Autor da trilogia cult “De Volta para o Futuro” e de sucessos como “Forrest Gump - O Contador de Histórias” e “Náufrago”, ambos com Tom Hanks, Robert Zemeckis é um diretor de quem sempre se pode esperar um filme bem-acabado e atraente.
A regra se aplica também ao suspense romântico de época “Aliados”, que, curiosamente, causou mais manchetes por razões extracinematográficas --teria sido a causa do fim do casamento entre Angelina Jolie e Brad Pitt, astro deste filme, por causa de um suposto romance com sua colega de set, a premiada francesa Marion Cotillard (Oscar de melhor atriz por “Piaf - Um Hino ao Amor”).
Se as fofocas, sempre desmentidas por Pitt e Marion, ajudaram ou não a divulgação do filme ou sua bilheteria, resta por demonstrar. O fato é que o filme passou quase batido nas indicações do Oscar --entrou só na disputa do figurino (segunda indicação de Joanna Johnston, que concorreu antes por “Lincoln”).
Zemeckis é um diretor que gosta de entreter e o faz com segurança e sem culpa, contando com um roteiro sofisticado e cheio de reviravoltas, assinado pelo experiente britânico Steven Knight (“Senhores do Crime”).
A história começa no Marrocos, em 1942, o que traz à memória ecos do clássico “Casablanca”, lançado exatamente naquele ano, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman no centro do romance em tempos de guerra. A discreta homenagem, no entanto, para por aí, embora neste novo filme o tema seja parecido.
Max Vatan (Pitt) é um oficial da Força Aérea Canadense, cumprindo missão secreta naquele país. Sua chegada, desembarcando de paraquedas e esperando um carro no meio do nada, na verdade, remete a outro filme --“Intriga Internacional” (59), este de Alfred Hitchcock.
No Marrocos, Vatan assume falsa identidade como homem de negócios francês e junta-se à francesa Marianne Beauséjour (Marion), espiã que se faz passar por sua esposa diante da comunidade alemã local. Através desses contatos dela, os dois vão infiltrar-se entre os nazistas para praticar um atentado arriscadíssimo --e que rende uma das sequências mais eletrizantes do filme.
Os dois espiões reencontram-se na Inglaterra, onde finalmente assumem a paixão que teve um primeiro capítulo marroquino. Eles se casam, têm uma filha --que nasce sob um dos muitos bombardeios nazistas sobre Londres-- e levam uma vida bem caseira, para quem tem o currículo dos dois.
Na segunda parte, a história entra gradativamente num tom sombrio, pois começa-se a ter dúvidas sobre a real identidade de Marianne. Um acerto do diretor é na manutenção da ambiguidade da situação, nunca revelando demais sobre o que está realmente acontecendo.
O público pode, legitimamente, acompanhar o desfecho com o coração aos pulos, já que Pitt e Marion entregam à tela seu carisma de casal dos sonhos, com cenas de sexo bastante ousadas e impecavelmente filmadas.
Ainda assim, soa uma nota falsa em alguns momentos, como na resolução do dilema, que derrapa demais no dramalhão, destoando da sobriedade geral da produção, inclusive em termos de realismo político do contexto.
Alguns detalhes promissores, como a presença da irmã lésbica de Max, Bridget (Lizzy Caplan), não dizem bem ao que vieram, exceto adicionar um certo tempero de modernidade. Em todo caso, o elenco de apoio está afinado, destacando-se o alemão August Diehl e o inglês Jared Harris.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.