns vilões e eventuais aliados), enquanto o humor sumiu completamente. Batman virou um detetive sombrio, com histórias mais intrincadas: crimes complexos, corrupção policial, manipulação política. Um herói mais humano aparece - cansado, machucado, às vezes por barba por fazer, mas sempre brilhante em suas deduções.

A partir do final da década de 80, mas especialmente nos anos 90, houve uma nada discreta mudança no patamar do personagem dentro da própria editora. Batman deixou de ser o “herói sem poderes” da Liga da Justiça e virou um dos seus pesos-pesados. Por meio de inteligência, esperteza, alta tecnologia e planos secretos, tornou-se alguém tão respeitado quanto o Superman e a Mulher-Maravilha. Não havia vilão poderoso o suficiente, ou ameaça cósmica demais, que o homem-morcego não pudesse evitar.

Há uma cena emblemática que marca esta nova fase (que perdura até hoje). Em uma história de 1997, um grupo de nove supervilões, tão poderosos quanto kryptonianos, derrota toda a Liga da Justiça - apenas o morcego escapa. Sozinho, ele começa a confrontar os inimigos, derrotando-os um a um. Seu líder, inconformado, pergunta: “O que está acontecendo? Ele é só um homem!”. Algemado, enfraquecido e gaguejando, Superman responde: “O homem mais perigoso da Terra...”.

Afinal, quem é o Batman? O vigilante urbano, o herói de aventuras fantásticas, um personagem cômico, o detetive sombrio, o super-herói invencível? Talvez um pouco de tudo isso, mas não só. Afinal, sua trajetória de mais de oito décadas ainda não acabou. Novas fases devem vir e, com elas, mais facetas do homem-morcego. E, enquanto ele existir, seus caminhos devem continuar guiando os rumos dos demais super-heróis. Ele é mais do que um dos primeiros personagens do gênero: é, até hoje, um dos seus pilares.

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