A empreitada da Disney de lançar seus contos de fadas tradicionais em versões live-action já é cercada de controvérsias, mas nenhum filme chegou tão repleto de polêmicas como o novo Branca de Neve, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 20, com Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) no papel da princesa e Gal Gadot (Mulher-Maravilha) como a Rainha Má.
As críticas ao filme começaram com a escalação de Zegler, atriz americana de origem colombiana que foi questionada por não ter a aparência do desenho. Mais tarde, ela atraiu uma série de ataques de grupos conservadores por afirmar que a história original era arcaica, apontando que o novo longa-metragem faria atualizações à trama.
Essas mudanças estão longe de serem tão drásticas como muitos sugeriram. O enredo, em sua essência, é o mesmo da animação clássica de 1937: Branca de Neve vive presa no castelo por ordem de sua madrasta, uma feiticeira que governa impondo medo. Nesta versão, contudo, a princesa sonha em um dia liderar o povo do pequeno reino onde vive com bondade e gentileza, como seus pais um dia fizeram.
Agora, não há um príncipe encantado - o interesse amoroso é Jonathan (Andrew Burnap), um rebelde que jura lealdade ao antigo Rei e conhece Branca de Neve ao ser pego roubando comida do castelo. Os dois voltam a se encontrar depois que a protagonista é abandonada na floresta por um caçador, que, como no filme original, não tem coragem de matar a princesa a mando da Rainha Má.
Quando foi lançada, a animação de Walt Disney revolucionou o cinema com técnicas inéditas, mas qualquer um que reassistir a ela vai perceber que é uma história datada. As novidades do roteiro de Erin Cressida Wilson (Vinyl) são bem-vindas e não alteram a essência do conto de fadas, cuja primeira versão foi criada pelos Irmãos Grimm no início do século 19.
A direção de Marc Webb (de 500 Dias com Ela e O Espetacular Homem-Aranha) é bem-sucedida em dar ritmo ao filme, e a edição e a fotografia fazem muitas homenagens ao desenho, com cenas que remetem diretamente à animação.
Outro trunfo do longa está na trilha sonora, com músicas originais compostas por Benj Pasek e Justin Paul e novas versões de canções que marcaram a história da Branca de Neve - são elas também que guiam as ótimas sequências musicais que dão vida ao filme.
Gal Gadot, pela primeira vez cantando em filmes, não deixa a desejar. Mas apesar de muito bem caracterizada, a atriz não consegue se destacar como a Rainha Má. Já Andrew Burnap, que fez mais sucesso no teatro do que no cinema, tem charme e química o suficiente com Zegler para convencer.
E é justamente Zegler a grande estrela do filme, conseguindo mesclar a ingenuidade da Branca de Neve com uma nova força acrescentada à personagem nessa versão. Ajuda mais ainda que seu talento vocal seja tão impressionante - é impossível tirar os olhos da tela quando ela canta (na versão dublada, quem dá voz à protagonista é Maria Clara Rosis).

O ponto fraco de Branca de Neve está em mais uma de suas polêmicas, o uso de efeitos especiais para a criação do que seriam os Sete Anões, ao invés da escalação de atores com nanismo. A controvérsia teve início em 2022, quando o ator Peter Dinklage (Game of Thrones) criticou filmes com representações estereotipadas de personagens com nanismo.
Apesar de não ter admitido a possível influência da fala do ator, a produção logo anunciou que Dunga, Zangado e companhia seriam gerados por computador. No filme, os amigos da Branca de Neve nunca são chamados de anões, e são apresentados como criaturas mágicas, com mais de 250 anos de idade.
A criação por computador é bem feita e permite que os personagens se pareçam mais com suas versões do desenho, mas é inevitável pensar que suas expressões computadorizadas poderiam e teriam sido melhores se fossem substituídas por atores reais.

O filme, aliás, inclui no elenco um ator com nanismo, George Appleby, que interpreta Quigg, um dos colegas de Jonathan em seu grupo de rebeldes. Nada disso atrapalha a trama, mas é um pouco confuso, como se o personagem estivesse lá para provar que os Sete Anões não são realmente... anões.
A impressão que fica é que o filme é vítima de suas polêmicas, e tenta compensar e evitar ainda mais críticas, como pode. É difícil escapar do olhar torto antes mesmo de assistir ao longa, mas a verdade é que, mesmo com alguns tropeços, Branca de Neve faz um bom trabalho em atualizar o clássico e merece que o espectador vá de coração aberto à sala de cinema.