Crítica: ‘Licorice Pizza’ é um dos melhores na briga pelo Oscar, e não só deste ano

É o único filme em língua inglesa que pode competir seriamente com Ataque dos Cães no Oscar.

PUBLICIDADE

Paul Thomas Anderson possui 48 créditos como diretor no IMDb, a maioria por seus vídeos musicais com Fiona Apple, Jon Brion, Joanna Newson, Radiohead e Haim. Ainda nos anos 1990, ele começou a se destacar com Boogie Nights – Prazer Sem Limites e Magnólia. Em 2002, só a covardia do júri impediu que ele vencesse em Cannes – ou que, pelo menos, Adam Sandler fosse premiado como melhor ator – por Embriagado de Amor. Seguiram-se Sangue Negro e O Mestre, que não são tão bons e foram superestimados. A partir de Vício Inerente, livremente adaptado de Thomas Pynchon, PTA, como é chamado, retomou seu melhor nível. Trama Fantasma é maravilhoso. Licorice Pizza talvez seja melhor ainda. 

Cooper Hoffman e Alana Haim em 'Licorice Pizza'. Foto: Metro Goldwyn Mayer Pictures Inc.

É o único filme em língua inglesa que pode competir seriamente com Ataque dos Cães no Oscar. Entre o filme de Jane Campion e o prêmio da Academia, estão PTA e o japonês Ryusuke Hamaguchi, de Drive My Car. De cara, Licorice Pizza já apresenta suas armas. Gary Valentine/Cooper Hoffman vê chegar a sexy Alana Haim – vocalista da banda nos clipes do diretor – e a convida para sair. Ela é mais velha do que ele. Gary passa o filme insistindo para terem uma relação, ela o desencoraja. Chega a se questionar: “Por que estou saindo com esse moleque de 15 anos?”. Passam o filme nesse vai não vai, até que algo, no desfecho, finalmente acontece.  PTA é atraído pela pornografia, sempre foi. Basta lembrar de Boogie Nights e de Embriagado de Amor. Toda a confusão em que Adam Sandler se mete é por ter ligado para um serviço de sexo por telefone. Gary vem do mundo do espetáculo. Monta um negócio de colchões d’água. Alana recebe os pedidos pelo telefone. Ele a incentiva a segurar o interesse do cara que está chamando. Alana geme, e suspira, como se estivesse na cama com o autor do pedido. Em Boogie Nights, os bastidores já eram do cinema (de sexo). Mark Wahlberg era o cara com uma genitália descomunal. Os bastidores dessa vez evocam Quentin Tarantino – Era Uma Vez em Hollywood.  Alana sai com Jack/William Holden, interpretado por Sean Penn. Ele vive falando de sua ligação com Grace Kelly no filme de guerra A Ponte de Toko-Ri, de Mark Robson, de 1954. Gary vai parar na casa de Jon Peters. Barbra Streisand vira personagem remota.

Sean Penn, à esquerda, eAlana Haim em cena. Foto: Melinda Sue Gordon/Metro Goldwyn Mayer Pictures Inc.

Na realidade, nos anos 1970, ela namorou o tal Peters, que foi o produtor de Nasce Uma Estrela, que ela fez com Kris Kristofferson. Bradley Cooper é quem faz o papel, valendo lembrar que dirigiu – e interpretou – a versão mais recente de A Star Is Born, com Lady Gaga. O Peters da ficção não pode ver rabo de saia. O real sofreu cinco acusações de assédio.  Como um cara que ainda precisa amadurecer, Gary vive decepcionando Alana. Quando ela vai trabalhar com um jovem político de perfil idealista, ele usa informação privilegiada para tentar se beneficiar. Logo será a vez de Alana descobrir... Veja para saber do que se trata. O filme é dos melhores do Oscar e não só deste ano. Se o diretor já conhecia Alana dos clipes, Cooper Hoffman também faz parte da família. É filho de Philip Seymour Hoffman e ganhou o Oscar por Capote. Ainda resta um mistério. Que raios de título é Licorice Pizza? No Brasil, ganhou o acréscimo de O Parque dos Sonhos.  Diz a lenda que o termo surgiu numa comédia de Abbott e Costello, em que a dupla tenta vender discos de vinil. “Bem, podemos polvilhar amido de milho no fundo e vender os discos passando por pizzas de alcaçuz.” É uma explicação possível. No filme, o preço do petróleo dispara e o problema é que discos e colchões são feitos de seus derivados. Pode ser outra coisa – Licorice Pizza foi uma cadeia popular de lojas de discos na Califórnia, entre 1969 e 86, cobrindo os anos de infância, e juventude, de PTA, o período do filme. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.