Muita coisa já se sabia da 72.ª edição do Festival de Cannes, de 14 a 25 de maio. O cartaz, com uma cena de bastidores da rodagem de La Pointe Courte, homenageia a cineasta Agnès Varda, que morreu em março. O presidente do júri será o mexicano Alejandro González Inãrritu, o filme de abertura, The Dead Don’t Die, de Jim Jarmusch, e Alain Delon, ator de grandes filmes de Luchino Visconti, Jean-Pierre Melville, Joseph Losey e René Clément, receberá uma Palma de Ouro honorária, por sua extraordinária carreira. Tudo isso já era público, mas, na manhã desta quinta, 18, numa coletiva em Paris, o delegado-geral Thierry Frémaux e o presidente do evento, Pierre Lescure, anunciaram a cereja do bolo – a seleção oficial.
Os filmes que vão disputar a Palma de Ouro de 2019. O Brasil está de volta à competição. Três anos depois de Aquarius, Kleber Mendonça Filho e Sonia Braga vão de novo pisar no tapete vermelho do mais ‘midiatizado’ festival de cinema do mundo para mostrar Bacurau. O filme é uma aventura desenrolada no Brasil “daqui a alguns anos”. Kleber codirige com Juliano Dornelles. Com Aquarius, e o protesto que o diretor e sua equipe fizeram na escadaria do palais, em pleno impeachment da presidente Dilma Rousseff, a resposta, no Brasil, foi uma reação de amor e ódio. Na entrevista publicada nesta página, Kleber diz que não se arrepende. E, de qualquer maneira, o regresso a Cannes, e à competição, está garantido. Tudo promete que vai ser um bom ano para o Brasil em Cannes. Dois filmes na seleção oficial – um em concurso, Bacurau, e outro na Mostra Un Certain Regard – A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, de Karim Aïnouz, produzido por Rodrigo Teixeira.
Para o produtor, estrear o filme de Karim em Cannes é uma alegria indescritível. “Um filme que fala sobre amor, sobre amizade e sobre questões tão importantes para o Brasil de agora, colocando no centro de tudo a condição da mulher através de duas protagonistas interpretadas por atrizes brilhantes, é sem dúvida uma grande realização.”
Port Authority, outra produção (internacional) da RT, também estará em Um Certo Olhar. Por falar em produção, não é só Rodrigo Teixeira que tem motivos para festejar. A Gullane Filmes, dos irmãos Caio e Fabiano, coproduz O Traidor, de Marco Bellocchio, sobre o mafioso Tommaso Buscetta, parcialmente filmado em São Paulo. Será uma boa propaganda para a Spcine e a São Paulo Film Commission, que tentam transformar a cidade num cenário atraente – e vantajoso – para investidores internacionais.
Todo ano, o anúncio da seleção oficial de Cannes provoca reações apaixonadas. Mais do mesmo!, gritam os desafetos do curador Frémaux. Sem dúvida que Pierre Lescure e ele possuem seus favoritos, mas é sempre a linha de defesa do delegado-geral. Ele diz que gosta de equilibrar tradição e modernidade, e de qualquer maneira, para satisfazer aos mais radicais, existe a mostra complementar da seleção oficial, Un Certain Regard. Nela, além de Karim Aïnouz, estará, por exemplo, o francês Bruno Dumont, que prossegue contando a saga de Joana D’Arc. Depois de Jeanette, Joana – as batalhas, e com a mesma atriz, a garota Lise Leplat Prudhomme.
Na competição deste ano, encontram-se nomes de sempre. Pedro Almodóvar, com Dor e Glória; Xavier Dolan, Matthias & Maxime; os Irmãos Dardenne, O Jovem Ahmed; Ken Loach, Sorry We Missed You; Arnaud Desplechin, Roubaix Une Lumière. Quem também está de volta, além de Kleber Mendonça e do sul-coreano Bong Joon-ho, com Parasita, é o palestino Elia Suleiman, com It Must Be Heaven.
Os novos são Diao Yinan, com Nan Fang Che Zhan De Ju Hui; Mati Diop, Atlânticos; Ladj Ly, Os Miseráveis; Jessica Hausner, Little Joe; e Justine Triet, Sibyl. Alguns autores já circularam por outras sessões – Ira Sachs, de Frankie; e Céline Sciamma, Portrait de la Jeune Fille en Feu. E ainda haverá o novo Terrence Malick. Um filme autobiográfico? Sua próxima participação em Cannes será com A Hidden Life, Uma Vida Escondida.
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