Que belíssima temporada de premiações temos pela frente. Além do muito provável embate entre os sucessos Barbie e Oppenheimer, dá para dizer que o Oscar de melhor ator já não é mais tão certo para Cillian Murphy. O seu principal oponente chega na figura do ator Paul Giamatti no filme Os Rejeitados, agradável surpresa de 2024 que estreia nesta quinta-feira, 11.
Dirigido por Alexander Payne (de ótimos filmes como Sideways, Os Descendentes e Nebraska), ele começa como mais um filme sobre opostos que são obrigados a conviver. Aqui, um professor (Giamatti, vencedor do Globo de Ouro pelo papel), um aluno (Dominic Sessa) e uma cozinheira (Da’Vine Joy Randolph) são obrigados a passar as festas de final de ano juntos na escola vazia, enquanto todos estão com a família. Afinal, não há para onde ir para celebrar.
Parecido, mas não tanto
Nos primeiros 30 minutos, Os Rejeitados parece que vai seguir pelo caminho de ser uma cópia, mesmo que não totalmente similar, do já clássico Sociedade dos Poetas Mortos. Está tudo ali: o ambiente escolar desafiador e austero, um professor não compreendido, alunos que se rebelam e tentam encontrar algo para se segurarem enquanto o mundo passa.
Só que Paul Hunham, o professor vivido por Giamatti, é muito diferente do professor vivido por Robin Williams. Não há uma ânsia em ser um “capitão”, mas sim uma espécie de general. Hunham pune pelo prazer de punir, como se seu passado estivesse sendo expurgado quando um aluno engole o choro ou, ainda, quando passa péssimas notas.
O aluno, em contrapartida, também não é como Ethan Hawke e Robert Sean Leonard — rebeldes com causa. É um burguês, com uma vida boa, mas que, por um motivo que nos foge, é deixado de lado por sua família no fim de ano. Ainda tem a cozinheira, vivendo o luto, mas que acaba sobrando na narrativa — apesar da atuação magnífica de Da’Vine Joy, que rendeu um Globo de Ouro à atriz.
O fato é que Payne não quer trabalhar as diferenças, mas as semelhanças. Não quer falar sobre a relação do professor com o aluno, mas sim sobre a troca que pode acontecer entre quaisquer seres humanos, com suas dores, perdas, aflições, medos e sonhos.
Os Rejeitados, assim, não é exatamente um filme sobre opostos que se atraem, como parece no início, mas sim sobre semelhantes que se repelem. As dores de cada um são específicas, e vão se revelando na meia hora final, mas todas elas se ancoram em um vazio existencial poderoso, seja olhando para o passado, para o presente ou para o futuro.
Aqueles que esperam
Payne, no final das contas, constrói um Sociedade dos Poetas Mortos às avessas. A figura de autoridade some — mesmo uma tão interessante como a de Williams — para surgir um senso de camaradagem que mergulha na profundidade e complexidade da alma.
Quando pensamos no título em inglês, The Holdovers, não é correto pensar apenas nos personagens que estão impedidos de continuar para suas casas. Há também uma questão de espera emocional — todos eles precisam resolver pontas soltas de seus passados para que possam avançar, saindo dessa dolorosa marcha de espera.
Um filme aparentemente simples, sobre esses azarões presos em um colégio abastado, mas que encontra nessa simplicidade uma forma de falar sobre temas tão profundos das relações humanas quanto Oppenheimer e Assassinos da Lua das Flores, outros dois grandes possíveis competidores da temporada.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.