Existiam festivais maiores e mais tradicionais, como Brasília e Gramado, mas o do Recife, o Cine PE, se destacava por uma particularidade. As sessões, durante muitos anos, se realizavam no Centro de Convenções de Olinda, um ginásio gigantesco convertido em Cine-Teatro Guararapes. Eram sessões para milhares de espectadores, e lotavam.
Muitos filmes brasileiros fizeram no Cine PE - Festival Audiovisual a sua maior plateia, senão toda a sua plateia. No início da era Bolsonaro, quando premiou o doc sobre Olavo de Carvalho - O Jardim das Aflições -, o Cine PE caiu em desgraça entre a crítica.
Em sua 26.ª edição, o festival tenta agora reerguer-se. Começa nesta sexta, 9, e vai até quarta, 14. Ocorrerá em duas salas centrais do Recife, o Cine São Luiz e o Teatro do Parque.
Mesmo na sua fase mais polêmica, o Cine PE, realizado por Sandra Bertini, tinha espaço para um artista tão radical quanto Luiz Rosemberg Filho, de quem apresentou o genial Guerra do Paraguai. O festival deste ano outorga prêmios especiais, de carreira, a duas personalidades acima de qualquer suspeita, o diretor Sérgio Rezende e a atriz e diretora Bárbara Paz. O carioca Rezende, de 71 anos, é autor de filmes que retraçam a história do Brasil - Lamarca, Guerra de Canudos, Mauá - O Imperador e o Rei, Zuzu Angel, O Paciente - O Caso Tancredo Neves. São filmes grandes, do ponto de vista da produção, e empenhados politicamente, mas pode-se preferir o Rezende de obras de um perfil menor, mas de inegável riqueza estética, como Até a Última Gota, Quase Nada ou O Jardim Secreto de Mariana.
Atriz de teatro, cinema e TV, a gaúcha de Campo Bom Bárbara Paz, de 48 anos, foi premiada em Veneza por seu doc Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, sobre o cineasta com quem foi casada.
Como parte da homenagem a Sérgio Rezende, o festival vai apresentar o doc que ele fez sobre Leila Diniz - Leila para Sempre Diniz, em 1975. No total, inscreveram-se 731 títulos para as três competições - longas nacionais (seis filmes), curtas pernambucanos (outros seis) e nacionais (12 títulos). A curadoria é de Edu Fernandes e Nayara Renaud.
Na disputa
Os seis longas que vão concorrer ao troféu Calunga são Vermelho Monet, de Halder Gomes, o consagrado criador de Cine Holliúdy; Aldeia Natal, de Guto Pasko; Gerais da Pedra, de Paulo Júnior, Gabriel Oliveira e Diego Zanotti; Casa Isabel, de Gil Barone; Um Outro Francisco, de Margarita Hernández; e Rama Pankararu, de Pedro Sodré. Representam a diversidade da produção nacional, vinda de São Paulo, Paraná, Minas, Ceará e Rio.
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