Uma cidade em que os quatro elementos vivem em harmonia. Não estamos falando da série animada Avatar, mas da animação Elementos, da Pixar, que estreia nesta quinta-feira, 22. Na história, Ember Lumen (Leah Lewis) vive com seus pais, imigrantes, na Zona do Fogo, onde eles moram, passeiam, trabalham... É como uma região de uma grande metrópole ocupada por imigrantes.
Por conta de um acaso provocado por seu temperamento (literalmente) explosivo, Ember conhece Wade (Mamoudou Athie), um ser de água. De repente, eles se tornam amigos e se apaixonam. Ember precisa esconder esse amor porque seu pai não suportaria vê-la com um ser da espécie “água”.
Está colocada a trama, que se assemelha a uma releitura de Romeu e Julieta. O amor proibido (e por que não dizer, impossível?) vai fazê-los descobrir soluções para problemas e conhecer, além de um ao outro, as possibilidades que existem quando nos permitimos experimentar o diferente.
Imigrantes
A história de amor é transpassada pelo preconceito. Não é apenas o pai de Ember que não gosta de se misturar. Muitas outras “pessoas” na Cidade dos Elementos olham para os seres de fogo com alguma ojeriza, como se eles fossem um problema. Em uma das cenas, Ember lembra que foi impedida de entrar em um ambiente quando criança porque “pessoas como ela” não eram permitidas.
“Era muito importante tentar capturar algo autêntico. Muitas dessas coisas eu vivenciei em primeira mão. Tenho pais imigrantes e cresci em Nova York, onde havia muita xenofobia, mas nem tudo era escuridão”, conta Peter Sohn, diretor da animação que é filho de imigrantes coreanos. A história do filme também tem um pouco de sua, já que seus pais, assim como os de Ember, abriram uma mercearia na cidade depois de imigrarem. “Momentos em que você se conecta com algo de uma cultura diferente é uma das coisas mais bonitas do mundo. Tenho dois filhos de ascendência mista e tudo o que quero que eles vejam é que, por meio da empatia, o mundo se abrirá”, continua.
Essa é uma das mensagens do filme, que, segundo a produtora Denise Ream, nem foi intencional. “Se eu tivesse filhos, gostaria que eles fossem abertos, aceitassem e tivessem empatia por todas as pessoas”, explica. “Nós não pretendemos fazer um filme de mensagem, mas foi impressionante ver como a história de Peter era tão parecida com a de muitas pessoas com quem trabalhamos na Pixar, de todas as partes do mundo, mas com histórias e experiências muito semelhantes”, continua.
Cooperação e empatia para salvar o dia
Além do amor entre diferentes, que ensina muito sobre diversidade, a história também fala sobre cooperação. É o trabalho em conjunto entre Ember e Wade que faz alguns problemas se resolverem. Apesar de desastres ainda poderem acontecer mesmo com tudo resolvido.
Ao se conhecerem, os personagens olham mais para suas diferenças, em vez de observarem suas semelhanças, talvez porque o que os difere é mais gritante e superficial do que o que os coloca em par de igualdade. E apesar disso, eles aceitam a ajuda um do outro.
“Sempre sai algo melhor disso, a riqueza da conexão, da diversidade e o aprendizado para descobrir mais é a essência da vida”, opina Peter. Sinto que às vezes o mundo parece um pouco mais fechado hoje em dia, mas (o filme) sempre foi para tentar encontrar um pouco de coração nisso tudo”, segue.
Denise pontua que a produção do filme durou sete anos e que, de alguma forma, este é também um filme cheio de esperança. “Vimos três presidentes dos EUA nesse período, começando com Obama e terminando com Biden, o mundo estava realmente mudando e foi interessante trabalhar nesse tipo de história quando estávamos vendo tanto antagonismo e, francamente, doía no coração assistir a tudo aquilo”, diz. Então, pensamos: ‘Bem, se pudermos colocar algo esperançoso no mundo isso não seria a pior coisa, certo?’ É por isso que estamos muito orgulhosos dele”, encerra.
“Foi um trabalho de amor e espero que o público possa se divertir com o filme”, finaliza Peter.
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