Em 'Treze Vidas', Ron Howard conta história do resgate de time de futebol em caverna tailandesa

Ron Howard aprendeu anos atrás em 'Apollo 13' que saber o resultado de uma história é diferente de saber a história em si

PUBLICIDADE

Por Lindsey Bahr

Pode ser uma etiqueta comum não dar spoiler do final de um filme, mas Ron Howard aprendeu anos atrás em Apollo 13 que saber o resultado de uma história é diferente de saber a história em si. E embora o resgate do time de futebol masculino tailandês e de seu treinador em 2018 esteja consideravelmente mais recente em nossas memórias coletivas, Howard viu nele uma oportunidade semelhante.

'Treze Vidas' mostra o resgate dos adolescentes que ficaram presos em uma caverna na Tailândia. Foto: Vince Valitutti/Metro Goldwyn Mayer Pictures via AP

PUBLICIDADE

“Você pode saber com base nas manchetes que as coisas deram certo, mas você não sabe que tipo de lutas pessoais os personagens principais vivenciaram'', disse Howard. "Através da dramatização, por meio de boas atuações e cenas e filmagens, você começa a se conectar emocionalmente com os personagens de uma forma que você simplesmente não consegue com um documentário direto ou com uma cobertura jornalística."

A história foi, de certa forma, feita sob medida para um filme de Hollywood com seu final feliz e atos diretos de heroísmo. A saga de 18 dias já inspirou um grande documentário, The Rescue, e vários outros projetos.

Mas a realidade de fazer Treze Vidas, agora em exibição nos cinemas em cidades selecionadas e disponível na Prime Video, foi um empreendimento extremamente complexo e às vezes angustiante. Até Howard disse que está no "quadrante superior" de seus filmes mais desafiadores.

Publicidade

E não se tratava apenas das dificuldades de filmar o perigoso mergulho nas cavernas nos estreitos corredores subaquáticos de Tham Luang, que foram recriados para o filme pela designer de produção Molly Hughes, mas de contar as histórias de todas as pessoas que ajudaram a tornar uma missão impossível bem sucedida.

Como todos rapidamente perceberiam, havia algumas pessoas dignas do foco da câmera. Havia os mergulhadores britânicos e os SEALs da Marinha tailandesa, é claro, mas também os pais, os meninos e o treinador na caverna, os funcionários públicos que administravam a crise e os milhares de voluntários estrangeiros e locais que contribuíram de maneiras maiores ou menores.

"Eu me senti um pouco como um maestro", disse Howard. “Logisticamente, foi muito complicado. E eu senti uma responsabilidade mais profunda de acertar isso em nome dos envolvidos do que provavelmente em qualquer outro filme que fiz baseado em fatos reais.''

O diretor Ron Howard foi o responsável por trazer para as telas a história que chamou a atenção do mundo inteiro. Foto: Vince Valitutti/Metro Goldwyn Mayer Pictures via AP

Por causa das restrições de viagem em decorrência da covid-19, a maior parte das filmagens ocorreu em Queensland, Austrália, com fotografia adicional na Tailândia que Howard teve que dirigir remotamente. Foi um obstáculo para ele, porque a prioridade era garantir que a história fosse tão autenticamente tailandesa quanto possível. Ele recrutou uma equipe de artistas e produtores tailandeses para ajudar, incluindo o grande diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame Pelo Seu Nome).

Publicidade

“Eu sabia que isso não era a única coisa certa a fazer, mas eu senti que seria, você sabe, terrível se errássemos'', disse Howard.

Outro foi o produtor Raymond Phathanavirangoon, que foi encarregado de aprofundar o roteiro de William Nicholson (Gladiador) com detalhes e nuances da cultura do norte da Tailândia, desde a maneira adequada de estilizar um monge birmanês visitante, até o uso de orações e sotaques regionais.

