Chris Hemsworth, o 'Thor', fala sobre seu novo filme 'Resgate'

'Sempre houve muita ação em Thor, nos Vingadores, mas nunca a fisicalidade desse filme', afirma o ator em entrevista exclusiva ao 'Estado'

PUBLICIDADE

Chris Hemsworth, o Thor, está na Austrália, e Sam Hargrave, em Los Angeles. Na terça, 21, a Netflix armou uma sala virtual, fazendo uma conexão triangular para que eles pudessem conversar com exclusividade com o Estado pelo telefone. Pouco antes, outra sala reunira o repórter e os Russo Brothers. Joe e Anthony são os atuais reis de Hollywood, depois que Vingadores – Ultimato se converteu na maior bilheteria de todos os tempos. Os Russos produzem e Joe escreveu o roteiro de Resgate, longa que a plataforma libera em seu streaming a partir desta sexta, 24. É ação como você nunca viu.

Chris Hemsworth estrela o filme 'Resgate' Foto: Jasin Boland/Netflix

PUBLICIDADE

Sam dirige – é sua estreia –, Chris estrela. Conheceram-se nos sets da Marvel, em que Sam dublava o Capitão América/Chris Evans nas cenas mais perigosas e, depois, tornou-se especialista de ação. Joe escreveu, há muitos anos, esse roteiro. Tyler é um mercenário recrutado para resgatar o filho de um chefão, sequestrado pelo principal oponente do pai, aproveitando que ele está preso. O maior traficante da Índia contra o maior de Bangladesh. Começa numa ponte, em meio a muitas explosões. Vira flash-back, reconstituindo o caminho até chegar ali. 

“Quando li a história, ela ainda se passava na América Latina. Fiquei impressionado. Pela carga de ação, era uma coisa que eu me julgava capaz de fazer. Desenvolvi uma intensa camaradagem com Chris, nos sets de que participamos. Contei-lhe sobre Extraction (título original). Começamos a imaginar como faríamos o filme juntos.”

E Chris: “Sempre houve muita ação em Thor, nos Vingadores, mas nunca a fisicalidade desse filme. Tyler é uma alma atormentada. De cara, ele é assombrado por imagens do seu passado, que só ganharão forma no fim. A dupla questão – para Sam, era como contar essa história, esse drama de um homem que quase não fala, mas carrega uma dor, e para mim como interpretá-lo? Como transformar a ação física tremenda em janela para uma coisa mais íntima?”.

Logo no começo, Tyler salta de um penhasco e se isola no fundo da água. Já no fim, o garoto está na piscina, sobe no trampolim e também salta na água. Isola-se lá embaixo. O som do silêncio. As duas cenas como contraponto uma da outra? “Que bom que você notou. São cenas das quais estamos muito orgulhosos. O roteiro original já sinalizava para isso, mas não desse jeito. Foi uma criação conjunta, não saberia dizer de quem. O importante é que, num filme como esse, a própria psicologia tem de se explicar pela ação, por meio de gestos essenciais.” O conceito é straight – direto. Tyler e o garoto vão se aproximar, e terão alguns momentos fortes de diálogos. Na casa em que se escondem, no esgoto.

Publicidade

A cena do esgoto é importante, e não apenas porque evoca verdadeiros clássicos, bastando lembrar a perseguição de O Terceiro Homem, de Carol Reed, com a trilha de cítara de Anton Karas. O esgoto tem as fezes, os ratos. Você quase sente o cheiro da podridão. A escória. “Mudamos o roteiro e situamos a história na Índia porque Joe (Russo) queria refletir sobre um fenômeno contemporâneo. A Índia tem uma das maiores economias emergentes do mundo, mas a exclusão social é imensa no país. Ao mesmo tempo que produz tecnologia de ponta, uma parte muito grande da população vive na penúria, desconectada das redes (sociais). Filmar nos quarteirões mais pobres de Mumbai fez toda a diferença”, explica Sam Hargrave. Chris: “Adoro Thor e os filmes da Marvel que me colocaram no patamar em que estou, mas são filmes de estúdio, com ambientes cenográficos. Aqui, para todo lado que eu me virava e olhava, eram cenários reais, pessoas reais. Não era mais Thor, era Tyler.”

Os irmãos Russo têm cacife para bancar qualquer filme em Hollywood, sabem disso. Mas então por que a Netflix? “Porque as condições estão mudando, a indústria está mudando. Antes fazíamos filmes grandiosos, cheios de efeitos, para passar nos cinemas, enfrentando a concorrência das outras mídias. Mas agora estamos fazendo filmes para plateias de jovens para quem isso não faz mais muita diferença”, diz Anthony. E Joe: “As pessoas não se importam de ver filmes no cinema, na TV ou até no celular. A questão da fruição está se tornando secundária. O público quer a informação, a história – não importa onde. Estamos nos adaptando para buscar o público onde está e, nesse momento, mais que nunca, ele está em casa.” E será indoor que o público poderá ver o eletrizante Resgate.

Crítica: Rostos locais dão tom mais deslumbrante

De cara, quando Tyler/Chris Hemsworth está naquela ponte, em meio a tiros e explosões, ele se protege atrás de um carro e uma imagem lhe vem, meio fora de foco para o espectador. Pernas – de mulher, de criança? Não sabemos nada sobre ele, exceto, talvez, o fato de que, por ser o Thor, o público já espera que seja capaz de um esforço sobre-humano. No meio do filme, num diálogo com o garoto que Tyler tenta salvar, o tema da perda aparece (e cria um vínculo), mas só no fim as pernas ganham foco, um corpo, um rosto. Mal comparando, o clássico Cidadão Kane, de Orson Welles, já começava por um enigma – Rosebud – que só é esclarecido na última cena. Resgate, o longa de Sam Hargrave que chega nesta sexta à plataforma da Netflix, se encerra por outro enigma, outro plano meio fora de foco, que abre uma nova possibilidade dramática, quem sabe narrativa. Na entrevista, você descobre que o roteiro escrito pelo ‘bróder’ Joe Russo é antigo e, originalmente, se passava na América do Sul. Um chefão do crime – da droga? – na cadeia, seu filho que é sequestrado pelo chefão rival. E Tyler/Chris que é contratado pela mulher para resgatar o garoto.

Nada muito transcendental. A história se transferiu para a Índia, o sequestrador controla a polícia, o exército e o tempo todo as pessoas ficam dizendo para Chris – ele, o garoto, é um morto-vivo, está condenado. “Desfaça-se desse cadáver ambulante, tente salvar a própria pele.” Mas a alma torturada do herói, a lembrança daquelas vagas pernas, o impulsiona a agir, a matar. Segundo Chris, havia dois desafios na abordagem dessa história que, basicamente, se apoia na fisicalidade. Como encenar a ação? Como interpretar, quando ela vira a própria psicologia? Há, porém, uma terceira questão – ética. É a velha questão que está no Talmude. Uma vida vale todas as vidas, vale? Morre muita gente enquanto Tyler tenta salvar o garoto. Uma vida pela outra? Golshifteh Farahani é um assombro? Por que essa bela e talentosa atriz iraniana? Os brothers – Joe e Anthony Russo – defendem que, para retratar o mundo, Hollywood precisa desses rostos regionais, e ela é deslumbrante. Tyler precisará de ajuda e, além dela, a pancadaria dará chance a vigorosos atores indianos.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.