‘O Assassino’ tem Michael Fassbender afiado e Sophie Charlotte em presença relâmpago; leia crítica

Diretor David Fincher mostra poder de seu cinema meticuloso em filme que reverte expectativas de uma história sobre um assassino profissional. Longa estreia nesta quinta nos cinemas e dia 10 de novembro na Netflix

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Por Matheus Mans

Um assassino (Michael Fassbender) está parado, atrás de uma janela, por horas a fio. Ele espera pacientemente, alternando entre o sono que surge do nada e a observação paciente de seu alvo – aparentemente, alguém que mora no apartamento do outro lado da rua. De uma hora pra outra, a espera se transforma em ação: o alvo chega em casa e o assassino prepara a arma. Atira. A bala atravessa a rua. E tudo dá errado quando ele erra.

Essa é a premissa de O Assassino, novo longa-metragem de David Fincher que chega aos cinemas em circuito limitado nesta quinta-feira, 26 de outubro, e na Netflix em 10 de novembro. A partir desse erro inesperado, tanto para nós, espectadores, quanto para o próprio personagem interpretado por Fassbender (Shame), o longa-metragem se torna uma corrida contra o tempo. O erro de mira se torna um risco iminente para o personagem.

Sohpie Charlotte diz pouco

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É, acima de tudo, uma desconstrução das histórias de filmes sobre assassinos de aluguel. Histórias como O Profissional, O Procurado e até mesmo John Wick costumam trazer os assassinos profissionais como figuras absolutamente controladas e que, mais do que isso, sempre estão um passo à frente de seus alvos – mesmo quando as coisas estão saindo do controle, como em Hitman. Fincher, enquanto isso, cria uma figura que precisa ter esse tal controle em mãos, a todo custo, mas que não necessariamente está controlando a ação.

Assim, ao longo de quase duas horas, O Assassino traz um roteiro ritmado, em que o protagonista vivido por Fassbender vai atrás das pontas soltas do que aconteceu antes e que rendeu um efeito violento contra sua esposa - vivida pela brasileira Sophie Charlotte. A presença dela é relâmpago, com cerca de três minutos de tela, em uma atuação consistente, mas com pouquíssimo a dizer.

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De um lado, a estrutura do roteiro se torna um pouco cansativa: dividido em capítulos, o texto se torna exageradamente episódico, com o personagem resolvendo um problema atrás do outro, quase sem conexão entre eles. Inicialmente, dá até a impressão de que o filme poderia ser uma série de televisão, com as vinganças do personagem se sucedendo.

Michael Fassbender é um matador em 'O Assassino', novo filme de David Fincher que chega aos cinemas e à Netflix Foto: Netflix/Divulgação

Fincher na berlinda

O fato, porém, é que o longa-metragem ganha muito pela direção criativa e ousada de Fincher. Ele não apenas desenvolve um personagem que parece estar sempre à mercê do ambiente, apesar de tentar parecer ter controle de tudo que faz, como também cria uma ambientação que impressiona: o cenário parece estar sempre fora de ordem, provocando o personagem sem nome do ator, e instigando-o a agir contra o que o perturba.

O som de O Assassino, por exemplo, faz parte essencial da experiência – por isso é tão interessante assistir ao longa-metragem no cinema. Com um bom som, você consegue distinguir a respiração do protagonista, que tenta controlá-la a todo o custo, mesmo quando está bastante nervoso.

Ou, então, te dá as notas de tensão quando ele entra em uma casa para se vingar e, do nada, um brutamontes chega com passos pesados, que estremecem a atmosfera. Essa, aliás, já é a melhor cena de luta de 2023, sem sombra de dúvida.

Ambientação de 'O Assassino' parece estar sempre fora de ordem, provocando e instigando constantemente o personagem de Michael Fassbender Foto: James Paterson/Netflix

Um filme sobre ordem e obsessão

O Assassino é mais do que uma história sobre vingança, é um filme sobre ordem. Isso fala muito sobre o próprio David Fincher: o cineasta, conhecido por filmes como Clube da Luta, Se7en, A Rede Social e Zodíaco, é famoso por ser um profissional que gosta de manter tudo sob controle. Dirige cenas repetidas vezes até atingir a perfeição (e a exaustão dos atores).

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Mesmo sendo inspirado em um livro escrito por Alexis Nolent, e roteirizado para a telona por Andrew Kevin Walker, O Assassino parece Fincher falando sobre obsessão.

Obsessão pela perfeição, pelo acerto, pela meticulosidade, pela previsão. Como será, para Fincher, errar? Mank, ainda que tenha sido indicado ao Oscar, é um filme que dividiu bastante as opiniões – para mim, o grande fracasso da carreira do cineasta.

Som de 'O Assassino' é parte essencial da experiência do longa Foto: James Paterson/Netflix

Será que ele sentiu o gostinho de fazer algo que não era o esperado? Se o resultado disso for O Assassino, está mais do que perdoado. O erro do passado gerou um filme belíssimo.

Afinal, se valendo de um tipo de história que já apresentava certo cansaço, David Fincher inovou e criou uma trama que, mesmo episódica, sabe como te deixar tenso – pelos sons do lugar, pela respiração artificialmente controlada de Fassbender, pelo cenário que oprime e provoca.

É cinema em essência, com Fincher fazendo o que sabe fazer de melhor: contando histórias completamente malucas e que, mesmo prezando pela ordem, sabem trazer um pouco de caos para o cinema contemporâneo, cada vez mais chato e quadrado.

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