Cinco filmes clássicos de ficção científica: veja como 1982 moldou nosso presente

'ET', 'Jornada nas Estrelas', 'Tron', 'Blade Runner e 'O Enigma de Outro Mundo' marcaram de formas diferentes

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Por Adam Nayman
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No final do filme de ficção científica de Christian Nyby de 1951, O Monstro do Ártico – sobre uma expedição ao Ártico cujos membros são dizimados sorrateiramente por um monstro alienígena acidentalmente descongelado – um jornalista traumatizado usa as ondas de rádio para mandar um aviso urgente. “Cuidado com os céus”, ele insiste sem fôlego, insinuando a possibilidade de uma invasão total nas falas finais. "Continuem olhando. Continuem observando os céus.”

Cena do clássico filme 'E.T., o Extraterrestre' (1982), de Steven Spielberg Foto: Universal Pictures

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Esse apelo por vigilância com olhos de águia se adequava à era pós-guerra da Pax Americana, na qual a prosperidade econômica era alavancada ao lado de uma paranoia crescente – de ameaças vindas de cima ou de dentro. As falas finais do filme foram premonitórias da ascensão do cinema de ficção científica americano, saindo das trincheiras dos filmes B da década de 1950 e entrando no firmamento da primeira linha da indústria várias décadas depois.

O auge dessa trajetória ocorreu no verão de 1982, quando cinco autênticos clássicos do gênero estrearam no período de um mês. Após sua estreia em 4 de junho de 1982, Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan estabeleceu um recorde inesperado ao arrecadar cerca de US$ 14 milhões em seu primeiro fim de semana. Sete dias depois, E.T. O Extraterrestre, de Steven Spielberg, estreou com US$ 11 milhões, mas provou ter pouco fôlego de bilheteria, arrecadando mais de meio bilhão de dólares em todo o mundo. O dia 25 de junho trouxe os lançamentos concorrentes do ambicioso thriller tech-noir de Ridley Scott Blade Runner e do remake para maiores de John Carpenter O Enigma de Outro Mundo, com visões vários tons mais sombrias do que “E.T.”; ambos fracassaram como um prelúdio para sua futura devoção ao culto. Em 9 de julho, o inovador Tron: Uma Odisseia Eletrônica da Disney, ambientado em um universo virtual de software de videogame, completou o quinteto.

Nem todos esses filmes são artisticamente iguais, mas juntos, eles fizeram um argumento convincente para a crescente flexibilidade temática de seu gênero. A variedade de tons e estilos em exibição era notável, de fantasia familiar a horror sangrento. Seja dando um novo estilo a uma ópera espacial em horário nobre ou reformulando o noir dos anos 1940 em um monocromático pós-modernista, os cineastas (e técnicos de efeitos especiais) do verão de 1982 criaram uma temporada sublime de ficção científica que parece, 40 anos depois, a cena primordial para muitos blockbusters de Hollywood sendo feitos - ou refeitos e remodelados - hoje. Como cinco filmes tão inesquecíveis podem chegar ao mesmo tempo?

Se o verão de 82 representou a gentrificação da ficção científica cinematográfica ou seu ápice artístico, a síntese entre espetáculo e sociologia do gênero estava em andamento há algum tempo. Seguindo as pulp fictions dos anos 50, se houve um filme que representou um grande salto para a ficção científica cinematográfica, foi “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick em 1968, narrativamente opaco e em escala épica, que não só apresentou uma enormee misterioso monólito, mas também pareceu um aos olhos da crítica e do público.

A grandeza do filme era inegável, assim como sua gravidade: era um épico com um ponto de interrogação. Quase uma década depois, Guerra nas Estrelas usou uma série semelhante de efeitos especiais para cultivar sensações mais leves. Em vez da ansiosa alegoria de Kubrick sobre humanos superados e destruídos por sua própria tecnologia, George Lucas colocou o escapismo na mesa – “há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante” – e encenou uma batalha tranquilizadora maniqueísta entre o bem e o mal, com excelentes alienígenas em ambos os lados.

No mesmo ano de Guerra nas Estrelas, Contatos Imediatos do Terceiro Grau de Spielberg reacendeu as vibrações paranoicas de invasão alienígena dos anos 50 com um toque otimista. O filme havia sido originalmente intitulado Watch the Skies (Observe os céus) em homenagem ao clássico de Nyby, mas era um convite para uma forma mais benevolente de observação de estrelas: seu culminante show de luzes era tão patriótico quanto os fogos de artifício do 4 de julho, com uma mensagem de contracultura digna de Woodstock: Faça amor, não faça guerra (entre os mundos).

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O que uniu Guerra nas Estrelas e Contatos Imediatos, além do senso compartilhado de seus criadores sobre a história do gênero (e sua mecânica), foram seus apelos diretos tanto para as crianças quanto para as crianças interiores de adultos em todos os lugares. Na New Yorker, a influente e severa crítica Pauline Kael disse que George Lucas estava “no ramo dos brinquedos”. Como o cientista no final de O Monstro do Ártico, ela estava dando o alarme sobre o que via como uma influência poderosa e perniciosa: a infantilização do público de massa pelo espetáculo dos efeitos especiais.

No entanto, mesmo Kael se submeteu aos encantos descaradamente populistas de E.T., que ela descreveu como sendo “banhado em afeto”. Ela escreveu que o filme, sobre a amizade íntima entre um menino de 10 anos e uma coisa benigna de outro mundo, “lembra os sonhos mais bobos que você teve quando criança”.

Com suas imagens iniciais de lanternas cortando bosques escuros e a cena de conto de fadas de uma bicicleta de 10 marchas voando sobre a lua, E.T. é realmente onírico; lançado dois anos antes da campanha de Ronald Reagan vender a promessa de Manhã na América, Spielberg evocou o equivalente cinematográfico de um amanhecer.

Se o verdadeiro legado de Guerra nas Estrelas foi a mutação do cinema em outros produtos potencialmente consumíveis, o heroísmo antiquado de carne e osso de A Ira de Khan, que reuniu uma trupe de atores de TV de meia-idade, pode ter oferecido um contraponto atraente. Em um momento em que o mainstream estava tentando cortejar os espectadores adolescentes (os dias de glória dos filmes de John Hughes) ou idiotizar, Khan orgulhosamente usava suas referências do século 19 em seus uniformes da Frota Estelar.

Depois de reclamar que “andar pelo cosmos é um jogo para os jovens”, o capitão Kirk (William Shatner) recebe uma cópia de Um Conto de Duas Cidades de Charles Dickens em seu aniversário. Seu rival, o super-homem geneticamente modificado e congelado criogenicamente Khan (interpretado por Ricardo Montalbán), se imagina como um novo capitão Ahab ultramoderno, com o inexperiente e complacente Kirk como sua grande baleia branca. “Do coração do inferno, eu te apunhalo”, sussurra Khan durante um confronto final. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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