Conheça a história de Marilyn Monroe, musa do cinema que viveu e morreu atormentada

Há 60 anos, Marilyn Monroe era encontrada morta em sua casa; atriz é tema de filme estrelado por Ana de Armas com lançamento em setembro

PUBLICIDADE

São detalhes macabros, revelados anos depois pelo agente funerário que preparou o funeral de Marilyn Monroe. A star foi encontrada morta em sua casa, no 12305 Fifth Helena Drive, em Hollywood, na madrugada de 5 de agosto de 1962 – há 60 anos. Pela rigidez do corpo os legistas estimaram que havia morrido na noite de 4. A hipótese de suicídio foi corroborada pelo frasco vazio de barbitúricos encontrado ao lado da cama, onde Marilyn jazia de bruços, nua. Ela teria se matado por causa do vazamento de sua ligação com o então presidente dos EUA, John F. Kennedy. Tinha marcas no rosto, parecia uma velha descuidada da própria aparência. 

Esqueça tudo isso e concentre-se na imagem imortalizada pelo cinema.

Marilyn Monroe nos anos 1950; atriz morreu há 60 anos Foto: Reuters

PUBLICIDADE

Marilyn, loira, linda e sexy, foi o objeto de desejo do público masculino nos anos 1950. Havia nascido Norma Jean Baker, em 1º de junho de 1926. Portava o nome da mãe – seus pais nunca se casaram. Morreu aos 36 anos. Tornou-se conhecida ao posar nua para um calendário. Não era um bom cartão de apresentação na puritana Hollywood da época. Contratada da Fox, sua ascensão se fez por pressão do público.

Marilyn apareceu em pequenos papeis – em A Malvada/All About Eve, de Joseph L. Mankiewicz, e O Segredo das Joias/The Asphalt Jungle, de John Huston, ambos de 1950. Foi conseguindo papeis cada vez maiores, mas para o poderoso Darryl Zanuck, tycoon do estúdio, teria sido apenas uma acompanhante para os convidados que visitavam a Fox. 

Cena de 'O Segredo das Joias', de 1950 Foto: MGM

Contam-se histórias. Era falsa loira e passou por uma recauchutagem completa até virar ícone. Dentes, nariz, seios, tudo foi remodelado para atingir a perfeição. Existem relatos de que teria sido ninfomaníaca. Roy Ward Baker, que a dirigiu em Almas Desesperadas/Don’t Bother To Knock, de 1952, dizia ter sido impossível esclarecer se Marilyn fazia uma louca, ou se era louca de verdade.

Os papeis importantes continuaram vindo. Uma participação ainda pequena em O Inventor da Mocidade/The Monkey Business, de Howard Hawks, também de 1952, outra estelar em outra comédia do mesmo Hawks, Os Homens Preferem as Loiras, de 1953. Entre um e outro ela fez Torrentes de Paixão/Niagara, de Henry Hathaway, e as cataratas metaforizavam sua sensualidade irreprimível na tela.Emendou com Como Agarrar Um Milionário, de Jean Negulesco, e O Rio das Almas Perdidas, um poderoso western de Otto Preminger.

Marilyn começou a brigar no estúdio. Dizia que era atriz, queria ser respeitada como tal. Zanuck aumentava seus cachês, mas se recusava a lhe conceder o status de estrela. Salvou-a Billy Wilder, com O Pecado Mora ao Lado, de 1955. Como a vizinha da porta ao lado de Tom Ewell, que provoca nele a comichão dos sete anos (The Seven Years Itch, título original), enquanto sua família passa as férias na praia, não deu mais para segurar. Marilyn estourou, virou pop star. A cena em que o vento do metrô levanta sua saia e mostra a calcinha tornou-se icônica. Era o cúmulo da ousadia na época.

Publicidade

Vieram depois Nunca Fui Santa, de Joshua Logan, Quanto Mais Quente Melhor/Some Like It Hot, outro grande Wilder, Adorável Pecadora/Let’s Make Love, de George Cukor. Justamente Cukor era o diretor de Something’s Gotta Give, que era o filme que ela estava rodando quanto se matou. Suas imagens na piscina correram o mundo. Matou-se, ou foi morta? Não faltaram especulações. Marilyn estaria dividindo a cama com o presidente e um chefão mafioso. 

Jack Lemmon, Tony Curtis e Marilyn Monroe, em 'Quanto Mais Quente Melhor' Foto: MGM

Vale recapitular. Na Hollywood dos anos de ouro, nos anos 1930, Greta Garbo era "a" estrela. Inatingível, misteriosa, uma esfinge. Nos 50, com Marilyn, a estrela passou a exibir uma dimensão mais humana. Com Jane Fonda, nos 70, a estrela tornou-se política, militando nas ruas contra a Guerra do Vietnã, e indo ao coração do inimigo – Hanói – para se solidarizar com os norte-vietnamitas.

Marilyn e os homens. Casou-se com o jogador de beisebol Joe di Maggio e ele parece ter sido o único homem que a amou de verdade. Outro casamento, com o dramaturgo Arthur Miller, pode ser explicado pelas circunstâncias. Ele estava saindo do difícil período da caça às bruxas do macarthismo. Casar-se com a mulher mais desejada do mundo era... Uma compensação? 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Para Marilyn, era. Buscando reconhecimento, estar casada com um dramaturgo respeitado lhe dava um outro tipo de status. Ela foi estudar interpretação no Actor’s Studio, de Nova York. Ele escreveu para ela o roteiro de The Misfits, que John Huston filmou em 1961, com Marilyn, claro, Clark Gable, Montgomery Clift, Eli Wallach, Thelma Ritter. Marilyn e os brutos, domadores de cavalos em Nevada. Não seria ela própria a indomável? Uma decepção parece tê-la atingido duramente. Marilyn sonhava com o papel de Grushenka, e ofereceu-se a Richard Brooks quando ele fez sua adaptação de Os Irmãos Karamazov, em 1958. Ele preferiu a alemã Maria Schell. Marilyn passou por uma crise de decepção. 

Veio a comemoração do aniversário de Kennedy e ela cantou o Happy Birthday, Mr. Presidente naquele vestido colante de brilhos. Era o próprio presente de aniversário. A partir daí, a história precipita-se. Ela morre, mas o cinema perpetua a imagem da mulher desejada e desejável. James Dean, que morreu naquele acidente de carro, também virou para sempre a imagem do jovem rebelde. Marilyn, a deusa do sexo. Talvez não fosse o que ela quisesse. Viveu e morreu atormentada, dilacerada. Atriz e objeto de desejo.

Nos 60 anos de sua morte temos a oportunidade de investigar esse mito da tela, viajando na lembrança de seus grandes filmes. E tem mais. Em setembro, de 2 a 11 de setembro, realiza-se em Deauville o Festival de Cinema Norte-americano, que fornecerá a vitrine para o lançamento de Blonde. O longa de Andrew Dominik baseia-se no romance de Joyce Carol Oates, que retratou Marilyn dividida entre suas vidas pública e privada. Ana de Armas é quem faz o papel. Você pode jurar que se trata da própria Marilyn. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.