Opinião | Christopher Reeve: documentário não esconde polêmicas e fracassos do ator além do Superman

O intérprete mais conhecido do super-herói não chegou a atingir o sucesso comercial em outras produções - e era bastante normal e falível quando não usava a capa vermelha

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Por Nico Garófalo
Documentário 'Super/Man: A História de Christopher Reeve' não ignora controvérsias da vida do ator Foto: Warner Bros./Divulgação

Com estreia marcada para 17 de outubro, Super/Man: A História de Christopher Reeve se divide em narrar a carreira do ator durante seu auge, entre as décadas de 1970 e 1980, e os desafios que enfrentou após o acidente de hipismo que o deixou tetraplégico em 1995. Embora sirva como homenagem ao intérprete definitivo do Superman, morto há 20 anos, o documentário não ignora os fracassos de sua carreira e vida pessoal.

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O longa dirigido por Ian Bonhôte e Peter Ettedgui é enfático ao lembrar os fracassos de Reeve sem a capa e o collant. Embora citem também elogios recebidos por seu trabalho em Em Algum Lugar do Passado e Armadilha Mortal, os cineastas reforçam que, entre 1987, ano em que Superman IV foi lançado, e 1995, quando sofreu o acidente, o ator vinha trabalhando apenas em telefilmes e outras produções de pouco ou nenhum sucesso comercial.

Parte da produção deixa claro que Reeve já não estava feliz no papel do Superman. Em uma das entrevistas incluídas no filme, ele tece comentários negativos em relação à “sequelite”, como ele chamou a fixação de Hollywood em expandir produções individuais em franquias, e o desgaste que sentia de ser reconhecido apenas como um super-herói. Em diferentes momentos, o longa recupera falas do ator sobre os passos que gostaria de dar na carreira, mas que acabaram não se concretizando sob a fama inescapável do Superman.

Com o fracasso comercial de Superman III e Superman IV, as portas pareciam se fechar para Reeve em Hollywood. Sem convites para grandes produções além daquelas estreladas pelo personagem da DC Comics, o ator passou a acumular papéis em filmes para a TV e participações pequenas em séries. Em determinado momento, Matthew Reeve, filho do ator, lembra que seu pai aceitava esses trabalhos para conseguir pagar as contas da família.

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A relação com a família, inclusive, é outro ponto negativo da vida de Reeve que Bonhôte e Ettedgui exploram em Super/Man. Do final repentino de seu longo namoro com Gae Exton, mãe dos dois primeiros filhos do ator, à forma torta como o ele demonstrava carinho pelos filhos, o documentário expõe falhas pouco conhecidas de um homem que, para o bem ou para o mal, passava uma imagem de perfeição para o público. Matthew e Exton em particular têm rápidas, mas duras palavras para falar sobre quem Reeve era longe do olhar público: um homem distante, competitivo e com medo de comprometimento

A forma como Reeve lidava com sua tetraplegia também é ponto de debate em Super/Man. Isso porque, durante sua vida de ativismo após o acidente, o ator foi acusado de militar pela causa de forma egoísta, momento que é pontuado pelo infame comercial que usava computação gráfica para mostrá-lo andando novamente. De acordo com os entrevistados, que incluem nomes como Glenn Close, Susan Sarandon, Jeff Daniels, Whoopi Goldberg, Exton e os filhos do ator, Reeve tinha uma visão muito particular de seu papel como voz da comunidade PCD. Teimoso, ele relevava críticas aos seus métodos até ser confrontado diretamente pela esposa, Dana Reeve, que gradualmente assumiu um papel importante na fundação criada pelos dois para apoiar pesquisas e tratamentos para pessoas paraplégicas.

Não se engane, Super/Man: A História de Christopher Reeve é, de fato, uma grande homenagem àquele que fez o mundo acreditar que o homem podia voar. Mas é nesses lembretes de imperfeições que o filme lembra que Reeve, com toda a sua estatura e beleza heroica, era, de fato, um humano normal, com defeitos, frustrações e arrependimentos, ocultos para quem o conhecia apenas das telas.

Opinião por Nico Garófalo
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