Opinião | Comédia romântica ‘Todos Menos Você’ acerta na química entre atores e erra nas piadas

Filme com Sydney Sweeney e Glen Powell mostra que histórias sobre amores impossíveis ainda podem divertir - e no cinema, não apenas no streaming; leia crítica

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Foto do author Matheus Mans

Quem disse que comédia romântica é filme de streaming? Já faz alguns anos que esse gênero, antes um dos mais populares em bilheteria, ficou refém dos lançamentos de plataformas como Netflix e Amazon Prime Video.

Só um ou outro chegava além, como o simpático Case Comigo. Desde o ano passado, porém, parece que a maré está mudando em definitivo: primeiro com Que Horas Eu Te Pego?, com Jennifer Lawrence, e agora com Todos Menos Você.

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O primeiro chegou aos cinemas testando o público: não só era um filme de comédia romântica, mas também experimentava os limites das pessoas com esse gênero. Há piadas bastante sexualizadas e cenas de nudez completa. Parecia um filme dos anos 1990. E fez uma bilheteria razoável: mais de US$ 87 milhões em todo o mundo, cerca de R$ 429 milhões, na cotação atual.

Recentemente chegou aos cinemas esse “filhote” do filme de Lawrence que é Todos Menos Você. Filhote pois, mesmo com histórias que nada têm em comum, segue o caminho trilhado – e até bem-sucedido – do outro longa.

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Além da história bonitinha, sobre um homem (Glen Powell) e uma mulher (Sidney Sweeney) que se detestam e fingem viver um relacionamento para tranquilizar a família, o filme traz piadas sujas, momentos de nudez e uma cena, um tanto quanto constrangedora e fora de tom, com os protagonistas mexendo na bunda um do outro na frente dos amigos.

Todos Menos Você parece consolidar duas coisas, assim.

Primeiro, essa retomada do gênero nas salas de cinema – o filme, que também já estreou lá fora, passou dos US$ 100 milhões de bilheteria (R$ 493 milhões).

Em segundo lugar, que talvez as comédias românticas dos anos 2020 sejam essas com piadas menos familiares, digamos assim. É como se fosse A Proposta, de 2009, com toda a trama do relacionamento de mentirinha, mas (bem) mais pesado.

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'Todos Menos Você' chegou aos cinemas brasileiros em 25 de janeiro. Foto: Sony Pictures/Divulgação

A química Powell-Sweeney

Para além da questão de um novo momento no cinema, Todos Menos Você também tem seus méritos como filme. O cineasta Will Gluck (A Mentira) erra bastante o tom em alguns momentos, às vezes passando demais do limite do aceitável e do realista – a cena da mulher apagando um incêndio quase nua, a busca pela aranha nas calças e aquela cena, já citada, dos personagens se acariciando em público.

Apesar disso, há algo aqui que ajuda o filme a ir além: a boa química entre Powell (Top Gun: Maverick) e Sweeney (Euphoria). Os atores, que movimentaram os bastidores com fofocas sobre traição e coisas do tipo, estão realmente bem em cena. O espectador compra a ideia de que aqueles dois se detestam, em um primeiro momento, para depois começar a torcer para que eles deixem as diferenças de lado e se amem.

Glen Powell e Sidney Sweeney têm boa química em 'Todos Menos Você', comédia romântica que já arrecadou mais de 100 milhões de dólares. Foto: Sony Pictures/Divulgação

É claro que, nesse amor entre tapas e beijos, nunca há espaço para criar um drama humano e profundo, por mais que Gluck tente dar alguma profundidade para a personagem de Sweeney, Bea. O que funciona aqui é a comédia romântica pura e simples, onde vemos pessoas dentro dos padrões impostos de beleza, viajando pela Austrália e com motivos bastante fugazes para não aceitarem um relacionamento. Aquela bobagem de que gostamos.

Dessa forma, Todos Menos Você fica na corda bamba muitas vezes. É bonitinho quando se propõe a mostrar o amor de idas e voltas, mas perde a noção em piadas que caberiam em American Pie. Rende boas risadas quando faz graça da situação, mas perde toda sua força quando tenta encaixar um drama que não cabe ali.

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É um filme para passar o tempo, que sabemos o final desde a primeira cena, e que tem como mérito, acima de tudo, ajudar a resgatar esse gênero que estava se perdendo e que, agora, tem tudo para ser pop de novo.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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