Em comédia romântica lésbica para as festas de fim de ano, Kristen Stewart se olha no espelho

Atriz contracena com Mackenzie Davis para dar um pouco de conforto natalino, com um toque LGBT da diretora Clea DuVall e de sua colega de ‘Veep’, Mary Holland

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Por Melena Ryzik

Ninguém imagina que uma comédia romântica de Natal vá ser renegada. E, ainda assim, Happiest Season, sobre um casal interpretado por Kristen Stewart e Mackenzie Davis, consegue ser ao mesmo tempo profunda e calorosamente convencional e surpreendentemente radical, pelo simples fato de se concentrar num casal de mulheres.

Mackenzie Davis e Kristen Stewart em'Happiest Season' Foto: Lacey Terrell/Hulu

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“Só queria que fosse uma história muito, muito identificável - mas também completamente nova”, disse Clea DuVall, a diretora e co-roteirista com Mary Holland, que também estrela o filme no papel de uma irmã meio maluca.

DuVall, que também é atriz (Veep), disse que seu papel na seminal comédia Nunca Fui Santa, de 2000, na qual ela interpretou uma adolescente lésbica mandada para um acampamento de conversão, a ajudou a sair do armário. Ela assumiu para a mãe no dia de Natal e criou Abby, a personagem de Stewart, a partir de sua própria história. A produção incluiu outras estrelas LGBTQ, com Daniel Levy como o melhor amigo de Abby e uma trilha sonora interpretada por artistas queer, cortesia do produtor Justin Tranter.

Elas filmaram no frio de Pittsburgh - DuVall queria muito aquela luz de inverno - acabando tudo apenas duas semanas antes de a covid virar a vida de todo mundo de cabeça para baixo.

Numa recente entrevista por vídeo, DuVall, Stewart, Davis e Holland - brilhando de diferentes localidades, com os cachorros de Stewart latindo de vez em quando ao fundo - falaram sobre sentirem falta umas das outras e o fato de ainda não terem pegado o jeito das entrevistas por Zoom. (“Ontem eu botei na visualização por galeria, mas depois fiquei olhando para a minha cara o tempo todo”, admitiu Davis).

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Happiest Season, que estreia no Hulu no dia de Ação de Graças, foi o último grande projeto para todas elas - uma cápsula do tempo embrulhada de presente. “Os filmes de Natal são muito específicos e viram parte de nossas vidas de uma maneira diferente dos outros filmes”, disse DuVall. “Nenhuma de nós aqui tinha ideia do quanto precisaríamos desse conforto quando o filme fosse lançado”.

Aqui vão trechos editados da conversa.

Kristen e Mackenzie, no começo, suas personagens têm um relacionamento muito fofo e uma química verdadeira. Vocês construíram uma história de fundo para criar essa intimidade?

Kristen Stewart: Um pouco antes de começarmos a filmar, acho que nós duas tivemos algumas conversas. Ficamos pensando: nós nos conhecemos na faculdade? Você é mais velha?

Mackenzie Davis: Conversamos muito sobre nossas próprias experiências de relacionamento atuais ou passados, sobre o que gostamos, sobre coisas que pareciam realmente específicas das nossas vidas. Para mim, isso é mais importante do que aquela lista de verificação tipo: nós nos conhecemos em tal lugar, nossos grupos de amigos se fundiram desse ou daquele jeito... Essas coisas são importantes até certo ponto, mas não aparecem da mesma maneira que...

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KS: Que o jeito como você chama a atenção da outra pessoa.

MD: Exatamente.

KS: Sempre achei que, se nos sentíssemos sólidas, poderíamos ser um casal inspirador e muito autoconfiante, de um jeito que acabasse com qualquer tipo de desconforto ou homofobia internalizada que inegavelmente aparecem em casais do mesmo sexo em projetos comerciais. Tipo, a gente parecia lésbica? Ou éramos apenas duas mulheres apaixonadas que entrariam num filme de Natal?

Falem um pouco mais sobre a caracterização das personagens LGBT na tela, em comparação com a maneira como elas têm sido representadas historicamente.

