Walt Disney está morto há quase 57 anos. Nas próximas semanas, porém, ele começará a receber visitantes de museus em dois continentes.
Como parte do marketing extravagante de seu 100º aniversário, a Walt Disney Co. usou vídeos de arquivo e ferramentas de inteligência artificial para criar um holograma realista de seu fundador - um avatar digital em tamanho real que fala com a voz de Walt Disney e aparece como parte de exposições interativas de obras de arte, adereços e figurinos da Disney que percorrerão o mundo até pelo menos 2028.
“Fico arrepiada toda vez que o vejo”, disse Becky Cline, diretora dos Arquivos da Disney.
Espera-se que centenas de milhares de pessoas comprem ingressos - e a Disney, mais do que nunca na memória recente, precisa que elas saiam com uma emoção semelhante: Ah, sim, a marca mágica de entretenimento que combina nostalgia com “como será que eles fizeram esse truque técnico?”. Vamos ver um filme da Disney, comprar lençóis da Disney e passar férias em um parque temático da Disney.
Por décadas, o público tem dito exatamente isso. Mas em uma reviravolta que teria parecido absurda apenas alguns anos atrás, a celebração do centenário da Disney chega em um momento em que a formidável posição da empresa na cultura começa a mostrar algumas rachaduras.
Cinco anos atrás, quando Cline começou a pensar nas exibições do museu Disney100, a Disney estava atingindo novos patamares nas bilheterias e desfrutando da compra de ativos da 21st Century Fox por US$ 71,3 bilhões. Agora, a Disney está cortando US$ 5,5 bilhões em custos e eliminando 7 mil empregos enquanto luta para enfrentar as perdas no streaming, a erosão da lucratividade da TV tradicional e as dívidas da pandemia e da aquisição da Fox.
A Disney continua sendo uma superpotência de bilheteria - Avatar: O Caminho da Água arrecadou US$ 2,2 bilhões em todo o mundo - mas seus dois últimos filmes de animação, Mundo Estranho e Lightyear, tiveram um desempenho muito inferior. Em novembro, a Disney demitiu seu CEO e tirou Robert Iger da aposentadoria para retomar o comando.
A Disney também se tornou uma pinhata política entre os conservadores, em parte porque adicionou personagens abertamente gays, lésbicas e queer a seus filmes de animação. O governador Ron DeSantis, da Flórida, que atacou a empresa como “woke Disney” (algo como “Disney ativista”), assumiu na semana passada o controle do conselho que supervisiona o desenvolvimento do Walt Disney World, um movimento que tira a Disney da autonomia que ela desfruta há 56 anos.
A consequência: para a Disney, um pouco de polimento da marca (ou muito) pode não acontecer tão rapidamente.
“É uma oportunidade única para a Disney lembrar as pessoas sobre a amplitude e a profundidade do que ela faz, ao mesmo tempo em que reforça as conexões emocionais com seus personagens e produtos”, disse John Wentworth, professor adjunto de marketing de entretenimento no Emerson College. “Isso tudo parece especialmente importante agora.”
A Disney começou a comemorar seu 100º aniversário em setembro na D23 Expo, uma convenção de fãs em Anaheim, Califórnia. Bob Chapek, o CEO da empresa na época, prestou homenagem a Walt e Roy Disney, os irmãos que fundaram a empresa em 1923, e declarou que “10 décadas de criatividade, inovação e determinação” resultaram no “nome mais duradouro e amado no entretenimento”. Mercadorias do centenário - orelhas da Minnie mergulhadas em platina, broches de edição limitada, produtos exibindo filmes da Disney das décadas de 1930 e 1940 - foram colocados à venda.
A campanha ganhou força no mês passado, quando a Disneylândia se cobriu de bandeiras roxas e platinadas e abriu uma nova atração focada em Mickey e Minnie. No último domingo, 12, a Disney teve um espaço de 90 segundos durante o Super Bowl; o comercial destacou a história da empresa de “narrativa e inovação” e mostrou cenas comoventes de crianças vestidas como princesas da Disney e brincando com sabres de luz de Guerra nas Estrelas. Também incorporou a voz de Walt Disney, agradecendo artistas, trabalhadores e fãs. (Uma onda de adoração à Disney imediatamente invadiu o Twitter, embora algumas pessoas apontassem o momento estranho, um comercial chegando quase em sincronia com as demissões. Um porta-voz da Disney disse que a empresa usou os créditos de publicidade devidos pela Fox para cobrir o custo de veiculação do comercial.)
Existem duas exposições do museu Disney100. Uma versão estreia no Franklin Institute, na Filadélfia, no sábado, e vai até 27 de agosto. Em seguida, ela fará uma turnê por Chicago, Kansas City e outras cidades da América do Norte. Uma segunda exposição Disney100, idêntica em design geral, será inaugurada em Munique em 18 de abril e se mudará para Londres no outono antes de seguir para “outro lugar no mundo”, disse Cline.
Os ingressos no Franklin Institute custam de $ 25 a $ 45, dependendo da hora do dia, da idade e se os visitantes querem ver o museu inteiro ou apenas a parte da Disney.
Cada uma das exposições de 15.000 metros quadrados terá 250 itens em exibição, com os clássicos Disney como foco. A turnê na América do Norte inclui parte do livro de histórias que abre Branca de Neve e os Sete Anões (1937), uma maquete para o castelo da Cinderela na Disney World e o globo de neve “Alimente os Pássaros” de Mary Poppins (1964), que Cline chamou de “muito, muito querido para mim”.
Os filmes da Marvel, a franquia Guerra nas Estrelas e os sucessos da Pixar também foram incorporados, juntamente com referências às divisões da Disney, como National Geographic e ABC. “Queremos garantir que todos tenham a oportunidade de aproveitar toda a exposição, não apenas sua época”, disse Cline, observando que a exposição é organizada por tema (a importância da música para o conteúdo da Disney, fontes de inspiração) e não cronologicamente. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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