Taron Egerton canalizou um deus do pop na cinebiografia de Elton John Rocketman, ganhando elogios – e um Globo de Ouro – por sua interpretação de como um tímido prodígio do piano se transformou em um superstar internacional.
Mas em seu último papel, como um traficante de drogas condenado no novo drama da Apple TV + Black Bird, ele não tinha óculos escuros extravagantes ou boás de penas para tirar quando as filmagens terminavam todos os dias. Para Black Bird, que é baseado em uma história real, ele teve que conseguir algo mais sombrio: as confissões de Larry Hall, um homem condenado pela morte de uma garota que era suspeito de ter sequestrado, estuprado e matado muitas outras.
“Por mais que tenha sido uma ótima experiência criativamente, houve dias em que fui para casa sentindo que não queria mais ouvir aquelas coisas”, disse Egerton, cuja tarefa do personagem é extrair essas confissões, em uma recente chamada de vídeo de sua cozinha em Londres.
Egerton, 32, que emprestou sua voz comovente de tenor para personagens tanto extravagantes (John) quanto peludos (o gorila da montanha Johnny no musical animado Sing), poderia ter escolhido praticamente qualquer papel musical depois de Rocketman. E depois há aquela aparência maravilhosa e olhos verdes penetrantes, que parecem implorar por uma capa e uma roupa colante.
Ao contrário disso, ele queria que seu próximo grande papel fosse um que mostrasse ao mundo que ele era mais do que um homem da música e da dança.
"Eu queria fazer algo que fosse realmente diferente de Rocketman",ele disse. “As pessoas tendem a pensar em você ligadas à última coisa que você fez. Elas não querem correr o risco de dar a um ator um papel que elas não viram alguma versão anterior.”
Ele o encontrou no thriller psicológico Black Bird, uma minissérie de seis episódios que o autor e roteirista Dennis Lehane (Sobre Meninos e Lobos) adaptou do livro de memórias da prisão In With the Devil, escrito por James Keene com Hillel Levin.
A série, que estreia em 8 de julho, centra-se em Egerton como Jimmy Keene, a quem é oferecida a chance de comutar sua pena de 10 anos de prisão com apenas uma condição: ele deve convencer Hall (Paul Walter Hauser) a dizer a ele onde enterrou o corpo de pelo menos uma menina desaparecida, e talvez mais uma dúzia delas.
“Um papel como Jimmy – ou, de fato, um papel como Elton – são absolutamente os papéis que eu quero na minha carreira”, disse Egerton. “Isso não quer dizer que tudo o que eu quero fazer tenha que ser pesado e sombrio – definitivamente sou atraído por essas coisas – mas é muito, muito nutritivo criativamente ter uma escrita assim porque faz você querer trazer absolutamente o seu melhor.”
Egerton nem sempre foi tão animado sobre atuar. Ele nasceu em uma família da classe trabalhadora britânica, com um pai que administrava uma pousada em Liverpool e uma mãe que trabalhava na área de serviços sociais. Eles se divorciaram quando ele tinha 2 anos, e ele se mudou com sua mãe para o País de Gales.
Quando ele tinha 12 anos, mudou-se para uma parte diferente do País de Gales, Aberystwyth, o que o deixou se sentindo desesperadamente solitário. “Perdi todos os amigos que tinha quando criança quando me mudei”, ele disse. “Eu era bastante convencido e confiante, mas isso era para mascarar a insegurança que eu estava sentindo.” Ele não se interessou em atuar até os 15 anos. “Era tanto sobre tentar ser social e fazer amigos quanto sobre o interesse em atuar”, ele disse.
Mas a atuação vingou. Depois de se formar na Royal Academy of Dramatic Art em 2012, ele conseguiu alguns papéis menores, atuando em uma produção teatral de The Last of the Haussmans no National Theatre em Londres e aparecendo nos dramas de TV britânicos Lewis e The Smoke.
Então veio sua grande chance: o diretor Matthew Vaughn (Kick-Ass: Quebrando Tudo, X-Men: Primeira Classe) o escalou como o rato de rua que vira espião Eggsy no filme britânico de comédia e ação Kingsman: Serviço Secreto, de 2014.O papel fez dele um co-protagonista, ao lado de Colin Firth, apesar de Egerton nunca ter estado em um set de filmagem.
“Ele veio e fez um teste perfeito”, disse Vaughn por telefone. “Ele era Eggsy. Eu gostei desse lado dele no papel porque o papel de Eggsy também era sobre estar em um mundo em que você nunca esteve e amadurecer.”
Logo após o sucesso do primeiro filme Kingsman, que arrecadou mais de US$ 414 milhões em todo o mundo, ele conseguiu papéis em Voando Alto, no filme de animação da Disney Sing e na sequência, Kingsman: O Círculo Dourado.
Então ele passou por uma fase difícil, primeiro no papel-título da adaptação de Otto Bathurst de Robin Hood em 2018, e depois como o antagonista do drama criminal biográfico O Clube dos Meninos Bilionários, de 2018. Ambos foram fracassos de bilheteria criticamente satirizados.
“Ignorei meus instintos nesses dois trabalhos porque me ofereceram muito dinheiro para fazê-los”, ele disse. “E isso é simplesmente fatal. Você não pode escolher papéis dessa maneira.”
“Mas eu sinto que deveria ser mais gentil comigo mesmo”, continuou. “Eu era um garoto de 25 anos que foi criado por uma mãe solteira com muito pouco dinheiro. Eu queria ganhar dinheiro, não apenas para mim, mas para as pessoas que são importantes para mim. E por mais que eu não tenha ficado satisfeito com o resultado desses dois filmes, posso ver muito claramente, em retrospecto, por que os fiz.”
As coisas mudaram com Rocketman, para o qual ele aprendeu a tocar piano e cantou muitos de seus números ao vivo.
“Ele tem uma voz incrível”, disse Dexter Fletcher, que dirigiu Rocketman. “Mas ele também era um ator que estava disposto a ir para um lugar onde não tinha medo de se fazer de bobo. Ele não estava focado em ser esse cara descolado, insensível e bonito.”
Vaughn, que foi produtor de Rocketman, disse acreditar que o papel ajudou a provar que Egerton poderia "literalmente desempenhar qualquer papel".
“Ele está em um clube raro, raro”, acrescentou Vaughn. “Hugh Jackman é o único outro cara que é genuinamente uma estrela da ação e uma estrela musical.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.