Opinião | ‘Coringa: Delírio a Dois’ põe o primeiro filme em julgamento e acerta no final chocante; entenda

Filme de Todd Phillips é um estudo sobre a própria reação ao longa original; texto com spoilers

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Por Julia Sabbaga

** O texto a seguir contém spoilers. Se você ainda não viu o filme, sugerimos voltar depois **

Depois de um sucesso estrondoso em 2019 com Coringa, Todd Phillips e Joaquin Phoenix retomaram a parceria para retornar com Coringa: Delírio a Dois, em 2024. Para quem está acostumado com Hollywood apostando no seguro para um repeteco do sucesso, a continuação é certamente uma surpresa: indo na direção oposta do primeiro filme, Coringa 2 não somente é um romance musical, como se coloca em julgamento pelas reações ao longa anterior.

Coringa: Delírio a Dois é um romance musical que coloca o primeiro filme em julgamento Foto: Warner Bros/Divulgação

Cinco anos depois de Coringa dividir opiniões entre quem considerou o filme uma incitação de violência e quem idolatrou o personagem, Phillips colocou as duas posições em embate. Enquanto Arthur é literalmente julgado em tribunal para responder pelos seus crimes, o caso é dividido entre os que o consideram uma ameaça perigosa de alto nível e os que o defendem como símbolo de liberdade. Neste contexto, Coringa (tanto o filme quanto o personagem) lida com a fama recebida por seus atos de violência, e cai na tentação de trazer o alter ego de volta como mecanismo de defesa.

Por mais que ele se afaste e se coloque em autoanálise, o que Delírio a Dois tem em comum com o seu antecessor, no entanto, é um final chocante. A conclusão da sequência pode não permitir interpretações diferentes como o primeiro filme, mas certamente abre uma deixa para imaginar o que se passará no futuro da Gotham de Todd Phillips.

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O final de Coringa: Delírio a Dois

Depois de passar pelo seu julgamento e atravessar o caos do centro de Gotham causado por um atentado de carro bomba, Arthur Fleck retorna ao seu estado inicial, no Asilo Arkham, possivelmente aguardando a sua pena de morte. É um estado de espírito relativamente tranquilo, julgando tudo que Arthur passou durante as duas horas de filme, e faz sentido depois que o personagem abandona a identidade de Coringa na frente da televisão e em julgamento. Mas por mais que o Coringa tenha deixado o corpo de Arthur, Delírio a Dois continua por alguns minutos que garantem a sobrevivência - não do personagem, mas da sua identidade.

Coringa: Delírio a Dois tem Joaquin Phoenix de volta ao personagem principal; o longa está em cartaz nos cinemas Foto: Warner Bros/Divulgação

Nos últimos momentos de Coringa 2, um prisioneiro que havia aparecido em curtos relances durante o filme finalmente decide tomar o centro e se aproximar de Arthur. Depois que o guarda da prisão, Sullivan, chama o protagonista por conta de uma visita, o sujeito misterioso distrai Arthur com uma longa piada e subitamente o ataca com diversas facadas.

Alguns detalhes são deixados em aberto: Coringa 2 não explica a origem do carro bomba (que pode ser apenas uma das ações dos seguidores do vilão) e nem revela quem seria o visitante que chegou para ver Arthur na prisão após sua sentença. O que ele deixa estipulado, no entanto, é que Arthur morre enquanto sua identidade de Coringa permanece viva, com o seu assassino continuando o seu legado. É um jeito emblemático de encerrar uma franquia cujo personagem principal viverá para sempre - mas de agora em diante, em outras produções e com outros atores.

Coringa: Delírio a Dois está em cartaz nos cinemas brasileiros.

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Opinião por Julia Sabbaga
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