Documentário avalia a relevância de Sigmund Freud

O pesquisador Francisco Capoulade procura fazer um amplo balanço da psicanálise desde os tempos heroicos até a atualidade

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Para começar, o título é assim mesmo: “Hestórias” da Psicanálise. Mescla “história” e “estória” – esta com sua conotação ficcional sancionada por Guimarães Rosa – Primeiras Estórias, Outras Estórias, etc.

Obra procura fazer um balanço da contribuição de Freud Foto: Reprodução

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Como documentário, Hestórias da Psicanálise procura fazer um balanço da descoberta de Freud, desde os tempos heroicos da psicanálise até a atualidade. Algumas perguntas funcionam como balizas e são respondidas por psicanalistas e estudiosos, brasileiros e estrangeiros: “Por que ler Freud hoje em dia?”. “A psicanálise ainda é relevante, mesmo diante das neurociências?”, etc.

O filme é dirigido pelo psicanalista e pesquisador Francisco Capoulade. Sobre o documentário, deve-se dizer que, em muitos momentos, é visualmente monótono. As entrevistas sucedem-se, na base de talking heads (cabeças falantes). Em geral, enquadradas com estantes de livros atrás. É um vício de linguagem documental. Sempre que se entrevistam intelectuais (e psicanalistas não deixam de sê-lo), busca-se associá-los aos livros, estes signos do saber. Ok, só que fica repetitivo e vira um clichê visual.

Mas, de maneira geral, o que eles têm a dizer é bem interessante. Em primeiro lugar, situando Freud em seu tempo histórico. Época cientificista, sendo ele próprio um cientista, mas que produz um saber que não se reduz à ciência, no sentido positivista do termo. Sendo a psicanálise uma disciplina da linguagem, é bem possível pensar que avance em paralelo às neurociências, sem que uma anule a outra.

Nesse sentido, é significativo que a questão das traduções da obra de Freud ocupe grande espaço no documentário. Este foi sempre um problema, no Brasil e outras partes. Freud escrevia bem demais e era dono de estilo particular e nada dogmático. Ensaiava algumas hipóteses e avançava meio que hesitante, mas levando o leitor pela mão. Não fechava questões, pelo menos se elas não estivessem bem resolvidas em sua cabeça. E, mais de uma vez, terminou um ensaio de maneira aberta.

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Esse estilo todo próprio buscava os termos comuns da língua alemã. Evitava o jargão. O tradutor para o inglês, James Strachey, optou por uma versão “cientificista”, cheia de termos técnicos, talvez para dar impressão de que a psicanálise fosse uma ciência natural. Com isso, engessou a prosa fluida de Freud. A primeira edição brasileira das obras completas de Freud é baseada nesta edição inglesa. Por isso, muito criticada. Muitos psicanalistas dizem que se você leu Freud na edição brasileira da Standard, então não conhece Freud. Não cheguemos a tanto. Conhece um Freud, porém à inglesa e traduzido de segunda mão.

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