O site do Los Angeles Times publicou com destaque hoje uma matéria criticando o filme brasileiro Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, que estréia nas telas dos cinemas locais. A matéria começa dizendo que "40 anos atrás o nome do Rio de Janeiro era imediatamente associado a sonhos com uma garota de Ipanema. Agora, nos faz pensar sobre crimes", escreve John Powers, lembrando que teve amigos enganados por motoristas de táxi, vítimas de arrastão nas praias - pessoas que viviam uma confortável vida de classe média. O crítico do LA faz uma comparação do que seria o choque com essa violência para quem vive em Los Angeles. Segundo Powers, "este é o mundo retratado no filme que se converteu em um fenômeno no Brasil. Baseado no romance autobiográfico de Paulo Lins, um autor negro que viveu como muitos garotos entre 12 e 20 anos e recriou um mundo no qual muitos brasileiros jamais se atreveriam a entrar. Ele relata a vida como ela é, dentro de uma favela do Rio chamada ironicamente de Cidade de Deus". O crítico não considera o filme de Fernando Mirelles um tratado sociológico, "nem um herdeiro artístico do filme Pixote que Hector Babenco dirigiu em 1981 - uma crônica neorealista da horrível vida das crianças abandonadas do Brasil. Como o mexicano Amores Brutos, de Alejandro González Inárritu, esta é uma peça de internacionalização do cinema latino -americano inspirado no cinema americano de Tarantino, P.T. Anderson e acima de tudo, no Martin Scorsese de Os Bons Companheiros". Para Powers, é um filme nervoso, com uma música forte e que corre sob o espectro da morte próxima. Aponta o fato do filme voltar ao passado para contar o início da história das drogas na favela, no início dos anos 60, imprimindo nostalgia, quando as armas eram usadas para ameaçar, não matar. Na década seguinte tudo mudou de cor, inclusive o filme, de branco-e-preto para colorido. Relata o papel do narrador, do fotógrafo que queria sair daquela vida, da violência entre os garotos, enfin, conta a história do filme, mas critica um pouco a exuberância do estilo hipercinético, a profusão de efeitos visuais, comparando-o aos filmes de Kung Fu. E depois de várias comparações Powers encerra sua crítica perguntando: "Os brasileiros necessitam realmente de um filme para demonstrar a eles como as favelas do Rio são lugares infernais comandados pelos barões da droga e que esta situação é devastadora para as pessoas que vivem ali?"
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