KS: Tenho muita experiência com pessoas confusas - e com esse negócio de achar que a confusão era minha. É tipo, sinto muito, mas você precisa se atualizar. Às vezes eu não usava salto quando era mais jovem [e este fato era muito comentado]. Escolhas de guarda-roupa - ficou cada vez mais evidente que o visual realmente importa, porque isso foi violentamente usado contra mim.

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Sabe de uma coisa? A palavra “lésbica” tem uma conotação negativa para mim, da qual estou tentando me livrar agora, porque cresci naquela de dizer, tipo, oh, não, não sou lésbica. Porque ainda não tinha saído com garotas. Mas, tipo, era uma coisa violenta. Em retrospecto, só porque tenho muitos privilégios de praticamente todos os outros tipos, isso não significa que eu não tenha que reconhecer que era um saco, uma coisa que parecia uma dor física.

Por isso, foi importante para mim reconhecer isso neste filme e ficar tipo: ei, vou convidar as pessoas a me conhecer, gentilmente, em vez de me sentir alimentando uma alienação pela qual fui sugada por toda a minha vida.

Clea DuVall: Acho que as pessoas nem percebem como a homofobia é uma coisa galopante e também casual. E realmente tem um impacto duradouro.

Eu gostei muito de fazer este filme com Kristen, porque senti que ela poderia entender de uma forma que muitas pessoas não conseguem. Tive muita sorte no início da minha carreira por estar em ‘Nunca Fui Santa’ e pela primeira vez interpretar uma personagem que se parecia comigo - e ver isso pela primeira vez [na tela] também foi muito importante. Criar Abby foi uma maneira de trazer esse tipo de especificidade de volta aos filmes.

 Kristen e Mackenzie, como vocês equilibram a graça com os grandes arcos emocionais do filme?

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MD: Clea nos dizia isso o tempo todo: não tentem fazer disso uma coisa que não é. Não evitem o grande romance e não evitem a comédia pastelão e não evitem os grandes momentos emocionais, porque todas essas coisas juntas fazem parte desse gênero. Então, embora seu instinto como atriz seja fazer tudo de um jeito mais tranquilo e silencioso, todas essas coisas realmente brilham quando você investe o máximo em cada um desses elementos.

KS: Esse ir e voltar entre a comédia e os momentos de emoção ou de sofrimento foi meio traumático para mim. Eu já estava furiosa com a Mackenzie todo dia de manhã.

Dan Levy tem uma cena memorável falando sobre o processo de se assumir. Como esse momento se desenvolveu?

CD: Sua fala foi quase uma reflexão tardia. Eu estava precisando criar diferentes facetas nos testes para ver se esse ator conseguia fazer drama.

E então comecei a pensar: ah, essa talvez seja a parte mais importante do filme. E foi uma coisa que eu nunca tinha articulado de verdade para mim mesma. Porque eu assumi e acho que depois meio que apaguei o processo. Então, fiquei pensando nisso e essa fala veio à tona - e ele fez tudo de um jeito tão lindo, eu ficava assistindo na tenda e só chorava.

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KS: Além do Dan, eu estava tão nervosa! Ele é muito engraçado. Eu não o conhecia. E fiquei tipo, cara, será que ele vai achar que eu sou uma idiota? Será que vamos nos dar bem? Porque eu tive experiências com comediantes que no começo você pensa, oh, isso vai ser muito divertido, e depois você pensa, na verdade, eu meio que me sinto mais idiota perto dessa pessoa. E as pessoas realmente engraçadas têm um tipo de vantagem.

Dan é a pessoa mais engraçada e calorosa e acolhedora e verdadeiramente observadora e neurótica que conheço, sem nunca derrubar ninguém, nem parecer esquisito ou negativo. Eu ficava tipo, ah, cara, vai ser muito fácil amar esse cara.

Este filme me fez perceber que há uma certa tensão e um alívio que podem ser bons, mas que você trabalha melhor quando tem apoio e se sente vista. Em vez de lutar para se sentir vista - o que também adorei fazer, mas estou superando. Eu não tenho mais energia para isso.

Além disso, é muito bom assistir a um filme em que as piadas são muito familiares para mim e para minhas amigas, piadas sobre relacionamentos entre duas garotas. É muito bom tirar o peso de coisas que doem, porque isso significa que você pode libertá-las. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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