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Diretores de documentário querem levar moradores de rua ao Oscar

'Espero que no dia da cerimônia possamos mostrar um pouco dessa convivência e conscientizar sobre essa humanidade que está ali, literalmente do outro lado da rua', disse o brasileiro Pedro Kos

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Por Andrew Marszal
Atualização:

Uma noite por ano, Hollywood recebe todo o glamour do Oscar, mas sua Calçada da Fama é onde diariamente pessoas em situação de rua vão dormir.

Esses mundos totalmente contrastantes se encontrarão no próximo mês graças ao desejo dos diretores de um documentário sobre a crise dos sem-teto, indicado ao prêmio, de convidar seus personagens para o tapete vermelho.

'Onde Eu Moro' tem codireção do brasileiro Pedro Kos e concorre ao Oscar de melhor documentário em curta-metragem em 2022 Foto: Netflix/Divulgação

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“Espero que no dia da cerimônia possamos mostrar um pouco dessa convivência e conscientizar sobre essa humanidade que está ali, literalmente do outro lado da rua, e que ignoramos há muito tempo”, disse o brasileiro Pedro Kos, codiretor do curta-metragem Onde Eu Moro.

"Esperamos poder levar dois ou três deles conosco", acrescentou seu parceiro na direção do filme, o americano Jon Shenk, em entrevista à AFP.

O documentário, disponível na Netflix, segue durante três anos várias pessoas desabrigadas e em situação de vulnerabilidade em Los Angeles, São Francisco e Seattle.

Mostra de forma íntima suas rotinas e suas dificuldades nas ruas, assim como suas esperanças de sair delas.

Entre as pessoas que acompanham está Luis Rivera Miranda, um homem de meia-idade que tem um cachorro e que começa um romance com uma mulher também sem-teto; e Ronnie "Astaire do futuro" Willis, que dança na Hollywood Boulevard na frente de turistas como seu ganha-pão. 

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"Ele tem uma história extraordinária: alguém com formação clássica em dança que dançou com Janet Jackson, coreografou o sucesso 'Thong Song'”, de Sisqo, e "viveu tempos muito difíceis, infelizmente, por várias razões", explicou Kos. 

Segundo os cineastas, parte do problema é que muita gente vê as pessoas vivendo nas ruas de forma desumanizada e se convence de que elas são os responsáveis por sua tragédia.

Ao abordar as causas que as empurraram para as ruas, o filme elenca vários fatores, como deficiências, rejeição de suas famílias por serem trans e depressão.

"Esperamos que o documentário possa fornecer uma nova perspectiva, que dê um rosto ao que está acontecendo", continuou Shenk. "Eles são americanos, são nossos vizinhos, têm direitos, são pessoas."

O cineasta brasileiro Pedro Kos, que dirige o curta-metragem Onde Eu Moro (Led Me Home) com o americano Jon Shenk Foto: Acervo Pedro Kos

Os diretores abraçaram seus personagens e ganharam sua confiança trabalhando com organizações de apoio aos moradores de rua.

Em vez de entrevistá-los diretamente, Shenk colocou sua câmera em abrigos onde pessoas desabrigadas participaram de entrevistas de "análise de vulnerabilidade", e saiu da sala para permitir que discutissem mais livremente sua situação.

Shenk e Kos não propõem uma solução para esse problema, o que cabe às autoridades dos municípios, mas acreditam que simplificar a enorme burocracia dos programas sociais disponíveis para os sem-teto poderia ser um começo.

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O documentário aponta que a política de não despejo adotada durante a pandemia da covid-19 irá expirar em breve, possivelmente agravando ainda mais a crise.

"Não temos dúvidas de que estamos passando por uma gigantesca crise humanitária nos Estados Unidos", ressaltou Shenk.

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