Um grupo de alunos está em uma sala, distribuído em um círculo. Todos vestem amarelo, com cores pastéis bem marcantes. Aos poucos, eles começam a explicar o porquê de estarem naquela aula extracurricular: necessidade de mais créditos escolares, vontade de mudar o mundo, ter uma alimentação mais saudável. Que raios de aula é essa, enfim?
Clube Zero, novo filme da cineasta Jessica Hausner (Little Joe: A Flor da Felicidade), logo revela o que quer contar: a jornada de uma classe em uma aula de reeducação alimentar. Por esses diferentes motivos, apresentados no início pelo texto de Hausner e de Géraldine Bajard, esses jovens resolveram entrar nessa aula e entender mais sobre alimentação. No comando do “curso”, Srta. Novak, vivida pela ótima Mia Wasikowska (A Colina Escarlate).
Mas qual o objetivo disso? Obviamente, filmes não precisam obrigatoriamente ter alguma mensagem ou intenção, mas é preciso causar alguma coisa – um sentimento, uma emoção, qualquer coisa. Clube Zero se mantém na neblina: sabemos como a história está prosseguindo, acompanhamos os passos dos personagens na escola, mas não há clareza.
Wes Anderson na Grécia
A única coisa realmente evidente aqui é o trabalho estético de Hausner. A diretora, que passou por Cannes com a produção, não se envergonha em deixar claro que está se inspirando nos enquadramentos e nas cores de Wes Anderson e na apatia proposital, e um tanto estranha, do cinema grego moderno – com Yorgos Lanthimos como seu propulsor.
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Não há problemas nessa inspiração, desde que sirva aos propósitos da trama. Mas aí voltamos: quais propósitos? Até Anderson, cineasta tão preocupado com o minimalismo de suas cenas, mandou tudo às favas (mas ainda com enquadramentos perfeitos!) com Asteroid City, quando deixou as tramas meramente simpáticas para abraçar a profundidade de um tratado existencialista sobre luto. A perfeição dialoga com a imperfeição realista.
Depois de apresentar os objetivos de vida de cada um dos alunos no início do filme, naquele círculo em que falam os motivos que os levam a mudar a alimentação, Clube Zero fica andando a esmo, sem vontade, apenas preocupado com essa estética moderninha.
Hausner chega a beliscar alguns temas interessantes, como a relação entre escola e os pais dos alunos, assim como professores e estudantes, mas parece se afastar de temas espinhosos com medo de se complicar ainda mais – Sala dos Professores, indicado ao Oscar de melhor filme internacional em 2024, mergulha nesses temas com mais capacidade.
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Na era em que vídeos de dancinhas atingem milhões de visualizações, em que jovens se sentem pertencentes à grandiosidade do mundo mesmo se deparando com o vazio, Clube Zero tenta falar sobre isso, mas sem compreender de fato os dilemas dessa geração.
“[O filme] tem a ver com o desejo de pertencer a um grupo e de encontrar sentido, e de fazer parte de algo que lhe dê a sensação de que vale a pena viver a sua vida”, disse a diretora ao site The Moveable Fest. Pode até haver uma certa intenção aqui em falar sobre cultos, pertencimento e, principalmente, de efeito manada. Mas sem ter algo profundo a dizer, o filme acaba vítima do que mais critica: embarcar em modas sem ter o que dizer.
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