Comédia romântica: a nova velha aposta de Hollywood (e do streaming)

Com pandemia, gênero encontrou novo vigor em plataformas como a Netflix e com adaptações no roteiro e elenco

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Por Sabrina Gabriela
Atualização:

Entre os anos 1990 e o começo dos 2000, era praticamente impossível ir ao cinema sem ver o cartaz ou assistir ao trailer de algum novo filme de comédia romântica. Quem Vai Ficar com Mary (1998), Mensagem Para Você (1998), O Diário de Bridget Jones (2001) e Diário de Uma Paixão (2004) são apenas alguns exemplos de grandes sucessos do gênero que datam dessa época, acumulando milhões de espectadores. Cameron Diaz, Matthew McConaughey, Meg Ryan e Hugh Grant construíram grande parte de suas carreiras com base nesses longa-metragens, no papel de galã ou mocinha. Contudo, com o passar das décadas, esses filmes se tornaram ‘formulaicos’ (que seguem determinada fórmula) e o mercado das comédias românticas ficou saturado com uma sucessão de clichês açucarados. Foi só questão de tempo até que os super-heróis tomassem o espaço que antes pertencia às histórias de amor nas telonas.

Cameron Diaz e Lee Evans em 'Quem Vai Ficar com Mary?'(1998). Foto: Twentieth Century Fox Film Corporation

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Os últimos anos, porém, foram bondosos com o gênero, sobretudo com a ajuda do streaming. Em 2018, a Netflix reforçou sua aposta nas comédias românticas ao anunciar alguns novos filmes do tipo, e, em três meses, cerca de 80 milhões de pessoas assistiram a algum de seus originais de amor. Assim, títulos como Para Todos os Garotos que Já Amei, Sierra Burgess é uma Loser, O Plano Imperfeito e A Barraca do Beijo preencheram as telas de inúmeras televisões pelo mundo.

Alguns dos novos fãs do gênero ficaram bastante apaixonados pelos novos longas: segundo a plataforma, um em cada três indivíduos que assistiu a A Barraca do Beijo deu play no filme mais de uma vez. Nos Estados Unidos, ele foi considerado um dos mais populares do país.

Mas o que explica esse retorno súbito das histórias de amor? Um dos fatores responsáveis pela recente popularidade do nicho é a repaginação dos elencos. Se, em produções anteriores, tanto a mocinha quanto sua melhor amiga e interesse romântico eram jovens brancos, heterossexuais e magros, agora, os novos filmes trazem personagens e protagonistas membros da comunidade LGBT+ (como em Com Amor, Simon), descendência asiática (Para Todos os Garotos que Já Amei e Podres de Ricos), negros (a série Sex Education), diferentes do padrão gordofóbico (Sierra Burgess é uma Loser), entre outros. Essa mudança traz um novo fôlego, refrescante e há muito necessário no ramo.

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"Recentemente, nos afastamos das décadas anteriores em que comédias românticas mostravam mulher atrás de homem para realizar seus sonhos”, explica Aleteia Selonk, professora de Produção Audiovisual da PUC-RS. “Atualmente, esse tipo de colocação é desinteressante para a sociedade, que já não vê as coisas assim. Realizar o amor ou o acolhimento não está mais necessariamente no casamento, no homem e mulher, e, por isso, temos visto produções do mundo todo trazendo cada uma suas realidades culturais locais e muito mais variedade, mudando até o que consideramos um final feliz."

Outro fator de importância foi a opção do streaming em investir nesse ramo, o que levou à redescoberta de um nicho cinematográfico com muito potencial. “O streaming deu possibilidades para a indústria aumentar o volume de produções sem necessariamente se preocupar com as bilheterias nos cinemas, o que antes representava um grande risco, já que o fracasso suplantava as chances de alguns atores ou atrizes e diretores prosperarem na indústria”, afirma Lorenna Montenegro, associada da Associação Brasileira de Críticos de Cinema. “Logo, o investimento na compra de obras que já têm certo sucesso comercial em sua fórmula, como personagens jovens enfrentando problemas rotineiros, se avolumou, e alguns produtos acabaram recebendo grande aceitação.”Desse modo, a grande variedade de filmes oferecidos pelas plataformas de streaming representou uma importante mudança do cenário.

