O milagre de Dunquerque provocou em Winston Churchill uma reflexão dura: “Não se ganham guerras com retiradas”. No entanto, a afirmação realista se encontra naquele que é, provavelmente, seu mais famoso discurso de guerra: “Não nos renderemos”. Dunquerque é isso, um paradoxo: uma derrota catastrófica transformada em inspiradora vitória.
Não à toa. Dunquerque é uma das páginas mais bonitas da 2.ª Guerra – os pequenos barcos que se mobilizam para resgatar os soldados acuados na praia francesa. No início da operação – chamada Dínamo –, Churchill acreditava que conseguiria salvar no máximo 30 mil soldados dos 400 mil que lá estavam. Errou feio. Mais de 300 mil se safaram, escapando pelas pequenas embarcações – navios mercantes, barquinhos de pesca, iates de lazer – que, para salvar seus soldados, enfrentaram o Canal da Mancha e o cerrado bombardeio da aviação alemã.
Em Dunkirk, Christopher Nolan instala-se nesse cenário com os recursos para torná-lo uma experiência estarrecedora – imagens em 70 mm, profundidade de campo, quatro mil figurantes além dos atores principais, som que ressoa pela sala como se estivéssemos sob fogo. A ação é fragmentada em três níveis. Na praia, ao lado de soldados que tentam escapar e se tornam alvos da artilharia nazista. No ar, a bordo dos caças britânicos que duelam com os alemães e os impedem de causar estragos maiores. No mar, em uma dessas heroicas embarcações que viajam para Dunquerque – com um homem e dois filhos. A fragmentação no tempo, e na montagem, também contribui para imergir o espectador na confusão de uma batalha épica. Névoa da guerra, na expressão de Clausewitz.
Desse caos, no entanto, surge uma imagem límpida. De derrota virada ao avesso, aquela batalha se tornou um símbolo. O “espírito de Dunquerque” passou a significar a resistência a qualquer custo e os elos de aço de uma comunidade solidária. No individualismo acirrado de nossos dias, esses valores são virtualmente impensáveis.
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