Em 'Fortaleza Hotel', uma amizade meio torta, cheia de problemas, que nasce do acaso

Duas mulheres malpostas na vida se conhecem em circunstâncias adversas

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio

Duas mulheres, a princípio sem nada em comum, se encontram em Fortaleza Hotel, novo longa de Armando Praça. A brasileira Pilar (Clébia Souza) e a coreana Shin (Lee Young-Lan) se conhecem no hotel do título, estabelecimento que, pela aparência, já deve ter conhecido dias melhores.  A situação é assimétrica. Pilar é camareira e Shin, hóspede. A brasileira estuda inglês com vista a uma futura viagem. A coreana veio do seu país para receber o corpo do marido, que trabalhava no Brasil e apareceu morto em circunstâncias estranhas.  As duas se aproximam por obra do acaso. Shin surpreende Pilar estudando inglês com um gravador. Ela precisa do idioma, pois pretende se estabelecer na Inglaterra. Shin necessita de uma intérprete, pois não articula sequer um bom dia em português e tem de se virar para cuidar do traslado do corpo do marido. 

Cena do filme Fortaleza Hotel, com acoreana Lee Young-Lan e a brasileira Clébia Souza Foto: Vitrine Filmes

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A armação dramática de Fortaleza Hotel é bem sólida. Duas mulheres malpostas na vida se conhecem em circunstâncias adversas. De outra maneira, jamais ouviriam falar uma da outra. Desse acaso nasce uma amizade meio torta, cheia de problemas e alguns mal-entendidos. A comunicação é difícil. Mais do que a barreira de línguas, um oceano de cultura as separa. Mas existe também aquilo que as une: a solidariedade, a irmandade entre mulheres.  As duas atrizes desenvolvem química perfeita ao contracenar. Complementam-se no que têm de diferente. Fazem dessa alteridade o suporte e a razão de ser do filme. Mas seria injusto não destacar a extraordinária atuação de Clébia Souza, uma luz na tela.  Para relatar com realismo essa amizade um tanto enviesada, Praça evita certos clichês. Foge dos cartões-postais de Fortaleza. Situa-se no centro da cidade e em um hotel decadente. Não esconde o lado mais obscuro da “terra do sol” e nem a violência urbana. Nada é idealizado e a câmera segue esse registro por vezes documental. Tudo é lindo, mas também tudo expressa ruína, decadência, abandono. Sim, você adivinhou – uma fotografia sem retoques do Brasil. 

AVALIAÇÃO: ÓTIMO

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