‘Blonde’, sobre Marilyn Monroe, ‘aponta dedo para espectador’, diz diretor

Andrew Dominik mostra atriz aniquilada pela fama em novo filme, que estreia na Netflix nesta quarta, 28

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Por Mariane Morisawa

A fama sempre fascinou Andrew Dominik, como mostrou em filmes como Chopper – Memórias de um Criminoso (2000), sobre um homem que sonhava com a fama como criminoso, e O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2007), que fala do célebre fora-da-lei do Velho Oeste, morto por um dos seus homens de confiança.

Mas em Blonde, que estreia nesta quarta-feira (28) na Netflix, depois de participar da competição do último Festival de Veneza, o diretor se arrisca em uma das mais conhecidas e trágicas histórias sobre o tema: a de Marilyn Monroe.

Cena do filme Blonde, inspirado na história de Marilyn Monroe Foto: 2022 © Netflix

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“A fama é algo muito interessante”, disse ele em entrevista ao Estadão, em Veneza. “Marilyn Monroe dizia que, quando se é famoso, você sempre está no inconsciente dos outros.” Dominik sabe do que ela estava falando. Ele tem alguns amigos bastante famosos, de Brad Pitt, um dos produtores de Blonde, a Nick Cave. “Eu vejo como as pessoas reagem a eles. E aí você percebe que os outros estão reagindo a algo que carregam dentro de si. O famoso te coloca em confronto com seus próprios desejos, medos, feridas.”

Ao mesmo tempo, continuou o cineasta, você imagina que ser famoso significa ter uma vida mais fácil. “Ser desejado o tempo todo parece ser muito bom. Mas parece que muitos que foram desejados o tempo inteiro acabaram destruídos de alguma maneira.”

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Como Marilyn Monroe, morta com apenas 36 anos por uma overdose de barbitúricos. Blonde não é exatamente uma cinebiografia, já que se baseia em uma obra de ficção de Joyce Carol Oates. Não há dúvidas de que, no filme, Bobby Cannavale interpreta o segundo marido da atriz, o ex-jogador de beisebol Joe DiMaggio, mas ele é identificado apenas como “O ex-atleta”. O mesmo com o terceiro marido, Arthur Miller (Adrien Brody), aqui somente “O dramaturgo”. E John Fitzgerald Kennedy (Caspar Phillipson) é “O presidente”.

Instabilidade Mental

Dominik também teve de fazer recortes, já que o romance tem mais de 700 páginas. “Eu queria detalhar o trauma da infância e daí mostrar a vida adulta sob o ponto de vista desse trauma”, contou o cineasta. No filme, Norma Jeane, interpretada por Lily Fisher quando criança e Ana de Armas na fase adulta, teve uma infância que foi marcada pela instabilidade mental da mãe, Gladys (Julianne Nicholson). Nunca soube quem era seu pai, o que a marcou durante toda a vida – Blonde destaca como ela chamava seus maridos de “papai”, por exemplo.

Quando a mãe foi internada, ela acabou em casas temporárias e depois em um orfanato. Sofreu abuso sexual, físico, foi vista como mero objeto, sem nenhuma agência sobre seu próprio corpo.

O longa faz questão de mostrar em detalhes cada sofrimento. “O filme fala de como ela se sente. O público precisa sentir o que ela sente”, explicou Ana de Armas.

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Público pensante

“Foi uma experiência incrível para mim, uma oportunidade rara de me arriscar sem medo”, disse Ana. Essa maneira explícita de falar das dores gerou críticas desde a estreia mundial do filme em Veneza. Dominik se defendeu. dedoSe você reconhece o trauma, então não o está explorando”, disse ele.

Seu desejo é fazer o público pensar em sua própria responsabilidade no que aconteceu com Marilyn Monroe. Por isso, parte de imagens conhecidas da atriz, coloridas e em preto-e-branco. “É como se ela estivesse presa nelas, tentando escapar”, disse.

Cena de 'Quanto mais quente melhor', com Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon 

Para o espectador, há algo de déjà vu, de sonho, de algo errado. Porque ele está ali, testemunhando o vestido de Marilyn subindo, mostrando a calcinha, com centenas de homens à sua volta, por exemplo. Quando isso é mostrado, “há um dedo apontado para o espectador”, disse Dominik.

De lá para cá, não mudou tanta coisa. “Veja a Britney Spears”, disse ele. O caça-clique é parte da nossa cultura. “Nós podemos pensar que é horrível, como pode a mídia explorar isso. Mas na verdade somos nós que clicamos ali. Nós temos responsabilidade.”

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Para Ana de Armas, a celebridade, hoje, parece algo diferente. “Há uma fome de fama, sem que se pense nas consequências. Marilyn Monroe não buscou isso”, disse a atriz.

Dominik discordou. Para ele, Norma Jean gerou interesse em si mesma, ficando amiga de fotógrafos e virando uma modelo com seguidores, que a indústria não pôde ignorar. “Em dado momento, os estúdios tomaram conta, e Norma acabou engolida. Ela só queria ser respeitada, mas nunca foi, pelo menos não em vida.”

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