ANSA - O público da 79.ª edição do Festival de Cinema de Veneza se emocionou nesta segunda-feira. 5, com a exibição do documentário In Viaggio, do cineasta italiano Gianfranco Rosi, sobre o papa Francisco.
A produção do ganhador do Leão de Ouro de 2013 conta a história dos nove anos de pontificado de Jorge Bergoglio em 37 viagens, do Brasil a Cuba, dos Estados Unidos à África, até o sudeste da Ásia.
Rosi apresenta “imagens fixas da atualidade e da história mais recente em um imenso material utilizado com extrema liberdade”, incluindo os discursos do Papa sobre os pobres, a natureza, a migração, a dignidade, a guerra e a pedofilia na Igreja.
“Foi uma experiência de vida. É um Papa que fala aos crentes e aos não crentes. Nunca posso esquecer o seu olhar sobre as Filipinas depois da tragédia do tufão quando encontrou os pobres”, lembrou.
Durante a entrevista, o cineasta italiano precisou falar mais alto para cobrir os gritos dos fãs do cantor e compositor Harry Styles, que participou da exibição do filme “Não se Preocupe, Querida”.
“Não pense que é diferente quando o papa Francisco se move, os gritos são os mesmos: ele é mesmo um Papa Rock”, acrescentou Rosi ao apresentar o documentário fora de competição.
Segundo o italiano, ele teve “liberdade absoluta” para gravar as imagens e “seis meses para decidir se faria ou não” o documentário. “Então, selecionei cerca de 200 horas de material das 800 originais e me vi tendo que montar por um ano para chegar a um resumo de 80 minutos. E isso para um filme que ainda está ‘aberto’, explicou.
In viaggio estreará nos cinemas no próximo dia 4 de outubro, e de acordo com Rosi, “este filme não está terminado”. “A guerra na Ucrânia mudou as coisas. Se o Papa partir para Kiev, estarei lá”.
Questionado sobre os encontros com Francisco após as gravações, Rosi contou que o religioso pediu para eles se reunirem uma vez. “Depois fui a Malta para cumprimentá-lo, mas devo dizer que o que mais me impressiona, além de suas palavras, são seus silêncios”, lembrou.
“Entre as melhores lembranças estão as de seu viagem ao Canadá, onde o pontífice se desculpou publicamente pelo que os missionários haviam feito aos nativos e chegou a falar de um ‘holocausto cultural’”, acrescentou.
Por fim, Rosi explicou que fazer o documentário “foi uma experiência de vida, mas também um ato de humildade”. “Sofri, por exemplo, quando vi certos materiais de repertório de TV mal filmados pensando em como eu os teria feito. O que mais me impressionou nele é sua capacidade de se expressar a vários níveis, isto é, com os jornalistas, com as pessoas na rua, com outras autoridades religiosas”.
“Tudo o que Bergoglio diz para mim como leigo é um mundo que ainda me pertence, porque são discursos universais que muitos políticos deveriam adotar”, concluiu.
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