Como ‘Matrix’ revolucionou os efeitos especiais no cinema

‘Bullet time’, cena em que Keanu Reeves desvia de tiros, se tornou referência; saiba como foi feita

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Foto do author Matheus Mans

Apesar da história inventiva e de todas as provocações sobre o futuro de um mundo cada vez mais tecnológico, Matrix até hoje é conhecido por conta de uma sequência: o momento em que Neo, personagem de Keanu Reeves, desvia de disparos de um arma de fogo em câmera lenta.

Essa cena, histórica para os cinemas, se vale de uma técnica chamada “bullet time” -- algo que, apesar da inovação do filme, é tão antiga quanto a própria sétima arte. Afinal, para rodar a sequência, a equipe de Matrix organizou um círculo ao redor do personagem de Keanu Reeves. Nesse círculo, câmeras milimetricamente organizadas tiraram fotos sucessivas do ator sendo apoiado em cabos e desviando das balas. Tudo isso com um fundo verde-limão: o famoso chroma key.

Em uma sequência que usa a técnica de "bullet time", Keanu Reeves desvia de balas enquanto a câmera passeia ao redor do ator Foto: Warner Bros.

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Eram 120 câmeras tirando fotos sucessivas de Neo. Nos bastidores, uma simulação tridimensional gerada por computador ajudou a produção a organizar a configuração das câmeras com o foco correto e, com um laser, para evitar que apontassem o aparelho para o lugar errado. Era importante, também, tirar a cena no momento certo. Senão, haveria falhas de posicionamento. Foi assim que cobriram 100% do cenário, em todos ângulos.

“A ‘bullet time’ é uma técnica que já existe desde o século 19, antes da criação da câmera cinematográfica. Afinal, para criar a sensação de algo se movimentando, profissionais tiravam várias fotos em sequência e depois as exibiam uma seguida da outra. É o princípio do cinema”, contextualiza Kapel Furman, cineasta brasileiro por trás do filme Anhangá e especialista em efeitos especiais. “O que Matrix fez foi colocar isso em um outro patamar”.

Depois, na pós-produção, começaram a finalização. Primeiramente, adicionaram as imagens do telhado ao chroma key -- uma gravação feita com os atores, simulando a cena, antes da realização da “bullet time”. Também adicionaram balas e, com as imagens de uma câmera de filmagem auxiliar, complementaram imagens que não ficaram perfeitas em cena.

Por fim, criaram a ilusão de Neo se movimentando com esse conjunto de fotos reproduzido a uma velocidade de 12 mil quadros por segundo -- lembrando que um filme roda, geralmente, a 24 quadros por segundo. Já a oscilação de movimento é resultado do espaçamento das câmeras organizadas no semicírculo. Quanto mais separadas umas das outras, elas desaceleravam a cena. Mas quanto mais próximas, a cena acelerava.

No vídeo abaixo, é possível conferir com detalhes os bastidores da cena e como filmaram Keanu Reeves desviou dos projéteis.

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“São, no mínimo, 24 câmeras, colocadas em uma posição que você quer sua cena. Só aí que elas disparam essas fotos em sequência”, continua Kapel. “O que torna o efeito caro é ter todas essas câmeras e, também, os disparadores para essas câmeras. Elas precisam disparar em velocidade precisa. Com isso, podemos dizer que a dificuldade da ‘bullet time’ é a execução técnica. Afinal, não é a tecnologia em si [que inova], mas a forma de usar”.

Apesar de ter ficado mais conhecida por conta da sequência de Neo desviando das balas, as “bullet times” foram usadas outras vezes no Matrix de 1999, como o chute de Trinity. 

Em Reloaded e Revolutions, a “bullet time” ganha complicações, assim como os desafios enfrentados por Neo na trama. A aceleração dessas sequências é triplicada e as criações em computador crescem -- são mil cenas criadas no digital em Reloaded, com 95% do filme contendo algum elemento digital. Esse desejo de aumentar o grau de dificuldade dos efeitos também encareceu o custo de produção. De acordo com números divulgados na época, US$ 100 milhões foram só para efeitos especiais dos dois últimos filmes. Um terço do custo.

No vídeo a seguir, mostrando os bastidores da produção, o técnico em efeitos especiais John Gaeta explica detalhes, em inglês, de como a cena e outras sequências de "bullet time" foram gravadas.

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