Greta Garbo fez filmes melhores – Rainha Cristina, de Rouben Mamoulián, de 1933; A Dama das Camélias, de George Cukor, de 1936 -, mas foi em Grande Hotel, de 1931, que ela disse a frase à qual foi sempre associada. Sua personagem, a bailarina Grusinskaya, parece genuinamente angustiada, e cansada de tudo. O mundo, a vida. “I want to be alone.” Grande Hotel ganhou o Oscar de melhor filme de 1931/32, mas não o de melhor diretor. Edmund Goulding nem foi indicado, e a Academia premiou Frank Borzage, por Bad Girl. Com o tempo, Grande Hotel passou a ser cultuado e hoje é reconhecido como a quintessência do filme que espelha o star-system.
All star! Além da Garbo, também Joan Crawford, John Barrymore, Lionel Barrymore, Wallace Beery, Jean Hersholt, etc. Um hotel de luxo, as histórias cruzadas e homens e mulheres. Grusinskaya já foi grande, mas sente que sua carreira está em declínio. A primeira fala já entrega tudo - “Nunca me senti tão cansada.” Ela resolve não mais usar seu valioso colar de pérolas, porque acha que lhe traz má sorte. E quer ficar sozinha. O barão falido Von Gaigern rouba o colar, mas tem de se esconder no quarto dela. Descoberto, faz-se passar por fã, devolve a joia e... Apaixonam-se! Von Gaigern, que ainda precisa de dinheiro, tenta roubar o empresário inescrupuloso Preysling, que está na mira do escriturário Kringelein. E não se pode esquecer da funcionária do hotel, Flaemmchen, interpretada pela jovem Joan Crawford. Para a crítica da época, Joan conseguia estar melhor do que Garbo, e as duas eclipsavam o restante do elenco. Arts Weekly destacou o 'fragrant and exquisite disappointment' da presença de Garbo nesse filme.
A produção de Grande Hotel daria outro filme. Tudo começou com o livro Menschen im Hotel/Pessoas no Hotel, de Vicky Baum, publicado na Alemanha em 1929. Para garantir a autencidade do material, Vicky chegou a trabalhar durante seis semanas num hotel de Berlim. O livro estourou, virou sucesso de vendas e deu origem a uma peça que fracassou em Berlim. A essa altura, Grande Hotel já adquirira projeção internacional, e naquele tempo não havia internet. A Metro Goldwyn Mayer, em Hollywood, interessou-se pelos direitos, mas eles pertenciam ao produtor de teatro, que ainda acreditava no sucesso e se preparava para estrear a peça em Nova York. A Metro pagou-lhe o triplo (US$ 15 mil) do valor pago à autora, e ele ainda acrescentou uma cláusula ao contrato. O filme só poderia estrear 18 meses, um ano e meio depois do início das apresentações na Broadway.
O que poderia criar dificuldade revelou-se providencial. A Metro teve bastante tempo para trabalhar o roteiro, trocar o diretor – Paul Fejos, que havia chamado a atenção do estúdio para o livro e até feito a mediação na compra dos direitos, revelou-se inadequado e foi substituído por Edmond Goulding – e até selecionar o elenco, embora desde o início Grande Hotel tenha sido pensado como um veículo para a divina Garbo. Ela tinha 26 anos – John Barrymore, 52 -, mas a fadiga e o desespero estão ali, à flor da pele. Vale lembrar o que escreveu Pauline Kael (em 1001 Noites no Cinema, coletânea de críticas selecionadas por Sérgio Augusto) - “Como uma secretária que trabalha no hotel, temos uma sirigaitazinha surpreendentemente sexy, chamada Joan Crawford, que tem apenas uma tênue semelhança com a zumbi posterior de mesmo nome.”
Stardom - estrelato. As histórias entrelaçadas de amor, traição e até morte ganham mais glamour com os astros e as estrelas. O mais curioso é o personagem que chega para comentar que o hotel é um tédio. E acrescenta - “Nada acontece aqui.” Acontece tudo. E, embora supostamente o Grande Hotel seja em Belim, o clima é totalmente made in U.S.A. Garbo e seu casaco de chinchilha, a direção de arte de Cedric Gibbons, a fotografia de William Daniels, os vestidos de Adrian, toda a Metro está ali para celebrar a realeza de Hollywood. E Garbo.
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