Crítica: em ‘Rebel Moon’, texto fraco e roteiro caótico estragam visuais incríveis e som de primeira

Uma história precisa mais do que técnica para ser bem contada e, enquanto Zack Snyder dirige muito bem, talvez devesse contratar um roteirista para escrever diálogos menos clichês e pedantes

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Foto do author Simião Castro

O cineasta Zack Snyder desperdiçou a oportunidade da vida. Ele vende Rebel Moon como o grande projeto que sempre quis fazer. Pensado como um spin off de Star Wars, o filme foi recusado pela Disney após a compra dos direitos da saga de George Lucas. Talvez já tivessem previsto o que viria.

O diretor de Liga da Justiça ficou livre para criar uma história nova de batalhas intergalácticas. Mas o talento de montar visuais incríveis não salvam o texto e o roteiro caóticos, de um longa que deveria ter sido feito para o cinema e ficará preso às telinhas que rodam a Netflix a partir de 22 de dezembro. Outro desperdício.

Esse, porém, pode ser um erro positivo para Snyder. Na exibição em celulares, computadores e televisões, o CGI ruim em muitos momentos pode passar batido. E olha que os piores exemplos são justamente quando as naves aparecem no espaço. É como se ficassem descoladas do fundo. E feitas de resina.

Nave decola em cena de Rebel Moon Foto: Netflix/Divulgação

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O efeito é inaceitável em 2023. Especialmente quando a referência principal é Star Wars, que no final dos anos 1970 tinha algo como dois reais e um palito de dentes para viabilizar os efeitos impactantes que produziu. Foram US$ 166 milhões investidos para as duas partes de Rebel Moon.

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O filme começa até bem, com uma aura meio O Senhor dos Anéis tanto no cenário campestre quanto na trilha e efeitos sonoros - os grandes ativos da película. Mas aí os personagens abrem as bocas e o que jorra é um conjunto interminável de frases feitas.

O texto cresce na tela como erva daninha. Contamina discursos pseudomotivacionais dignos de coaches do TikTok. E transforma os diálogos em verborragias melosas, forçadas, clichês e pedantes. Melhor se fosse mudo.

Ed Skrein como Atticus Noble (segundo da direita para a esquerda) é vilão impiedoso em 'Rebel Moon' Foto: Divulgação/Netflix

E o clichê não fica restrito às palavras. Depois de apresentar muito originalmente e com uma beleza absurda os primeiros personagens, chega a nave dos vilões e a forma de mostrar isso não poderia ser mais batida.

Sabe aquela cena em que alguém chega de carro, abra a porta e a câmera vai gradativamente fechando de planos abertos até chegar a um close-up no pé do intérprete? Mais repetido impossível, certo? Só que aqui o pezinho é o trem de pouso da nave. De rolar os olhos.

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Outro problema são as evidentes tentativas de homenagem a filmes do gênero, desde a ficção científica, passando pela fantasia até a aventura. A cena da taberna, por exemplo, não aterriza como inspiração na de Star Wars, soa como cópia mesmo.

Quando um personagem tenta domar uma criatura alada alienígena, a gente vê apenas Harry Potter se curvando ao hipogrifo. Pior ainda quando totalmente do nada os mocinhos chegam a um planeta desconhecido e de repente assistem uma luta meio sem cabimento com uma enorme aranha - tal qual como Laracna ou Aragogue. Este, definitivamente, o ponto mais baixo do roteiro errático.

Desafio de montar criatura alada em 'Rebel Moon' parece mais cópia de 'Harry Potter' ao invés de inspiração ou homenagem Foto: Netflix/Divulgação

O filme não faz jus nem à excelente heroína que tenta construir. Kora (Sofia Boutella) navega da carinha de cachorro que caiu da mudança - expressão muito adequada de uma amiga, que indica falha na direção - a uma rebelde implacável, porém super expositiva.

Sofia e o intérprete do vilão, Ed Skrein, entregam muito, principalmente nas cenas de ação. E ele é a encarnação do mal, como o impiedoso Almirante Atticus Noble. Um primor. No que, aliás, é outro ás do projeto: o elenco. Escolhido a dedo e muitíssimo bem escalado.

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Sofia Boutella, como Kora, acaba por entregar pouco em razão do texto raso do diretor e roteirista de 'Rebel Moon' Foto: Netflix/Divulgação

Infelizmente, os tecnológicos cenários que parecem conter apenas crepúsculos e a boa vontade dos atores não compensam a narrativa irregular. E com parte dois já prevista para 19 de abril de 2024, nem dá tempo de corrigir os erros.

Vale para um sábado à tarde, sem mais nada para fazer, com uma pipoquinha com bacon e coquinha gelada. Mas só.

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