‘Deu vontade de chamar a Fernanda Torres de mamãe’, diz Veroca Paiva após ver ‘Ainda Estou Aqui’

‘Estadão’ conversou com a filha mais velha de Eunice e Rubens Paiva. A psicóloga é personagem importante no filme de Walter Salles que que chega aos cinemas nesta quinta, 7

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Foto do author Danilo Casaletti

O casal Rubens (1929-1971) e Eunice Paiva (1929-2018) teve cinco filhos. Além do escritor Marcelo Rubens Paiva, outras quatro meninas. A mais velha é Vera Paiva (1953) - ou Veroca, como era chamada pelos pais, irmãos e amigos.

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No recorte da história adaptada para o filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que chega aos cinemas nesta quinta, 7, Veroca é uma adolescente. Ao contrário dos irmãos mais novos, que viviam a rotina de praia, casa e escola, Veroca já tinha consciência do que ocorria no Brasil durante a ditadura militar.

Em uma cena do filme, ela e os amigos são parados em uma blitz do Exército em um túnel no Rio de Janeiro. Os violentos militares procuravam sequestradores. O alívio vinha por meio da música. Veroca gostava de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa.

Veroca e o irmão Marcelo Rubens Paiva, com familiares, na pré-estreia de 'Ainda Estou Aqui', na Mostra de Cinema de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Preocupada com o endurecimento e a perseguição do regime militar e o crescente interesse de Veroca em movimentos de resistência, Eunice decide mandar a filha para Londres, com um casal de amigos. É na Europa que ela sabe do desaparecimento no pai.

No filme, Eunice é interpretada por Fernanda Torres e Rubens Paiva por Selton Mello. O filme tem ainda Fernanda Montenegro em uma participação especial. O papel de Veroca coube a duas atrizes, em diferentes fases: Valentina Herszage e Maria Manoella.

Valentina Herszage como Veroca Paiva em 'Ainda Estou Aqui' Foto: Sony Pictures/Reprodu

Veroca conversou com o Estadão durante a pré-estreia de Ainda Estou Aqui em São Paulo, em 18 de outubro. A psicóloga é bastante parecida com a mãe, Eunice, que morreu em 2018, aos 86 anos. “Você achou? Antes, eu não era. Agora, mais velha, talvez”, diz ela à reportagem.

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Era a segunda vez que ela assistiria ao filme que conta a história de sua família. A primeira foi no Festival de Veneza, em setembro. Ainda Estou Aqui ganhou no prêmio de melhor roteiro no festival, um dos mais importantes do mundo, e abriu o caminho para ser o indicado brasileiro a disputar uma vaga no Oscar 2025.

“Preciso ver novamente (para processar). Mas me chamou atenção ver a casa novamente (onde a família morou, na zona sul do Rio de Janeiro) e a Fernanda Torres, que é uma excelente atriz. Deu vontade de chamá-la de mamãe”, diz Veroca.

Questionada pela Estadão se o filme traz alguma redenção para a família Paiva, Veroca respondeu: “Para minha mãe, principalmente. É uma homenagem às mulheres lutadoras. São elas, na verdade, que seguram a barra no Brasil. Sempre!”.

Veroca, que trabalha na Comissão de Mortos e Desaparecidos e com temas como verdade e memória e violência de Estado, afirma que o tipo de violência que seu pai sofreu ao ser torturado e morto pela ditadura continua a ocorrer até os dias atuais. “São as mães de Acari, as mães de Brumadinho... São essas mulheres que seguram a tocha do luto de perder filhos e maridos. Então, esse filme é importantíssimo para o Brasil.”

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A psicóloga traça outro paralelo com a atualidade. Embora a morte de Rubens Paiva tenha sido reconhecida pelo Estado em 2013, a história não terminou. Seus restos mortais não foram localizados até os dias de hoje. Ninguém foi condenado pela sua morte. “Enquanto não há punição, há a repetição de fatos como o dele”, diz.

Ela segue: “Quase ocorreu a mesma coisa com (o indigenista) Bruno e o (jornalista britânico) Dom-Phillips (ambos assassinados em uma emboscada na Amazônia, em junho de 2022). Eles quase se tornaram desaparecidos. Os corpos deles não seriam encontrados. É para isso que quero chamar atenção”, diz Veroca.

Filme original do Globoplay, Ainda Estou Aqui tem roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega.

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