Opinião | Com Robert de Niro, ‘The Alto Knights: Máfia e Poder’ é filme empoeirado. Infelizmente

Longa de Barry Levinson renasceu após ficar 50 anos na gaveta e traz Robert de Niro no papel de dois mafiosos em conflito

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Foto do author Matheus Mans

A história por trás de The Alto Knights: Máfia e Poder, que estreou nesta quinta-feira, 20, é digna de cinema: o roteirista Nicholas Pileggi (Os Bons Companheiros, O Irlandês) começou a oferecer este roteiro na década de 1970, mas foi rejeitado. Até que a Warner, nos anos 1990, ficou interessada – mas não o bastante para fazer o projeto andar, deixando-o na gaveta até 2022, quando o executivo David Zaslav resolveu dar vida ao longa-metragem.

O filme, que ficou com direção do respeitadíssimo Barry Levinson (Rain Man, Sleepers), é, assim, o primeiro projeto sob influência direta de Zaslav, que tenta dar uma nova cara ao agora conglomerado Warner Bros. Discovery. Uma pena, porém, que esse tempo parado na gaveta tenha feito mal ao filme: The Alto Knights nasce com gosto de velho, empoeirado.

Em 'The Alto Knights', Robert de Niro chega à tela em dose dupla pela primeira vez Foto: Warner Bros. Discovery/Divulgação

Mistura de outros filmes

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Na história, que parece uma mistura de outros filmes de Pileggi, principalmente O Irlandês, dois mafiosos de Nova York estão em verdadeiro pé de guerra. De um lado, o corretíssimo Frank Costello. Do outro, o caótico e emocional Vito Genovese, que tenta, em um rompante, assassinar Costello – que, outrora, era seu amigo de infância. É uma história baseada em fatos, mergulhando na intrincada e complexa sociedade americana dos anos 1950.

O principal acerto de The Alto Knights reside na escolha mais curiosa do elenco: colocar o astro Robert de Niro tanto como Costello quanto como Genovese. São dois papéis similares, mas que exigem habilidades diferentes de De Niro – esse ator que parece estar preso no mundo da máfia desde O Poderoso Chefão 2, passando por Os Bons Companheiros, Era Uma Vez na América, Cassino, Os Intocáveis e, claro, O Irlandês.

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Pode parecer mais do mesmo, mas De Niro consegue imprimir personalidade às figuras marcantes de Costello e Genovese. O primeiro é interpretado como um homem mais contido, que parece estar calculando cada passo, fala e atitude. Já o segundo não esconde suas frustrações e ideias, dando mais liberdade para o ator. É interessante ver um artista tão versátil como De Niro experimentando em cena, por mais engessado que seja o filme.

Cena do filme 'The Alto Knights', com Robert de Niro Foto: Warner Bros. Discovery/Divulgação

Afinal, The Alto Knights é uma história que nunca se permite ser – está sempre um passo atrás, quase com medo de ir além. Mas é interessante o embate entre Costello e Genovese quando este último tenta matar o primeiro. É a alma do filme, a história a ser contada. No entanto o roteiro de Pileggi insiste em falar sobre os tempos iniciais dos dois na máfia, sobre como se tornaram rivais. Oras, isso não interessa: o coração do filme é o conflito.

Nuvem de poeira

Indo e voltando sem parar, o longa-metragem fica tropeçando em si próprio, envolto em uma nuvem de fumaça (ou seria de poeira?) que vai impedindo a história de avançar. Pior: sem saber muito como juntar tudo numa história única e coesa, Levinson e Pileggi colocam Costello, já envelhecido, narrando toda a jornada dos personagens num didatismo infantil.

Fica a sensação de que é um filme de potencial perdido, que apenas junta ideias que Pileggi fez mais e melhor antes. Se fosse um filme lançado nos anos 1970, seria outra história - o que também merece um momento de crítica à indústria, que engavetou o filme lá atrás, apesar das ideias originais que tinha na época.

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Pelo menos o longa nos permite vislumbrar o humor de seus realizadores aqui e acolá, principalmente quando coloca mafiosos discutindo sobre a origem dos mórmons (e mostrando a ganância de Genovese) ou quando gangsters correm da polícia no jardim. Levinson mostra que ainda tem algo a mostrar, após anos escanteado fazendo filmes para TV quase sempre ignorados.

Após filmes como O Irlandês, Os Bons Companheiros e O Poderoso Chefão, The Alto Knights soa apenas como uma repetição sem fim, como se fosse apenas um amontoado de ideias despejadas ao longo do tempo – sendo que, no final, talvez este novo filme tenha sido a semente de todos os outros que soam tão iguais.

No final das contas, os bastidores de The Alto Knights são mais interessantes do que o filme em si. E isso nunca é bom sinal.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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