Documentário examina sutilezas de Luis Fernando Verissimo: ‘Captar o indizível, os pequenos gestos’

‘Queria fazer um filme que não estivesse no Google ou na Wikipédia’, diz diretor ao ‘Estadão’; ‘Verissimo’, sobre um homem e a passagem do tempo, estreia nos cinemas

Atualização:

Em Hollywood, os documentários sobre escritores famosos estão em alta. Apenas no ano passado, John Le Carré e Tom Wolfe foram analisados em O Túnel de Pombos e Radical Wolfe, respectivamente - projetos elogiados pela comunidade literária. Além deles, há os exemplos da veterana Fran Lebowitz, investigada na minissérie Faz de conta que NY é uma cidade (2021), da Netflix, e do célebre crítico de cinema Roger Ebert, alvo de Life Itself (2014).

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O Brasil agora também segue essa tendência, com um olhar autoral a respeito de quem é Luis Fernando Verissimo, escritor e ex-colunista do Estadão.

Verissimo foge do estilo biográfico cronológico e se interessa mais pelas sutilezas do cotidiano de um senhor prestes a completar 80 anos do que por esmiuçar a obra de uma das mais brilhantes mentes brasileiras, cristalizada em clássicos como O Analista de Bagé, Ed Mort e Outras Histórias, entre outros.

O novo trabalho documental, que estreou no festival É Tudo Verdade, maior festival dedicado ao gênero na América Latina, chega aos cinemas nesta quinta, 2.

Documentário 'Verissimo' em exibição no Festival É Tudo Verdade. Foto: Festival É Tudo Verdade/ Divulgação

“A proposta era captar o indizível, o inaudito, o que está nos pequenos gestos. E assim como a obra do Verissimo, tentar fazer uma espécie de apoteose do pequeno”, explica o diretor Angelo Defanti ao Estadão.

Praticamente não há roteiro no filme-crônica de 90 minutos, filmado durante 15 dias, que segue o dia a dia do autor que hoje está com 87 anos e vive recluso.

Com várias câmeras espalhadas pela casa da família Verissimo, acompanhamos a rotina nada extraordinária do personagem-título: exercícios físicos diários, exames médicos, passatempos com os netos, partidas de Paciência no computador, entrevistas as quais não é capaz de recusar e reclamações sobre o mau futebol do Internacional – seu clube do coração.

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Perguntado se teme entediar os telespectadores com essa escolha ousada, Defanti se mostra seguro. “Entediar? Não, de forma alguma. Acho que o documentário não corre esse risco”, opina.

O filme acaba sendo não exatamente sobre um escritor, é sobre um homem e a passagem do tempo. A pessoa não precisa conhecer a obra do Verissimo. Os fãs não ficarão carentes porque não tem texto do Verissimo, porque a obra do Verissimo também é muito acessível. Isso, talvez, abra margem até para comentar do meu acordo com o próprio Luis Fernando e com a família, de que eu queria fazer um filme que não estivesse no Google ou na Wikipédia.

Defanti, diretor do documentário

Angelo Defanti (diretor), Verissimo e Barbara Defanti (produtora) Foto: Sinny Assessoria/Divulgação

O cineasta carioca já dirigiu dois curtas-metragens baseados em contos de Verissimo – Feijoada Completa (2012) e Maridos, Amantes e Pisantes (2008); além de seu primeiro longa-metragem de ficção, O Clube dos Anjos (2022), com Matheus Nachtergaele, Marco Ricca e Paulo Miklos, baseado no romance homônimo do cronista gaúcho.

“O Verissimo é de uma literatura muito inventiva. Cada pequena crônica dele tem realmente um novo universo proposto. Ele ficou um pouco calcificado no audiovisual com A Comédia da Vida Privada [série da TV Globo, produzida entre 1995 e 1998], que eu acho uma grande adaptação. Então, eu gostaria também que as pessoas buscassem tentar transmutá-lo de outras maneiras”, afirma o diretor.

Verissimo hoje está afastado da escrita devido a um AVC sofrido em 2021, que deu fim a uma colaboração com o Estadão iniciada em 1988.

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