Em uma videoconferência diretamente do espaço, o astronauta checo Jakub Procházka responde à pergunta ao vivo de uma garotinha na Terra. “Li que você é o homem mais solitário do mundo”, diz ela. O comandante nega. Apesar de estar há seis meses em uma missão solo nos confins de Júpiter, há comunicação a todo momento com a base de operações e com sua esposa, explica. Em O Astronauta, drama de ficção científica de Adam Sandler recém-lançado pela Netflix (e que figura entre os filmes mais assistidos no Brasil), a ação emerge da mente do protagonista, sendo os belos cenários intergalácticos meros coadjuvantes.
O semblante abatido não apoia a mensagem que tenta passar para a humanidade. Além das agruras do isolamento completo, o astronauta enfrenta, nos bastidores, dificuldades para falar com Lenka (Carey Mulligan), a mulher grávida que deixou para trás - ela quer pôr um fim na relação, mas sua mensagem em vídeo é interceptada para preservar a saúde mental delicada do marido. O casamento já andava em crise. Seis meses depois, ele sabe que algo está errado.
Nesse cenário aflitivo, Jakub ganha uma companhia inusitada: um ser alienígena em formato de aranha gigante (dublada por Paul Dano), que fala com ele com voz mansa e revela curiosidade para entender o ser humano. Depois de conquistar a confiança do astronauta, é apelidado de Hanus. Quer ajudá-lo com o sofrimento emocional causado pelo afastamento e força o homem a examinar memórias que ele evita a todo custo resgatar.
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Conversando com um inseto gigante enquanto flutua no espaço, Jakub se pergunta se está ficando louco. Seria o misterioso Hanus uma invenção de sua mente? É o questionamento posto, também, ao espectador. Não espere aventuras intergalácticas arrebatadoras, mas sobretudo uma jornada interna, existencial e um pouco monótona. No centro da trama está um quebra-cabeças psicológico que o personagem de Sandler tenta montar com lembranças que vão desde cenas da infância até os momentos em que o amor ainda prevalecia entre ele e Lenka. Tudo isso com a orientação de um terapeuta aracnídeo. Baseado no livro homônimo de Jaroslav Kalfar, o filme é dirigido por Johan Renck, que comandou a minissérie Chernobyl, da HBO.
Adam Sandler já provou que sabe fazer um papel sério tão bem quanto consegue arrancar boas gargalhadas da audiência, inclusive com Joias Brutas, outra parceria com a Netflix. Em O Astronauta, sua interpretação fica ainda mais soturna. Talvez, até demais, ao ponto de a introspecção do protagonista tornar o filme cansativo lá pelas tantas - momento em que uma piada bem entregue por Sandler faria bem.
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