Além disso, em tempos de pandemia, um aspecto antes criticado das comédias românticas agora tem sido visto com outros olhos: a certa previsibilidade que uma fatia significativa das suas produções contém. "Tudo bem querer um produto que te dá conforto, um calorzinho no coração”, explica Aleteia. “Para a audiência do sofá, a previsibilidade é um fator bom, e tudo bem a plateia saber que quer aproveitar esse lugar seguro." Em uma época de incerteza, não há nada como um produto que traz conforto.

6 comédias românticas para quem gosta do gênero:

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Quem vai ficar com Mary? 

(There's Something about Mary). EUA, 1998. Direção de Bobby Farrelly e Peter Farrelly, com Cameron Diaz, Matt Dillon, Ben Stiller e Lee Evans.  Ted (Stiller) é um nerd que nunca se esqueceu da sua paixão no ginásio, Mary (Cameron). Anos depois, decide encontrá-la e contrata um detetive amalucado (Dillon) para encontrá-la. Até chegar a esse ponto, o filme exibe uma interminável série de gags incorretas, que se transformaram em grande sucesso de público. Apesar das boas interpretações de Stiller e Dillon, o destaque principal fica com Cameron Diaz, linda e exuberante, no papel que a tornou popular.

Mensagem para Você 

(You've Got Mail).EUA, 1998. Direção de Nora Ephron, com Meg Ryan, Tom Hanks e Greg Kinnear.  Pela internet, Kathleen Kelly e Joe Fox se conhecem e iniciam uma promissora amizade. Ela é dona da Loja da Esquina, uma livraria tradicional e bem-sucedida, até a chegada dele com a Fox Books, uma concorrente no mesmo bairro. Os dois iniciam uma grande disputa pelo mercado e Kathleen terá de fechar sua loja, por causa da concorrência desleal da Fox. Inimigos no dia a dia, os dois desconhecem a identidade um do outro nas conversas por e-mail, a ponto de se apaixonar mesmo sem se ver. No fim, dá tudo certo.

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O Diário de Bridget Jones

(Bridget Jones Diary). EUA, 2001. Direção de Sharon Maguire, com Renée Zellweger, Colin Firth, Hugh Grant.  Mulher de 32 anos que, em pleno réveillon, decide que já está mais do que na hora de tomar o controle de sua própria vida e também de começar a escrever um diário. Com isso, começa a escrever o mais provocativo, erótico e histérico livro que já esteve na cabeceira de sua cama, onde ela poderá também colocar as suas opiniões sobre os mais diversos assuntos de sua nova vida. Comédia de sucesso, inspirado em livro best-seller. O talento do trio Renée-Firth-Grant garante boas risadas. 

Com Amor, Simon

(Love, Simon). EUA, 2018. Direção de Greg Berlanti, com Nick Robinson, Katherine Langford, Jennifer Garner Aos 17 anos, Simon Spier aparentemente leva uma vida comum, mas sofre por esconder um grande segredo: nunca revelou ser gay para sua família e amigos. E tudo fica mais complicado quando ele se apaixona por um dos colegas de escola, anônimo, com quem troca confidências diariamente via internet.

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Podres de Ricos

(Crazy Rich Asians). EUA, 2018. Direção de Jon M. Chu, com Constance Wu, Henry Golding, Michelle Yeoh Rachel Chué uma professora de economia nos EUA e namora com Nick Young. Quando ele a convida para ir ao casamento do melhor amigo, em Singapura, Nick esquece de avisar à namorada que, como herdeiro de uma fortuna, ele é um dos solteiros mais cobiçados do local, colocando Rachel na mira de outras candidatas e da mãe de Nick, que desaprova o namoro.

Sierra Burgess é uma Loser

(Sierra Burgess is a Loser). EUA, 2018. Direção de Ian Samuels, com Shannon Purser, Kristine Froseth, RJ Cyler Sierra é uma adolescente inteligente, mas não se encaixa nos padrões de beleza determinados pela comunidade escolar. Até que um problema envolvendo confusão de identidade resulta em um romance inesperado em sua vida. Ela, então, se vê obrigada a se juntar à garota mais popular da escola para poder ficar com o menino que gosta.

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