A sessão das 21h30 do premiado filme sul-coreano Parasita na noite de quarta-feira, 19, torna-se o marco de uma triste notícia: será a última sessão do Cinearte – o tradicional conjunto de duas salas localizado dentro do Conjunto Nacional, na região da Avenida Paulista, fechará definitivamente suas portas por falta de condições financeiras. O custo mensal era de aproximadamente R$ 200 mil, entre condomínio, aluguel e energia.
A crise começou em fevereiro de 2019, quando o distribuidor e exibidor Adhemar Oliveira recebeu da Petrobrás a notificação de que o conjunto de duas salas (de 300 e 100 lugares) perderia o patrocínio a partir de 31 de março daquele ano, quando se encerrava o contrato que não seria renovado. Fazia cinco meses que ele buscava novos associados, mas sem resultados.
Na época, Oliveira usou uma metáfora para definir a situação: “Estou na lona de novo”. Segundo ele, a empresa foi beneficiada com a parceria. “O contrato com a Petrobrás foi feito em 2018, em um momento que já era de retração, mas o que posso dizer é que, se foi bom para o cinema, o retorno de marketing para a empresa também foi”, disse.
Adhemar destacava a importância de manter os chamados espaços-cinemas de centros comerciais ou de rua. O impacto que eles têm sobre a vizinhança é imenso. “Os shoppings garantem um tipo de relação com o público que esses espaços não têm, daí a importância do patrocínio”, observou.
O cinema foi inaugurado em 9 de março de 1963, com o nome de Cine Rio e 500 lugares. Era a segunda sala no Conjunto Nacional que, desde 1961, contava com o Astor, então o mais luxuoso e moderno da cidade.
O filme de estreia foi O Assassino, do italiano Elio Petri, com Marcello Mastroianni. A programação, no entanto, se baseava em filmes populares, segundo informa Antonio Ricardo Soriano, no site Salas de Cinema de São Paulo. Como Cine Rio, o espaço encerra forçosamente suas atividades em setembro de 1978, quando um incêndio destruiu parte do Conjunto Nacional.
Em novembro de 1982, reabre novamente com o nome Cine Arte Um, com o filme Mamãe Faz 100 Anos, do cineasta espanhol Carlos Saura. A proposta da sala passa a privilegiar longas de arte. Em 1995, uma nova sala é incorporada ao conjunto, agora intitulado Cine Arte. A fusão dos dois nomes acontece em 2002, quando Adhemar Oliveira e Leon Cakoff, organizador da Mostra de Cinema de São Paulo, assumem a propriedade. Nessa época, já havia o déficit comercial, ameaçando constantemente o espaço de fechar.
Uma vigília cinematográfica foi organizada na noite do dia 25 de abril de 2003, chamando atenção para a dificuldade financeira do cinema. O trabalho frutificou e, em 2005, o espaço ganha um patrocínio, passando a se chamar Cine Bombril, agora reformado.
Em 2010, novo patrocinador faz com que o espaço passe a se chamar Cine Livraria Cultura, com os leitores do plano de fidelidade da livraria conseguindo desconto no ingresso do cinema. A Petrobrás chegou em 2018, quando, no dia 29 de maio, a exibição do filme Paraíso Perdido, de Monique Gardenberg, reabre o cinema.
A empresa petrolífera não renovou, porém, o contrato em março de 2019, quando o cinema torna-se apenas Cinearte. Não foi possível alocar os funcionários em outras salas. Há, porém, uma esperança: no mercado, comenta-se que a rede Cinépolis estaria interessada em ocupar as salas. Não há, ainda, confirmação.
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