"Grande parte do filme é em tailandês, o que é bastante incomum para um filme de Hollywood", disse Phathanavirangoon. “Nós tentamos meticulosamente acertar os sotaques. Mesmo no cinema tailandês, raramente se ouve as pessoas falarem com sotaque do norte.''

Naturalmente, porém, há um foco nos mergulhadores britânicos que direcionaram os meninos e o treinador para fora da caverna um por um. Os papéis atraíram nomes como Viggo Mortensen (como Rick Stanton), Colin Farrell (como John Volanthen) e Joel Edgerton (como Dr. Harris), que desenvolveram relacionamentos próximos com seus colegas da vida real.

Publicidade

"O que eles fazem por diversão está além da minha compreensão", disse Farrell. “Eles realmente são exploradores subterrâneos. E falando com eles, acho que o mais incrível foi a normalidade que eles exalam. Eles não são viciados em adrenalina.''

Lá dentro, o plano era que os atores fizessem alguns mergulhos nas cavernas e o trabalho fosse complementado por dublês. Haveria um supervisor de mergulho, Andrew Allen, e um diretor de fotografia subaquática, Simon Christidis.

Mas em algum momento do intenso treinamento de três semanas, foi tomada a decisão de que os próprios atores fariam a maioria das cenas da caverna.

"Eu meio que culpo o Viggo", Farrell riu. “Foi ele que insistiu que deveríamos fazer isso. Mas era tudo ou nada.''

Publicidade

Stanton e Jason Mallinson (interpretado no filme por Paul Gleeson) também estavam no set, e muitas vezes na água ao lado dos atores que os orientavam durante o processo. E às vezes era assustador, especialmente para Farrell, que disse que não é o nadador mais hábil.

“Foi o mais seguro e controlado possível. Mas houve algumas vezes que foi bastante estressante'', disse Farrell. “Um ataque de pânico em grande escala talvez não tenha sido exatamente o que eu tive, mas houve momentos de ansiedade, uma ansiedade muito real. Acho que estou descrevendo um tipo de ataque de pânico, embora leve.''

Mas todos também estavam cientes de que sua experiência era apenas uma pequena fração das apostas de vida e morte da missão real. Não era um set, disse Mortensen, onde as pessoas reclamavam dos burritos do café da manhã, do café ou do clima, especialmente com os mergulhadores de verdade por perto.

“Era uma demanda grande. Foi difícil'', disse Tom Bateman, que interpreta o mergulhador Chris Jewell. “Mas estamos apenas segurando a vela para algumas pessoas incríveis. Ninguém nunca reclamou.''

Publicidade

Da esquerda para a direita, Viggo Mortensen (capacete vermelho), Joel Edgerton, Tom Bateman, Colin Farrell e Thiraphat Sajakul no set de 'Treze Vidas'. Foto: Vince Valitutti/Metro Goldwyn Mayer Pictures

E em Treze Vidas, todos compartilhavam um senso de propósito. Afinal, é um raro exemplo de altruísmo e colaboração global na vida real que não precisava ser muito dramatizado.

“Estou muito feliz por estar nele não apenas por ser de Ron Howard e uma grande história de aventura, mas também porque é muito divertida. Mas é uma história importante'', disse Mortensen. “É um exemplo importante de pessoas fazendo a coisa certa juntas e uma enorme quantidade de pessoas se voluntariando desinteressadamente pelas razões certas, para o bem comum, e isso é notável nos dias de hoje.''

“Isso deveria ser mais comum do que o comportamento egoísta, ganancioso, com sede de poder, competitivo e desonesto, que é exemplificado por muitos líderes ao redor do mundo. Quando você vê as pessoas não fazerem isso, você diz: 'Ah, sim, os humanos são capazes disso. É possível.' Por que não ter mais disso? Não é apenas um filme de Hollywood. É como, 'Ah, isso realmente aconteceu. Essas pessoas fizeram isso juntas''', acrescentou. “Isso é o melhor de nós.'' /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.